Seus lábios eram rosados e fartos, seu cabelo era prateado e ondulado, seus olhos eram violaceos lindos e brilhantes. O sonho era sempre o mesmo.
Algumas semanas antes da batalha na goela, Maverick, ou melhor, Lucerys Velaryon, vinha tendo sonhos constantes, sempre a mesma coisa. Uma garota que ele não sabia o nome, e não podia ver o resto do rosto e corpo.
Ele lembrava de beijá-la, mas não tão intensamente como gostaria.Em uma das noites de festança de boa pesca entre os moradores, o garoto teria ficado responsável por levar o jantar para a comandante, que se ausentou de seu assento naquele dia. Os relatos são de que o disfarce de Aemma teria durado mais, se seu cabelo prateado não tivesse sido revelado aos olhos azuis do neto.
- Minha senhora, eu trouxe - Foi por entrar nos aposentos dela sem bater, que se deparou com a Arryn lavando seu cabelo, limpando a tinta preta. Os olhos da mulher se arregalaram. - Me desculpe, eu volto outra hora - Tentou sair, mas seus braços foram agarrados e a bandeja derrubada.
- Não! - O puxou para dentro e fechou a porta. - Você não pode sair, não agora.
Depois de muito explicar, ainda haviam dúvidas na mente do mais novo, deduziu - quem quer que seja que relatou isso -
- Eu sou um príncipe? - Perguntou novamente. Seus olhos azuis, que portavam um olhar tão inocente, agora quebrado por ter noção e sentir o peso da verdade.
Aemma assentiu.
- Por que você mentiu pra mim? - Questionou.
- Eu não menti - O olhou. - Apenas quis protegê-lo da verdade, do peso da corte.
- É a mesma coisa - Sua expressão se tornou séria. - Tem ideia de como é ter sonhos que não consigo explicar? Comecei a pensar que estava ficando louco, que ficaria louco pelo vazio que me consome.
A expressão da mulher suavizou e ela tirou um papel amassado de sua bota, entregando para o moreno.
- A garota com quem você sonha - Começou, Lucerys observou com cautela e curiosidade. - Se parece com ela?
Era a princesa Rhaella, parecendo forte e destemida ao olhar para o horizonte, ou algo que ele não podia deduzir.
O coração de Lucerys esquentou e bateu tão forte, que parecia que iria explodir. Ele não entendeu, no momento.- Quem é ela? - Pegou o papel, traçando a ponta dos dedos sobre as linhas negras e levemente borradas.
- É a princesa Rhaella Targaryen - Respondeu. - Ela era sua noiva.
Seus olhares se cruzaram, ele desviou primeiro. O silêncio que veio depois de suas palavras, se tornou ensurdecedor, e a frieza tomou conta da face do Velaryon.
- O que houve? - Ousou questionar.
- Sua mentira acaba de ficar pior - Respondeu com voz mais grave, e se levantou, segurando o papel na mão. - Você foi forte para governar esse povo, e foi forte para me tirar do mar - Murmurou. - Mas não foi forte para aguentar o peso da verdade?
A avó franziu o cenho. - Você é meu neto, é meu dever protegê-lo, Maverick.
- E seu dever com Rhaenyra Targaryen, a minha mãe? - Rebateu. - Seu dever com seus outros netos, e seu dever como rainha consorte?
- Se eles soubessem que eu estava viva, nenhum de nós estaria à salvo.
- Como?
- Existem forças malignas, que você ainda não está preparado para entender, garoto - Sua expressão se tornou mais externa, mais séria. - O que vivia na baixada das pulgas naquela época, era algo que nem eu entendia. Mas não era do bem, com certeza não - Desviou o olhar.
Suspirou.
- Me explique - Pediu.
Olhou para o mais novo, novamente.
- Se quer tanto saber, sente-se. Pois a história que estou para lhe contar, com certeza lhe trará pesade-los.
