capítulo II. 🔞

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— Você ainda tem duas perguntas. — disse Diego em dado momento.

O ambiente estava impregnado de uma calma que só a madrugada proporciona. Já haviam conversado sobre tantas coisas, assuntos que os fizeram se conhecer mais profundamente, como se cada palavra trocada fosse uma peça a mais no quebra-cabeça de quem eram um para o outro.

E, na mesma intensidade em que isso trazia a sensação de se desvendarem, também surgia o desejo, quase palpável, de se explorarem ainda mais. Amaury não precisou relembrar que, quando entrou naquele quarto, tudo havia começado com as perguntas. Então não seria estranho dizer que agora encontrava respostas.

— Sobre a morte, o que você pensa? — a pergunta veio de forma direta.

— Essa é fácil — Diego estalou a língua. — Tenho medo dela, como o diabo tem medo da cruz. Mas não quando se trata de mim... Acho que estou tranquilo com a ideia da minha morte. O que me assusta de verdade é a morte das pessoas ao meu redor, aquelas que eu amo. É meio egoísta, na verdade. Mas é isso que sinto. Medo de ficar sozinho no mundo, vivo, mas sozinho.

— Não acho que seja egoísta. Na verdade, isso mostra o quanto você valoriza a presença de quem está ao seu redor. Você coloca as pessoas que ama em primeiro plano, e sua própria vida vem em segundo. Minha psicóloga diria que você precisa olhar um pouco mais para si mesmo. — ele sorriu, o canto dos lábios se erguendo suavemente, sem qualquer julgamento. — Medo de ficar sozinho não é egoísmo.

— Acho que minha psicóloga diria o mesmo. — Diego riu de volta, uma risada curta. — E você?

Amaury inclinou a cabeça para trás, olhando para o teto como se o simples ato de pensar fosse um ritual. Seus olhos escuros refletiam a luz suave que entrava pela janela.

— Bom... Acho que penso mais sobre como estou vivendo antes de, de fato, morrer. Fisicamente falando, claro. Tenho medo de morrer em vida, sabe? — ele fez uma pausa, buscando as palavras certas. — Medo de não fazer o que gosto, de me sentir estagnado, como se a vida estivesse acontecendo e eu estivesse preso, vendo tudo passar. Acho que algumas pessoas morrem antes de parar de respirar, morrem por dentro, presas nas suas próprias ansiedades, rotinas... Isso me assusta mais do que a morte em si. A ideia de me tornar alguém que apenas existe, sem realmente viver.

O quarto mergulhou de novo naquele silêncio acolhedor, o tipo de silêncio que não pede respostas rápidas, mas convida à introspecção.

Diego sorriu de leve, inclinando a cabeça para o lado, observando Amaury. Não havia pressa. O tempo parecia diferente ali dentro, quase irrelevante. Eles ainda tinham uma pergunta, mas talvez, no fundo, já soubessem que a conversa nunca realmente terminaria.

A essa altura, Diego já havia notado alguns traços físicos de Amaury. Notou que a barba lhe conferia um ar mais sério do que ele realmente era. Diego quis tocá-la, quase sentiu a mão formigar. Suspirou profundamente, como se isso fosse ajudar a dissipar a vontade.

— Ok, essa foi profunda... Vamos para algo um pouco mais... leve? — ele lançou um olhar brincalhão para Amaury, como quem está prestes a abrir um novo caminho na conversa, algo provocador. — Fetiches. Qual o seu?

Amaury arqueou uma sobrancelha, surpreso pela transição repentina, mas um sorriso lento e enigmático surgiu em seu rosto. Ele olhou para Diego com aquela expressão que dizia mais do que palavras, mas, ao mesmo tempo, o desafiava a continuar.

Percebeu que os olhos de Diego sempre tinham uma faísca de algo oculto, bem, quase oculto.

— Direto ao ponto. — murmurou, com uma risada rouca. Ele cruzou os braços no peito, inclinando-se um pouco mais contra a janela, como se o assunto agora fosse mais divertido do que qualquer reflexão anterior. — Bom, digamos que sou... eclético? Não saberia dizer se tenho algum fetiche específico.

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2024 ⏰

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