Capítulo 17 - Parecia um sonho.

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As duas da manhã se tornavam frias a cada minuto que se passava. Quase ninguém conseguia dormir naquela noite, enquanto se sabia que, ao amanhecer, conheceriam o tão vangloriado Paraíso e principalmente depois do ocorrido na noite passada, mas pelo menos eles tentavam. Nesse mundo existiam dois tipos de pessoa: os que se esforçavam para conseguir dormir até conseguirem, e os que simplesmente desistiam. Mouro Yona e Alastor eram dos que simplesmente desistiam. A platinada só queria um tempo para refletir sobre o que iria acontecer pela manhã, ela queria muito encontrar sua irmã mais nova, ou até quem sabe seus próprios pais, seu pai sempre foi um homem rigoroso, mas não o suficiente para levá-lo ao inferno, ele com certeza estava no Paraíso desfrutando de algumas bebidas ao lado de sua mãe, mas sem sombra de dúvidas, Mouro Yona queria muito reencontrar sua irmãzinha. O único lugar que ela pensou para tal ato era o jardim dos fundos do hotel, sentada em um banquinho ela olhava para o céu iluminado pelo brilho do Paraíso. 

Shiawase... - Ela sussurrava para si mesma, dando um leve sorriso ao lembrar das brincadeiras que tinha com sua irmã. Ela não lembrava mais de sua voz, nem de sua aparência, mas com certeza lembrava de ser divertida. Por outro lado, Alastor também se rendeu à insônia e resolveu, por coincidência ou não, esfriar a cabeça no jardim. Seus olhos vermelhos e brilhantes se fixavam na silhueta feminina no banco, percebendo o sorriso infinito se alongar ao reconhecer o estilo de kimono sombrio, o qual uma única mulher usaria. Deu um pequeno riso ao lembrar-se da primeira vez que tivera uma conversa tão íntima, foi naquele mesmo lugar. Mouro Yona olhava para trás e via Alastor, porém não esboçava nenhum tipo de reação.

O que faz acordada a esta hora, querida? - Alastor se sentou ao seu lado com o mesmo sorriso de sempre. Mouro Yona o encarava, para ela, Alastor era o tipo de pessoa inconveniente que ela nunca iria querer por perto, mas por algum motivo, ela ultimamente via sentido uma estranha necessidade de tê-lo ali.

Pensando. -  Direta, como sempre. Alastor parou de olhar para o céu e virou seu rosto para ela, com um olhar mais tenso, porém mantendo o mesmo sorriso.

Por que você é assim? - Aquela pergunta fez o corpo inteiro de Mouro Yona se estremecer, seus olhos se arregalarem, mas não o bastante para transparecer algo.

O quê? - Ela perguntou baixinho, quase como um suspiro. O ruivo se levantou e começou a se espreguiçar, tomando toda a atenção da branquela.

Bom, não era novidade pra ninguém que você tinha algo a esconder. - Os olhos de Mouro Yona relaxaram ao perceber sobre o que Alastor estava falando, afinal, agora todos do inferno sabem quem ela realmente era. - Você deveria imaginar que mais cedo ou mais tarde alguém iria te reconhecer. - Aquilo era o que Mouro Yona menos queria em muito tempo. Desde que morreu, tudo o que ela pensava era em como descontar toda sua raiva e desejo de vingança, mas quando começou a frequentar o hotel, sentiu algo que não sentia há muito tempo. Amor. E não é um amor romântico como ela estava sentindo por Alastor, era como um abraço quente em um inverno de dezembro, era como família, o jeito que cada um dos moradores do hotel lembrava alguém de sua família e uma parte dela. Husk era como seu pai, ranzinza, mas no fundo tinha um enorme coração. Charlie era como sua mãe, tentando ser positiva em momentos difíceis, se esforçando para fazê-la se encaixar em um ambiente novo. Angel era um amigo, não se falavam muito, mas sabia que poderia contar com ele para qualquer coisa. - Você mudou. - Alastor se virou para Mouro Yona, que finalmente estava em uma estatura muito mais baixa que ele. - Mas enfim... No que está pensando, minha querida?

Acho que... Penso em minha família às vezes, penso que tenho chance de encontrá-los. - A doçura em seu olhar faz com que Alastor diminua um pouco de seu sorriso, passando de alguém curioso para um olhar de preocupação. 

𝑰 𝑲𝑵𝑶𝑾 𝑾𝑯𝑬𝑹𝑬 𝑻𝑶 𝑳𝑶𝑶𝑲 (𝑨𝑳𝑨𝑺𝑻𝑶𝑹 𝑿 𝑳𝑬𝑰𝑻𝑶𝑹𝑨)Onde histórias criam vida. Descubra agora