Capítulo 22 - Riscos por amor.

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Não havia exagero nas palavras de Alastor ao dizer que a casa estava mergulhada em um verdadeiro caos - ela realmente estava. Assim que conseguimos nos recompor, mesmo que não por completo, notei dois corpos inertes espalhados pelo chão da cozinha. O ambiente estava abarrotado de plásticos desordenados, uma poça de sangue escorria lentamente para fora da geladeira, e uma das cabeças dos cadáveres simplesmente havia desaparecido. A busca por essa parte macabra não durou muito tempo; a porta dos fundos estava completamente escancarada, expondo a terra revolta do jardim lá fora. De longe, avistei uma bola de cabelos jogada despretensiosamente na grama. Além disso, pilhas de xícaras de café estavam empilhadas de maneira caótica na pia, e a cafeteira gotejava incessantemente; suspeito que Hartfelt tenha recorrido à bebida como um meio de se manter acordado.

Geralmente, Alastor é um homem cuidadoso e metódico, que valoriza a ordem e a precisão em cada detalhe, mas aquele cenário grotesco destoava completamente de seu comportamento habitual. Ousaria até afirmar que talvez fosse isso que Rosie tentava me alertar. Ele estava cometendo assassinatos dentro de sua própria casa, respingando sangue por todos os lados e ignorando completamente o sono - quiçá até a comida, como se tivesse sido consumido por um frenesi sanguinário que obliterou sua razão. Alastor agiu movido pelo impulso, e é incerto como ele havia lidado com os oficiais, se é que realmente teve um momento para pensar.

Estive paralisado por alguns segundos entre a sala e a cozinha, ouvindo barulhos indistintos vindos do andar de cima. Ele havia pedido que eu esperasse até descer com uma mala improvisada. Eu sabia que conseguiria suportar um pouco mais a dor das feridas; afinal, o mais importante era estar ao lado de Alastor.

Não podíamos nos demorar na residência. Se Sera não aparecesse, seus homens certamente o fariam. Comecei a roer nervosamente o canto das unhas, a ansiedade tomando conta de mim à medida que olhava para a porta da frente, que permanecia aberta, como se pudesse ver a mulher chegando a qualquer instante.

Decidi deixar o cômodo, apoiando-me no corrimão da escada e subindo rapidamente. Ao alcançar o segundo andar, fixei o olhar na porta aberta do quarto e me aproximei cautelosamente até que avistei Alastor, que estava apressado, enfiando algumas roupas em uma grande bolsa preta de viagem - a qual, com certeza, já deveria estar pesada.

─ Você... conseguiu levar Stols até o hospital? ─ pergunto, observando sua inquietude enquanto ele andava de um lado para o outro.

─ Sim, ele está se recuperando bem. ─ disse, suas mãos tremendo visivelmente. ─ Eu te levo para vê-lo depois que te tratar.

A diferença entre Alastor e eu era apenas a ausência de ferimentos nele. No restante, ele estava em um estado muito pior e caótico. Aproximando-me devagar, percebi quando ele apressou e fechou o zíper da mala. Minha mão agarrou a sua, e ele pareceu um pouco desnorteado ao me olhar, inicialmente mirando nossas mãos unidas antes de fixar o olhar em meu rosto.

─ Al... eu tô bem. ─ sussurro, tentando acalmá-lo. ─ Estou cansado e machucado, mas sigo bem. ─ meus dedos dançam suavemente por seu rosto, sua bochecha roçando minha palma. Logo, me coloco na ponta dos pés para lhe dar um selinho. ─ Só precisamos sair logo daqui.

Embora minha outra mão estivesse ferida, ele a tocou delicadamente, explorando ao redor dos cortes, sem tocá-los. Sua mão direita apertou firmemente a alça da mala, jogando-a por cima do no ombro e carregando-a nas costas.

─ Mesmo assim, eu vou cuidar de você. ─ ele se virou e seguiu na frente, enquanto o acompanhava, mantendo sua mão firme na minha.

Alastor desce as escadas com calma, me levando junto sem pressa, pois sabe que não consigo andar com facilidade naquele momento. Eu já tinha passado por tantas coisas nos últimos dias que minha mente estranha tanta calmaria vindo de dentro da casa.

BAD THINGS · radioappleWhere stories live. Discover now