Amaury entrou no quarto de Diego carregando uma enorme mala vazia. Via o ruivo em frente a cama, com as mãos na cintura e seu típico biquinho pensativo, de quando estava muito concentrado em algo. Sobre o colchão, havia uma quantidade infinita de roupas espalhadas, sapatos, acessórios, necessaires com maquiagens e produtos de higiene. Havia umas sacolas específicas com datas escritas em etiquetas, que Larissa havia separado o que ele usaria em cada dia de festival.
“Você pode me explicar de novo pra que ficar tanto tempo?”
Começou, Amaury, colocando a mala em cima da cama, após Diego afastar algumas roupas do espaço.
“Já disse, tem a preparação, o treinamento e a Lumiere quer que eu acompanhe seus artistas do Rio de Janeiro em algumas produções de conteúdo.”
Falou, dobrando uma camiseta e colocando na mala, distraidamente.
“Parece que você está levando seu guarda-roupa aqui.”
Amaury levou os olhos para Diego, como se algo horrível passasse em sua mente.
“Você vai voltar, não é?”
Diego riu, tanto com a pergunta quanto com a forma que Amaury o olhava. Se aproximou do preto e passou os braços por sua cintura, dando um abraço de reconforto.
“Não se iluda, não vai se livrar de mim tão cedo.”
Disse, em voz brincalhona. Amaury bufou, passando um braço pelos ombros do menor e o apertou, deixando um beijo na testa branca.
“Eu não sei o que é ter uma rotina sem você, Diego. Quem vai adivinhar o que eu quero comer? Meu Deus, eu vou passar fome!”
Usava seu tom de voz mais dramático, o que fez Diego tombar a cabeça para trás em uma gargalhada alta.
“O que você fazia antes de me conhecer?”
“Não faço ideia.”
Os olhos se encontraram, em um silêncio perigoso, e uma troca que não estavam se permitindo ter no momento.
As coisas estavam quase normais entre os dois, como eram há um pouco mais de dois meses atrás e o caos de suas escolhas ainda não havia acontecido. Por mais conflitante que as coisas possam ter sido, e de alguma forma, ainda eram, havia um pensamento não compartilhado em voz alta, mas recíproco em sua essência, de que eles eram muita coisa juntos, mesmo como amigos. Ou melhor, principalmente como amigos. E quando achamos alguém na vida que é, simplesmente, muita coisa, vale a pena arriscar o perdão.
A decepção que Diego teve foi com um Amaury que dividiu sentimentos e cama por dois meses. O Amaury, a sua pessoa, que há anos fazia do seu mundo um lugar melhor, mais quente, mais risonho, e dava a sensação de casa, ainda estava ali. Desse Amaury, ele não abriria mão.
A questão é, eles conseguiram ignorar o que foi vivido e sentido nesses dois meses para seguirem como pudessem só ser eles? Sem sentimentos confusos que poderiam cortar-lhes o peito?
Talvez a viagem tenha vindo em boa hora. Talvez a distância física fosse necessária para (re)aprenderem uma dinâmica que faria sentido.
Diego coçou atrás da orelha, sem graça. Ambos sentiram o ar pesar por uns instantes e se afastaram. Dois pares de mãos se ocupando em fazer um tetris para colocar as coisas dentro da mala, agora em silêncio.
Ficaram assim pelas próximas horas. Algumas crises de riso de Amaury por conta das roupas de Diego, outras vezes precisando usar sua voz tranquila e reconfortante para tranquilizá-lo que, sim, ele se sairia muito bem nesse trabalho, não havia com o que se preocupar. E, não, Amaury não deixaria suas plantas morrerem, abriria seu apartamento a cada dois dias e cuidaria da sua mãe, é claro.
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don't say yes to him
FanfictionO ano era 2017 quando Diego e Amaury se encontraram pela primeira vez da forma mais inusitada e constrangedora possível. Como a vida não é feita de acasos quando envolve os dois, um laço muito forte foi criado. Mesmo humor, mesma forma de pensar, ri...