Naquela época, há mais de vinte anos atrás, quando Aemma ainda era esposa de Viserys e ainda era rainha consorte, o reino se encontrava em paz e alegria. Sua única filha viva, Rhaenyra, era o que lhe trazia paz e conforto. O que lhe trazia dor, era o desejo insaciável de Viserys, por um herdeiro homem, para se sentar no trono depois dele.
Aemma, por incrível que pareça, se dava bem com Daemon, seu cunhado e pai de Rhaella. Eles se respeitavam, e ela recebia muito mais respeito do que Otto Hightower, certamente, já que o homem e sua Casa eram detestáveis aos olhos do Targaryen.
A rainha começou a entender o ódio, quando boatos chegaram à corte, boatos mais recentes. Uma vez, quando Otto e Viserys conversavam, ela ouviu de soslaio.- Daemon com uma prostituta? - Questionou Viserys, sentando na mesa do Pequeno Conselho. Um olhar sério.
- É o que dizem - Respondeu Otto, de pé ao lado da mesa.
Viserys desviou o olhar. No fundo, apesar de esconder, a Arryn sabia que o coração de Viserys estava mais calmo com a notícia de que Daemon havia escolhido uma única mulher, sendo prostituta ou não. O irmão mais novo era sempre solitário, se privando de amor ou conforto, e aquilo magoava o rei.
- Me perdoe, Majestade, - O Hightower chamou sua atenção novamente. - Mas isso é um pecado diante dos deuses e do povo. Seu irmão tem uma esposa, Rhea Royce, uma Lady muito respeitada.
- E o que espera que eu faça, Otto? - Suspirou. - Que eu enforque Daemon e metade dos mantos dourados por festejarem na Baixada das Pulgas? - Desviou o olhar.
A Mão parecia ter ficado irritada, mas segurou a língua.
Mais tarde, naquela noite, Aemma se aproximou para deitar na cama, após escovar seu cabelo.
- O que te aflige? - Perguntou ao marido, uma voz serena carregada de gentileza, como sempre.
- Otto e seus murmúrios - Estava olhando para o teto, perdido em seus pensamentos.
Ela deitou a cabeça no peito de Viserys, e o homem a envolveu com um braço, beijando sua cabeça.
- Você acha que Daemon a ama? - Perguntou baixinho.
- Você também ficou sabendo?
- Eu estava indo te chamar para um passeio no jardim, quando ouvi a conversa. Não foi minha - Foi interrompida.
- Tudo bem - A assegurou com uma voz doce. - Não acho que eu poderia esconder isso de você por muito tempo. Mas eu já sabia.
- Já sabia do que? - O olhou.
- Daemon sempre teve essa carranca, essa rebeldia. Ele é incansável. Um Targaryen, afinal - Concluiu. - Mas...Ultimamente ele tem sorrido mais, e se apresentado na sala do Pequeno Conselho com mais frequência.
Otto não era o único que acreditava que Viserys era tolo e cego em muitos assuntos, e Aemma era a única que sabia que aquilo era uma grande mentira.
- Ela deveria ser apresentada à nós então - Murmurou. - A garota.
- Otto arrancaria os próprios olhos ao ouvir essa idéia - Brincou, e os dois riram.
Mas ao chegar mais à fundo, Aemma percebeu que era um caminho sem saída. Como carne podre, que se tocasse demais, o fedor se alastrava mais precisão e intensidade.
Uma vez, quando mandou uma serva até a Baixada das Pulgas, recebeu uma caixa velha e vermelha, com um laço violeta, dentro, continha os dois olhos da garota. Aquilo a aterrorizou, e foi o primeiro, de muitos sinais e ameaças que vieram depois.Alyria Morgan ainda estava viva naquela época.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝕸𝖆𝖞𝖇𝖊 𝕴𝖓 𝕬𝖓𝖔𝖙𝖍𝖊𝖗 𝕷𝖎𝖋𝖊 - Lucerys Velaryon (CANCELED)
FanfictionSou péssima com prólogos, por isso, apenas...Leiam e descubram por próprio risco e conta