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  Após mais uma semana cheia de desavenças familiares, sem comparecer direito ao colégio e principalmente sem resquício algum de Leon em seus sonhos e muito menos em sua vida, [Nome] finalmente pareceu despertar para a realidade e após seguir os medicamentos prescritos por Priscilla, ela se sentiu mais “disposta” para voltar à chatice do colégio.

  Assim que entrou na sala, recebeu olhares de seus colegas e avistou Flávia olhá-la de forma levemente preocupada, mas estava disposta a ignorar todos eles, principalmente aquela que se dizia sua amiga. Então, ela simplesmente deu de ombros e se sentou no seu lugar de sempre.

  Flávia sentiu a indiferença dela e culpou-se por não tentar reatar contato. No fim, sentiu-se mal pela forma como reagiu na última vez que se viram, mas agora ela precisava ser forte e verificar [Nome] como a psicóloga havia pedido. Não seria uma tarefa muito difícil, ela só precisava observá-la e relatar qualquer comportamento estranho.

  Até o intervalo, Flávia pôde notar que ela estava agindo dentro de um padrão ainda normal mesmo nenhum pouco interessada nas aulas, se isolando no intervalo e sempre escrevendo algo num caderno. Ainda no intervalo, Flávia aguçou o olhar, tentando ver se havia algo suspeito no tal caderno antes do sinal tocar, mas a distância não colaborou – sem falar os olhares não muito agradáveis que [Nome] a lançou, fazendo com que ela desviasse sua atenção ao celular como disfarce.

  Assim que o intervalo acabou, Flávia ficou na cola de [Nome] até a multidão fazer ela perdê-la de vista. Flávia entrou em certo desespero e caçou [Nome] em meio ao aglomerado de alunos que vagavam pelo corredor a caminho de suas respectivas salas, mas não houve sinal algum dela. A garota então tentou sair procurando, mas acabou sendo impedida pela professora que a arrastou para dentro da sala. Flávia ainda checou por cima do ombro pra ver se [Nome] dava algum sinal, mas para sua infelicidade, nada.

  “Flávia pensa que sou burra em não perceber o trambique dela com Priscilla…” [Nome] escrevia rapidamente no caderno, sentada no chão do banheiro. “Eu ainda não sei o que a psicóloga tá tramando, mas eu vou descobrir…” o movimento impreciso dela se tornava cada vez mais tenso e era possível notar uma onda de raiva e mágoa crescer dentro dela. Pulando uma linha, ela continuou com a caligrafia bagunçada:

  “Eu também não sei o que fiz para merecer a ausência dele. Será que ele ficou chateado porque eu fugi dele quando ele veio atrás de mim no meu quarto? Ah, Leon… eu queria muito que você soubesse como tenho me sentido sem você por perto. Eu não sei mais o que fazer para você voltar pra mim, eu só queria que você me visitasse nem que fosse em meus sonhos e dissesse que tudo vai ficar bem…” uma silenciosa lágrima caiu sobre a folha e [Nome] até se entregaria à tristeza se não fosse por barulhos de passos e falas se aproximando, fazendo-a levantar rapidamente e fingir conferir o olho no espelho.

  O grupo de garotas que entrou no banheiro, a olhou com um olhar de reprovação após notarem o jeito esquivo e o cabelo bagunçado dela. Percebendo os olhares através do espelho, [Nome] deixou o banheiro em passos rápidos e voltou para a sala, dando de cara com o olhar atento de Flávia e o levemente assustado da Professora, assim que apareceu na porta.

  Ela não disse uma palavra e caminhou silenciosamente até sua carteira, evitando os olhares curiosos dos colegas sobre si. Ela também rezou para que até o final da aula ninguém a perturbasse, mas então, alguns minutos se passaram e [Nome] escutou cochichos de Flávia com o garoto logo atrás e posteriormente barulhos que pareciam ser de alguém se levantando. Ela revirou os olhos depois de perceber a troca de lugares após sentir a fragrância de Flávia invadir suas narinas.

  Só pode ser castigo… [Nome] resmungou mentalmente antes de soltar um riso descrente, mas manteve-se quieta e recusou-se a virar para trás. Ao invés disso, ela optou por colocar seus fones e continuar com seus desabafos no caderno. Flávia percebeu os movimentos e por debaixo da mesa relatou as ações de [Nome] à psicóloga que logo respondeu para que ela continuasse com o monitoramento.

  Enquanto isso, a professora parecia levemente incomodada pela forma absorta que [Nome] e Flávia se comportavam na aula enquanto ela explicava um trecho do assunto de artes e, num ato de advertência, pediu que ambas prestassem atenção na explicação e largassem o fone e o celular, fazendo a turma olhar brevemente para as duas.

  [Nome], mesmo contra a vontade obedeceu assim como Flávia e tentou prestar atenção, mas logo voltou a fazer rabiscos e escrever no caderno.

  “Às vezes eu acho que tô ficando louca. Seria paranóia ou eu estou consciente de meu estado? Não, isso não importa mais! Eu só quero… preciso, na verdade, voltar para o meu paraíso.”

  O barulho um tanto “frenético” da caneta começou a chamar a atenção – não só de Flávia e colegas próximos que vez e outra a encaravam nada contentes e que muito menos pareciam reconhecê-la – como também da professora, que parou com a explicação e lançou um olhar preocupado.

  — [Nome]? Tudo bem com você?

  — Ah… sim, sim… — [Nome] respondeu assim que levantou a cabeça rapidamente para vê-la.

  A mulher assentiu com um aceno de cabeça a resposta nada sincera da aluna, fingindo acreditar, e mesmo querendo tomar uma providência depois de ver o estado em que ela se encontrava, seguiu com a aula, tornando a passar o conteúdo na lousa, embora os pensamentos de buscar ajuda não deixassem sua mente.

  Flávia estava se controlando para não intervir até a professora lançar um rápido olhar na direção delas novamente, obrigando-a a jogar uma bolinha de papel em [Nome] que, como esperado, não reagiu.

  — Ei, [Nome] — Flávia criou coragem e a chamou num tom baixo, mas mais uma vez não obteve respostas. — [Nome]! — ela a acertou uma outra bola de papel, finalmente obtendo sucesso dessa vez.

  — O que é?! — o estresse era mais que claro na fala de [Nome].

  — Você por acaso já copiou o assunto?

  — Não enche.

  — “Não enche”? Você tem noção que precisa ter responsabilidade?

  — Ai, Flávia, cuida da sua vida! — [Nome] lançou antes de se virar para o caderno novamente.

  — Quando você ficar de recuperação vai ser bem empregado! — Flávia rebateu e para a surpresa de toda a sala, em poucos segundos, puderam ouvi-la gritar pedindo que [Nome] parasse.

  Em questão de instantes a sala se tornou uma bagunça com os colegas tentando apartá-las e a professora correndo até a confusão.

  — O que é isso?! — a mulher perguntou depois de alcançá-las. — Meu Deus! — seu espanto era inevitável ao ver o nariz sangrando de Flávia. — Já para a diretoria! — ela apontou para [Nome] em direção à porta.

  A garota pegou suas coisas e deixou a sala por conta própria, seguindo em passos rápidos e firmes pelo corredor enquanto pensava se obedecia a ordem da professora ou deixava a escola. Ao ver a sala da diretoria, ela desacelerou e como uma coincidência do destino, a professora surgiu atrás de si para evitar que ela escapasse. E bem… agora ela não tinha outra opção senão entrar junto com a professora enquanto contatavam sua mãe.

O Dono dos meus Sonhos | LEON KENNEDYOnde histórias criam vida. Descubra agora