Esperar nas sombras tornou-se um hábito tão arraigado que seus olhos se adaptaram melhor à escuridão do que à luz do dia.
Um cigarro se dissipa em fumaça entre seus dedos. Hongjoong raramente dá mais do que duas ou três tragadas; é mais um sabor adquirido, uma espécie de ritual de invocação. Sua mão livre repousa sobre a arma encaixada no coldre próximo ao quadril. Um gesto involuntário fruto de anos de experiência — não muitos, mas certamente significativos que lhe conferiram o distintivo de detetive apesar de sua juventude.
Seus joelhos já se queixam do esforço. Ele ajusta o chapéu de couro e improvisa um assento no parapeito da janela, apertando os olhos para o vitral atrás de si tentando enxergar através da poeira acumulada.
As lâmpadas tremeluzentes permanecem isoladas na rua. Ótimo.
Nenhuma pessoa de bem deveria transitar por este lado da cidade, especialmente após o anoitecer. A mansão em que se encontra, já bastante deteriorada, deveria estar abandonada dada a apatia do governo em preservá-la. Desde a falência da grande fábrica que outrora atraía um número considerável de trabalhadores para o bairro, a população sucumbiu ao crime, à prostituição e ao vício em drogas como forma de enfrentar as altíssimas taxas de desemprego, condenando assim a majestosa mansão erguida para a família do proprietário da fábrica ao ostracismo.
No entanto Hongjoong não está ali para isso, ao menos não nesta noite. Sua presença como policial não deveria ser justificada aqui, especialmente em um raro dia de folga. Mas se sua pista estiver correta de que um contrabandista influente organiza suas operações nesse local, a recompensa pode muito bem justificar o risco.
Um sutil farfalhar chega até seu ouvido. Virando a cabeça na direção do som e apertando a pistola, a respiração de Hongjoong falha ao avistar a silhueta parada a poucos passos à frente.
Como uma aparição emergindo da escuridão total da sala, o criminoso que ele vem rastreando há duas semanas o observa de volta, com os olhos arregalados por cima do ombro e com um pé já atravessado no arco ornamentado que dá acesso ao hall de entrada.
Park Seonghwa.
Hongjoong mantém o olhar fixo, endireitando os ombros. Mesmo sob o fraco luar consegue perceber que seu cabelo cresceu desde o último encontro. Ele parece mais magro também, vestido em um terno preto justo, com a gola branca da camisa destacando-se à distância.
Bastante elegante para um ladrão, pensa Hongjoong, observando a bolsa pendurada em seu ombro, certamente recheada de dinheiro.
Está irritado, como deveria, por uma série de razões — a mais recente delas sendo como diabos Seonghwa conseguiu descer as escadas bem debaixo de seu nariz sem levantar um grão de poeira.
— Vai embora tão cedo? — Ele resmunga, levando o cigarro aos lábios e dando uma tragada longa e carregada de suspense. — Estava esperando por você.
Seonghwa ao menos tem a decência de abandonar o ato de ser um veado pego pela luz dos foróis de um carro. Um lobo em pele de cordeiro deve abrir mão de sua arrogância, e ele aprecia demais o próprio estilo para isso. Girando sobre os calcanhares se inclina contra a parede, encarando Hongjoong com os braços cruzados sobre o peito.
— Como você sabe isso é o que eu faço de melhor — Ele responde, dando de ombros com um tom brincalhão, sufocando uma risada. — Consegue acompanhar?
Hongjoong arqueia uma sobrancelha.
— Estou aqui, não estou?
A cada segundo a confiança de Seonghwa em sua impunidade cresce, e ele mantém o ritmo.
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Chain Me Up ✿ seongjoong
Fanfiction"Você vem dessa vez?" "Se eu for quem é que vai garantir que a polícia não te pegue enquanto você foge?"