Com o coração disparado, fechei a porta e tentei me recompor. Certo, meu primeiro encontro com meu mais novo irmão não foi bom, mas, mesmo sentindo aquela pressão no peito, não deixei que as lágrimas caíssem. Chorar não adiantaria nada - já sabia disso há muito tempo.
Fui até o guarda-roupa, ainda um pouco atordoado. Peguei uma camisa limpa nova e uma calça qualquer, tentando ignorar o nó que se formava na garganta. Quando puxei uma gaveta para ver o que mais havia ali, uma pequena caixa de óculos chamou minha atenção. Abri a tampa e, para minha surpresa, lá estavam óculos novos, com lentes redondas e armação delicada. Pareciam exatamente do meu tamanho.
Olhei para meus óculos velhos, que estavam desgastados e tortos de tanto uso, e senti uma pequena onda de alívio. Coloquei os novos, e era como se o mundo ao meu redor estivesse mais nítido, mais claro.
Depois saí do quarto e desci a escada, com passos cuidadosos, ainda tentando me acostumar ao ambiente. No pé da escada, a mesma empregada que havia entrado no meu quarto antes me esperava. Ela sorriu e me fez um sinal com a cabeça.
— A sala de jantar fica logo por aqui, senhor Cooper. — gesticulou com a mão, indicando o caminho.
Segui pelo corredor, e logo vi uma porta aberta para uma sala de jantar ampla e cheia de luz. Osman já estava sentado à cabeceira da mesa, conversando com Lucy, que sorriu ao me ver entrar.
— Sente-se, Cooper. Espero que esteja com fome, o Kalil preparou algo especial para hoje — disse ela, apontando para uma cadeira ao lado dela.
Eu me sentei, um pouco nervoso, observando a mesa. À minha frente, haviam pratos de porcelana, copos de cristal e talheres de prata alinhados perfeitamente.
A comida já estava disposta em travessas elegantes: salada com folhas verdes, fatias de pêra e nozes. Ao lado, uma travessa de risoto cremoso de cogumelos e uma bandeja com filés de peixe grelhados.
Enquanto olhava para a comida, uma das empregadas se aproximou, servindo um pouco de cada prato no meu prato. Isso era algo completamente novo para mim, e eu observava, tentando não demonstrar a mistura de surpresa e nervosismo que sentia.
Lucy sorriu para mim, notando meu desconforto.
— Fique à vontade, Cooper. Experimente o que quiser, Kalil sempre prepara tudo com muito carinho.
Osman observava a cena, enquanto eu pegava o garfo e experimentava o peixe, que tinha um sabor bom, como nada que eu já tivesse provado antes.
— Espero que esteja gostando — comentou, um leve sorriso no rosto.
— Sim, está ótimo, senhor... digo, Osman. — A palavra "ótimo" parecia pouco, mas eu não tinha certeza do que mais dizer.
Lucy serviu-se de uma fatia de pêra e me observou com gentileza.
— Sabe, Cooper, a gente quer que você se sinta bem aqui. Qualquer coisa que precisar, é só nos dizer, está bem?
Assenti com um leve sorriso, tentando parecer mais à vontade do que me sentia.
Depois Nicholas entrou na sala de jantar como se fosse o dono do lugar. Os óculos escuros estavam no rosto, e ele mexia no celular com uma mão enquanto puxava a cadeira com a outra. Ele se jogou no assento sem olhar para ninguém.
Vi quando Lucy lançou um olhar rápido para Osman, que levantou a sobrancelha, mas foi ela quem falou primeiro:
— Nicholas, querido, guarde o celular. Estamos à mesa.
Ele não respondeu. Os dedos continuaram deslizando pela tela como se ela nem tivesse falado. Lucy manteve o tom doce, mas pude notar a leve tensão em sua voz:
— Só um minutinho sem celular, certo? Não vai te matar.
Nicholas suspirou alto, mas não levantou os olhos. Foi então que Osman, com a voz firme, disse:
— Nicholas. O celular. Agora.
O som de seu celular batendo na mesa foi alto, e ele finalmente tirou os óculos, revelando olhos que pareciam tão cansados quanto irritados. Ele olhou para mim, avaliando, antes de soltar:
— Já entendi. Tô aqui, tá bom?
Lucy, tentando aliviar o clima, me lançou um sorriso caloroso:
— Cooper, essas roupas novas ficaram ótimas em você.
Baixei os olhos para o tecido macio da camisa que eu vestia, uma peça elegante, com um caimento perfeito, diferente de tudo que já tive antes. Era estranho me ver vestido assim, como se fosse alguém que eu nunca imaginei ser.
— Obrigado. — Minha voz soou hesitante enquanto eu pegava o garfo, mais para ocupar as mãos do que por fome.
Lucy inclinou a cabeça, ainda sorrindo:
— Ah, e os óculos ficaram muito bem em você!
Antes que eu pudesse agradecer, Nicholas soltou uma risada baixa e debochada.
— Nossa, que fofo. O irmão adotivo de óculos novo.
— Nicholas! — Lucy o repreendeu suavemente, então virou para mim de novo. — Como está? Está confortável?
Eu forcei um sorriso.
— Obrigado. Tá ótimo.
— Foi Antonelli que me passou o seu grau — continuou Lucy, casualmente.
Senti o garfo escorregar na minha mão. Aquele nome era como um soco no estômago. Lucy parecia tão tranquila, tão alheia ao impacto que aquilo tinha em mim.
— Ah... é mesmo? — murmurei, forçando um sorriso sem levantar os olhos do prato.
Nicholas percebeu a minha reação.
— Antonelli? Quem é essa? Alguma ex-namorada?
Eu levantei os olhos rapidamente, encarando-o com um misto de surpresa e irritação.
— Não. Ela era a diretora do orfanato onde eu estava.
O sorriso dele se transformou em algo quase cruel.
— Orfanato. Obviamente. Não é de se admirar que você seja tão... bem, isso.
— Nicholas! — A voz de Lucy estava mais firme dessa vez.
Osman bateu o garfo na mesa, chamando a atenção de todos.
— Nicholas, chega. Ele está aqui agora, e vamos tratá-lo como parte da família, pois ele é da família. Entendeu?
Nicholas revirou os olhos.
— Tá bom, tá bom. Ele é parte da família. Meu irmãozinho. Grande coisa.
Lucy tentou mudar o assunto, mais uma vez com aquele sorriso pacificador:
— Então, Cooper, me diga, você já jogou tênis alguma vez? Nicholas é apaixonado por isso.
Antes que eu pudesse responder, Nicholas interrompeu:
— Ah, claro, mãe, um órfão que mal sabe o que é ter uma casa, vai entender de tênis? Isso é uma piada
— Nicholas! — Osman elevou o tom, visivelmente irritado. — Chega desse comportamento.
— Tá bom, pai, desculpa. — Nicholas riu. — Vou me comportar, prometo.