capitulo 21

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“O amor não se define; sente-se.”
– Sêneca

Depois da noite passada, algo entre nós havia mudado de forma irrevogável. Embora tentássemos disfarçar, era impossível negar que uma conexão mais profunda, mais crua, havia se estabelecido. Durante o café da manhã, o silêncio entre nós era confortável, quase como se palavras fossem desnecessárias. Nossos olhares diziam mais do que qualquer frase.

Quando ele se levantou para levar as xícaras para a pia, não consegui evitar e fiquei observando. Havia algo nos seus movimentos que me encantava — aquela combinação de firmeza e suavidade, o jeito como ele parecia ter tudo sob controle, mas ao mesmo tempo permitia que eu visse seu lado mais vulnerável.

– Quer sair para dar uma volta? – ele perguntou, interrompendo meus pensamentos. – Tem um parque aqui perto. Talvez seja bom a gente respirar um pouco de ar fresco.

Assenti, com um sorriso tímido. – Acho uma boa ideia.

Enquanto caminhávamos até o parque, senti que estávamos nos acostumando com a ideia de sermos um “nós”. Parecia surreal, mas ao mesmo tempo, tão natural. Roberto me observava de vez em quando, como se estivesse gravando cada detalhe do momento. Eu sabia que ele tinha receios, que o peso de tudo o que vivemos e as dúvidas sobre o futuro ainda pairavam sobre nós, mas agora havia uma leveza, um conforto que não existia antes.

Chegamos ao parque, e ele estendeu a mão para mim. Entrelaçamos os dedos, e o toque me fez sentir como se estivéssemos em nossa própria bolha, onde o mundo exterior não pudesse nos atingir. Andamos por entre as árvores, em um silêncio contemplativo.

Em certo momento, ele parou e me puxou para perto, me olhando com uma intensidade que quase me fez desviar o olhar. – Gabriela, eu sei que tudo isso é complicado. Sei que temos que ser cuidadosos, mas... eu não consigo mais imaginar minha vida sem você. Isso me assusta, mas é a verdade.

Meu coração deu um salto, e senti um calor subir ao rosto. Eu sabia que ele estava sendo sincero, e era exatamente o que eu sentia também. Respirei fundo e o encarei, reunindo a coragem para colocar em palavras o que estava guardado dentro de mim.

– Eu sinto o mesmo, Roberto. Também tenho medo… mas ao mesmo tempo, não quero fugir disso. Com você, tudo parece fazer sentido.

Ele sorriu e, sem dizer mais nada, me puxou para um abraço. Era um abraço seguro, caloroso, onde pude sentir seu coração batendo contra o meu. No meio daquele parque, entre as árvores e o vento suave, prometemos a nós mesmos que, acontecesse o que acontecesse, enfrentaríamos juntos.

Naquele momento, nada mais importava. Apenas nós dois e o sentimento que estávamos dispostos a proteger a qualquer custo.

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