A cela

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As mentiras me entorpecem como nunca, me procuram quando estou sóbrio e me perguntam se estou só, olho para o lado e enxergo paredes que se fecham, digo para mim mesmo, será que tinha que ter todo esse efeito? 

Eu não entendia, mas preferia não entender, a lucidez me matava, como um cervo indefeso que morre em um instante, luzes vermelhas que o iluminam, pensamentos torturantes que me examinam, eu sei que não devo gritar, eu sei que não devo chorar, mas quando foi me ditaram regras que apenas eu sei quebrar?

Me pergunto o que vem a frente mas para baixo eu sempre olhei, me pergunto porque eu cansei, sendo que sempre me mantive imovel anestesiado de medo, eu me contento com muito pouco, pois o esforço é quase nulo, não é porque eu não quero, é pq eu me acorrento, sento e fecho a minha própria cela, tendo o infortúnio de ser o meu próprio guarda,  juiz e prisão. Eu percebo que eu me engano e gosto disso, que eu minto e finjo que não ouvi, que eu acredito mesmo que sempre diga que já desisti, eu que me pare antes de chegar ao fim, pois se não as paredes caem e eu enxergo a mim.

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