Arnold observava Helga enquanto ela se movia pela sala de sua pensão, claramente constrangida com a maneira como ele a olhava. Ele tentou disfarçar, mas não pôde evitar. O modo como ela estava, com o vestido simples e o cabelo preso de forma desleixada, era encantador. Para ele, Helga sempre teve uma beleza própria, mas naquela manhã, ela parecia diferente. Mais vulnerável. Mais real.
Por dentro, Helga sentia um leve sorriso se formando. "Ele está olhando para mim..." pensou, mas rapidamente afastou o sentimento, voltando a sua postura de sempre. Ela olhou para ele, tentando parecer indiferente. "Bom, já que você aceitou que eu more aqui... acho que agora eu tenho que ir até a casa dos Pataki pegar umas roupas. Esse vestido da Phoebe não é bem o meu estilo."
Arnold, de forma quase imperceptível, sussurrou: "Mesmo assim, você está bonita."
Helga franziu a testa, quase não acreditando no que ouvira. "O que você disse?" ela perguntou, virando-se para ele, curiosa.
Ele se encolheu levemente, desconcertado. "Ah, nada. Eu... só acho que você está... bem, você sabe..." Ele balançou a cabeça, tentando desviar o foco. "De qualquer forma, quero ir com você. Vai ser mais rápido, e você não vai precisar carregar tantas coisas sozinha."
Ela hesitou. Não queria que ele a acompanhasse. "Eu posso fazer isso sozinha," pensou. Mas a ideia de estar sozinha novamente, de ter que voltar para aquela casa e lidar com sua família... era mais difícil do que ela imaginava. "Tá, tudo bem," ela respondeu, sua voz um pouco ríspida, mas ele não se importou. "Vamos logo."
No caminho até a casa dos Pataki, Arnold olhou para ela de relance, tentando entender o que ela estava pensando. "Você... não tem medo de encontrar com o seu pai, né?" ele perguntou, em voz baixa.
Helga riu sem humor. "Não. O Bob está fora, trabalhando, e a Miriam... bem, ela provavelmente está dormindo em algum canto da casa, como sempre." A tristeza no tom dela não passou despercebida por Arnold. Ele percebeu que a casa dos Pataki não era exatamente o lar caloroso e acolhedor que ele imaginava.
"Eu não tenho medo de ninguém," Helga disse rapidamente, como se se defendendo de um ataque invisível.
Arnold a olhou, imaginando o que ela queria dizer com isso, mas decidiu não insistir.
Quando chegaram, Helga pegou uma chave escondida em um canteiro de plantas perto da porta da frente e abriu a casa. Ela estava silenciosa, quase deserta, com o ambiente tomado pelo eco de seus passos. Arnold a seguiu, respeitando seu espaço, e eles subiram as escadas até o quarto dela.
Helga olhou para ele. "Fica por aqui. Não sai de perto de mim." Ela tentou soar firme, mas a tensão em sua voz era clara.
Arnold sentiu uma sensação de desconforto ao ver o quarto dela. Ele já havia estado ali algumas vezes, mas nunca notara o quanto havia mudado. Antes, o quarto era um campo de guerra entre brinquedos e bonecas, mas agora estava dominado por livros, pôsteres de literatura e de luta-livre, algo que ele achou... curioso. Era uma combinação tão... Helga.
Ela estava mexendo em uma mochila, tentando encontrar algo útil, quando percebeu o sorriso involuntário dele. A visão dele a observando fez seu rosto esquentar, e ela imediatamente se virou para ele. "O que foi, cabeça de bigorna? Não fique olhando, você não vai achar nada interessante."
Arnold levantou as mãos em um gesto de rendição. "Desculpa, não queria te incomodar." Ele se afastou um pouco, indo até um canto do quarto.
Mas seus olhos não podiam evitar ser atraídos por um pedaço de papel que estava meio amassado sobre a mesa. Ele se aproximou lentamente e, ao estender a mão, viu o que parecia um poema. A caligrafia era bonita, quase poética, e ele não resistiu. Começou a ler em voz baixa, absorvendo as palavras.
Mas antes que pudesse terminar a leitura, Helga se virou bruscamente e arrancou o pedaço de papel de sua mão.
"Ei!" Ele ficou surpreso com a reação dela, sem entender por que ela estava tão nervosa. "Eu só estava... era só um poema, Helga."
Ela o encarou com os olhos arregalados, furiosa, o rosto corado de vergonha. "Você não tem nada a ver com isso, Arnold!" Ela guardou o papel com pressa e, em um movimento brusco, virou-se para ele, tentando esconder o desconforto. "Vai ficar quieto aí no canto ou vai continuar mexendo nas minhas coisas?"
Arnold ficou ali, sem palavras, surpreso pela intensidade da reação dela. Ele não sabia o que esperar, mas não imaginava que ela fosse reagir daquela maneira. A tensão entre eles parecia ter se intensificado em um único momento, e ele sentiu que havia algo mais por trás daquela folha de papel... algo que ela não estava disposta a compartilhar.
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Helga e Arnold: Depois de Tudo
Teen FictionHelga e Arnold: Depois de Tudo narra a vida de Arnold, que retorna ao bairro para recomeçar após herdar a pensão de seus avós, e Helga, que enfrenta desafios pessoais enquanto busca independência. Compartilhando o mesmo espaço, os dois revivem memór...