JM.
Desci do ônibus em outro ponto, não para pegar mais um veículo, mas sim para caminhar até a minha casa. Basta atravessar a rua, andar alguns metros na calçada e, pronto, já é possível visualizar o condomínio aberto em meia lua onde fica a minha casa. Há alguns senhores sentados em suas varandas, até mesmo umas crianças, que julgo serem netos de alguém, estão brincando no gramado.
A vida deles está ótima, e me impressiono com a velocidade com a qual a minha está afundando.
Caminhei com a mochila quase arrastando no chão, e quando entro em meu quintal e subo as pequenas escadinhas brancas rumo a porta, fico surpreso com algo: queria muito um presente ou bilhete do "homem fantasma". Sempre que tenho um dia ruim ele surge magicamente com algo, e quando olho na maçaneta e vejo nada pendurado, sinto uma pequena infelicidade no peito.
Não deveria ter me acostumado com uma maluquice dessas, mesmo que seja inofensiva. Maluquice, maluquice!
Pisei forte ao entrar dentro de casa, tirei meu celular da bolsa e a joguei sofá. O stalker não importa, o que eu preciso mesmo é ligar para o senhor Park e resolver esta terrível situação.
Ao subir as escadas em direção ao meu quarto, mesmo que a casa esteja repleta de plantas e adornos, eu consigo sentir o meu peito apertado pelo acontecimento de mais cedo. Eu não entendo como o passado pode me perseguir assim, desse jeito tão inescrupuloso. Por que isso me ocorre?
Todos os dias, faça chuva ou faça sol, eu prossigo em minha jornada solitária de fuga. Eu corro dos cantos obscuros de minha mente, mesmo sem ter um local claro para me abrigar. Às vezes, durante as aulas, quando ouço os alunos conversando entre si, felizes e animados, eu me pergunto o porquê de eu não conseguir ser como eles. O que há neles que não há em mim?
Eu já fui tão dilacerado que minha tristeza chegou ao ponto de ser irreversível? Eu só queria ser assim, mas eu não consigo. Eu não consigo abandonar a sensação de querer fugir o tempo inteiro, mesmo sem ter um lar para me abrigar.
Essa casa não é um lar. Na verdade, fico me perguntando se algum dia eu encontrarei um lugar para chamar de meu. As paredes brancas, o jardim verde e os sofás macios; tudo artificial, como uma casa de bonecas. Talvez o meu lar tenha ombros largos ou esguios, olhos grandes ou afiados, cabelo macio, seja ele longo ou curto, talvez até um humor ácido que me faça sorrir nos momentos de solidão. O meu lar, quem sabe, pode estar me esperando do outro lado do mundo, compartilhando da mesma angústia que eu, da de ser um desabrigado com um teto sob a cabeça, esperando e esperando.
Eu espero encontrar este oásis em algum momento, e quando eu o encontrar, irei entrelaçar nossas almas como em um banho profundo, misturando-as em um impacto homogêneo forte o suficiente para nunca se separarem.
Meu quarto está com as janelas abertas, e as cortinas voam na brisa suave que escapa do jardim a fora. Se não estivesse à beira de um ataque de nervos, pararia para tirar uma foto deste momento. Eu gosto da forma como a natureza se move, fluida e isenta de impostos, incorruptível mediante a apropriação indébita da raça humana.
— Atende... — meus murmúrios são súplicas inúteis, mas mesmo assim eu os faço enquanto ligo para o meu pai.
A ligação não é atendida de primeira, muito menos nas próximas quatro vezes. Depois de insistir como um cão maldito, apelo para mensagens de texto.
|Eu: O que vocês fizeram?
|Eu: Vocês enlouqueceram?
|Eu: Nós tínhamos um acordo, todos nós
|Eu: A família dele não vai aceitar mais nada
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Doces Óculos; jjk+pjm.
FanfictionJungkook vivia em um mundo de facilidades. Cresceu em uma boa família, sempre teve amor vindo de seus pais e, como todo jovem rico que se preze, cursou uma boa faculdade, tornando-se assim cirurgião geral. Ele nunca teve um motivo real para se ver r...