A Universidade Lancelot era uma grande construção gótica entre a paisagem simples do interior da França. Construída há muito tempo, mas somente sendo transformada em uma faculdade para artistas há poucas décadas, era estranho pensar que aquela Universidade era apenas poucos anos mais velha que Victor, isso o fazia sentir-se em casa, tanto pela atmosfera que o lugar ostentava, quanto por sua própria estrutura arquitetônica.
Ali juntava-se às mentes brilhantes da nova geração de artistas, alguns abraçando as novidades do mundo e outros agarrando ao classicismo da tradição. Victor não sabia onde sua arte se encaixava entre essas duas vertentes, porque não havia pintores como ele, ele era um ponto fora da linha, ele era sua própria vertente, uma vertente brutal, era assim que haviam o classificado.
Mas ele não era o único da universidade a ser classificado dessa maneira, entre os alunos de artes cênicas estava uma garota de cabelos lisos e curtos, pele em um tom oliva, com algumas sardas espalhadas pelo rosto, rosto oval e olhos castanhos, sua maior paixão era a dança contemporânea, ela era uma das melhores bailarinas da universidade, com um futuro promissor a sua frente, sua dança queimava em paixão, seus movimentos recontavam histórias de um jeito único, com precisão e voracidade, ela era conhecida como "A bruxa de Lancelot'', porque nem mesmo sua beleza ou seu talento parecia humano.
Olivia estava observando o jardim de entrada de uma das janelas da sala de treino da Universidade quando viu uma figura aparecer entre os jardins brancos. Por mais que sua beleza fosse tão pálida quanto a neve, ele não passava despercebido, caminhando como um rei entre seus súditos em direção ao seu castelo.
— O que você tá olhando aí? — uma voz soou atrás dela.
Olivia não precisava olhar para trás para saber que era sua colega do curso de teatro, Danyela; uma garota alta, com aparência de modelo, traços fortes, pele retinta e cabelos crespos cheios e armados, olhos escuros como a noite e lábios cheios, Danyela era a estrela de Lancelot, a promessa da nova geração de atores. Ela se aproximou da amiga e colocou o queixo sobre o ombro alheio, observando o rapaz de cabelos brancos.
— O ano mal começou e você já tem um crush, Olivia?
— Não é um crush! Eu nem mesmo o conheço, Dany.
— Nunca ouviu falar de amor à primeira vista?
— Como se isso realmente existisse, o amor exige tempo, sabia?
— Mas você disse que se apaixonou à primeira vista pela dança.
— Você sabe que é diferente, eu tenho uma paixão pela dança desde sempre, é completamente diferente quando se trata de pessoas.
— Mas ele é gatinho.
— Se o Dancan escutar isso...
— O que ele vai fazer? Só porque sou namorada dele não quer dizer que eu não possa achar outra pessoa bonita. Não é como se eu estivesse desejando aquela pessoa para mim.
— Não discordo de você. Mas mesmo assim, ele é realmente bonito.
— Confesse que você tem uma queda por pessoas alternativas.
— E desde quando isso foi segredo? — elas riram — Mas falando sério agora, ele parece ser uma pessoa interessante. Ouvi falar que havia um novato esse ano.
— De que turma ele é?
— Da turma do Dancan, artes plásticas.
— Bom, já temos dois informantes sobre o novato.
— Ouvi dizer que os quadros dele são excêntricos.
— Em qual sentido?
— No sentido de que ele pinta quadros apavorantes.
— Mais um apaixonado por quadros de terror? Isso não é muita novidade, Oli.
— Não, mas não vamos julgar.
❖
Victor foi recebido junto dos outros calouros daquele ano, a iniciação era uma perda de tempo, apenas a história da universidade sendo contada, regras sendo dadas e os informes que todos já haviam lido no site. A melhor parte era apenas o tour por onde ficavam as salas de aula e as torres dos dormitórios, nessa parte, todos estavam mais interessados, afinal, todos queriam saber quem seria os seus colegas de quarto durante todos os anos de curso.
O vampiro olhou para o folder em suas mãos, havia sua grade curricular semanal para o primeiro semestre, as informações de onde ficava cada sala de aula, quais eram os professores e, o mais importante, o número do seu dormitório e a chave de acesso também.
O quarto era o número 66, da torre 6, 666, por alguma piada sem graça do destino. Ao abrir a porta se deparou com um quarto simples, uma janela mediana, piso de madeira, um beliche, duas escrivaninhas perto da janela, um armário que, provavelmente, serviria para guardar tralhas e um roupeiro grande, com espaço suficiente para acomodar as roupas de duas pessoas.
— Esse quarto mais parece o de uma prisão. — Victor diz, um pouco desgostoso.
— É, eu também achei. — o seu colega de quarto concorda.
Seu colega era um rapaz mais alto, usava óculos redondos, seus cabelos eram cortados muito baixo, sua pele era retinta e seus olhos eram tão castanhos que pareciam pretos.
— Me chamo Roberto, e você?
— Victor.
— É um prazer, Victor, olha, eu já tomei a liberdade de pegar a cama de baixo, tudo bem por você?
— Não vejo problema algum. — Victor tratou de desfazer suas malas.
— De onde você é? — Roberto perguntou, interessado no de cabelos brancos.
— Londres, e você?
— Uau, britânico. Você tem um pequeno sotaque mesmo.
— As pessoas costumam dizer isso. — ele riu. Mas o sotaque só aparecia às vezes.
— Bom, eu sou da Argentina.
— Parece um país legal.
— É, sim. Você é bem monossilábico, isso é algo seu ou estou sendo inconveniente?
Victor pensou um pouco, não estava com muita vontade de socializar naquele primeiro momento, tudo que ele pensava era sobre aquele homem ruivo e sobre suas próximas presas, o seu colega de quarto até poderia ser uma delas, mas não seria a primeira, por motivos de obviedade demais.
— Só estou um pouco cansado da viagem. Só isso.
— Ah, sim, entendi. Bom, se precisar de alguma coisa, é só me falar. Passaremos bastante tempo juntos mesmo.
Roberto mal sabia que esse tempo que eles passariam juntos seria o pior de sua vida. Se ele tivesse sorte o suficiente, Victor acabaria lhe trocando por outra presa mais tarde, se ele tivesse sorte.

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Sangue sobre tela
VampireA universidade de artes mais renomada da França recebe os mais diferentes tipos de artistas todos os anos, todos cuidadosamente selecionados. Mas, com a chegada de um aluno em específico, acontecimentos estranhos começaram a se tornar recorrente na...