Jogador Infeliz.

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CAPÍTULO CINCO.

"Um é tristeza, Dois é festivo,

Três é menina, Quatro é menino,

Cinco é prateado, Seis é dourado,

Sete é um segredo, A nunca ser revelado."



República de Atlasdam, Junho de 2035.

Sehun saiu do quarto e foi direto para a sala, onde encontrou o pai afundado no sofá, finalizando uma lata de cerveja com os pés desleixadamente apoiados na mesa de centro. Na televisão, o jornal matinal noticiava a previsão do tempo, enquanto ele segurava no colo um prato com ossos frios de asinhas de frango, agora só restos esquecidos. O cheiro de gordura e álcool carregava o ambiente, e os olhos do pai, vermelhos e pesados, denunciavam mais uma noite mal dormida.

- Vai passar o último ano coçando o saco? - o pai perguntou, com os olhos fixos na televisão.

- Não, senhor.

O homem não tirou os olhos da televisão.

- Então o que vai fazer?

- Focar no futebol. Tentar tirar boas notas. Me formar. Ser um jogador profissional, talvez.

O pai arrotou alto, esmagou a lata de cerveja vazia na mão e a jogou sobre uma pilha já enorme de latas amassadas, pegando uma nova da pilha menor.

- Já te contei que fui o melhor jogador do meu ano na escola?

- Já. Várias vezes.

- Tá bancando o engraçadinho? - perguntou, lançando um olhar severo.

- Não, senhor.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos.

- E depois da escola? Vai fazer o quê?

- Vou sair com um amigo do time. Ele vai cobrir o braço com uma nova tatuagem - disse Sehun, com cuidado. - Mas vou chegar a tempo para o culto, não precisa se preocupar.

- Nem pense em fazer mais tatuagens, ouviu? - rosnou o pai, o olhar severo. - Todo mundo na igreja fica comentando sobre essas merdas coloridas no seu corpo. Você é o filho do pastor, precisa ter comportamento exemplar.

- Querido, por favor, sem palavrões - ouviu-se, da cozinha, a voz suave da mãe de Sehun.. Tímida, ruiva como o filho, ela era tão pequena que sempre o fazia questionar como ele, alto e forte, poderia ter vindo dela. Aliás, pensar em como saiu dos dois era, de fato, um mistério.

- Eu. Não. Ligo! - o homem gritou em resposta, dando ênfase a cada palavra. - Essa casa é minha! Falo o que eu bem entender!

- Mas os vizinhos podem ouvir... - retrucou a mãe com delicadeza, um sorriso leve na voz. - Filho, quer que eu prepare algo para você comer?

- Não, hoje acordei sem fome. Tchau, até mais tarde, mãe.

Sehun conseguiu ser mais silencioso do que de costume ao passar pelo pai, que estava absorto em uma notícia do jornal. Só respirou aliviado quando alcançou a varanda, mas seu rosto ainda carregava uma expressão de irritação. Marchou direto para o carro, uma picape vermelha, deslizando as mãos pelo capô com impaciência. Para ele, levantar tão cedo para ir à escola era um verdadeiro martírio. A ideia de acordar antes das sete apenas para enfrentar equações e fórmulas complicadas parecia um castigo cruel, como se o peso do futuro do mundo dependesse de suas notas.

101 de NósOnde histórias criam vida. Descubra agora