Consternado.
Era assim que Charlie sentia ao chegar em casa após aquela Santa Missa. Seus olhos estavam injetados de ira e tristeza ao deparar-se com a realidade.A crueza da verdade o perturbava como um demônio pinicando seus pensamentos, o fazendo se lembrar de dias do passado que não voltam mais - de tempos nefastos onde o pecado fez moradia na sua carne. Agora, sozinho como de costume na casa paroquial, indo de um lado para o outro naquele maldito quarto que fedia ao perfume dela, impregnado nas paredes das lembranças dele, Charlie ptomava consciea que o pecado se fez vivo em carne.
Ele precisava conversar com Maria. Era uma questão de vida. Sua reputação e seu legado estavam em linha de risco agora. Suspirou fundo, começou a contar até dez, mas a cada número que tentava contar, era uma memória perdida voltando com socos contra sua mente. Parou, levou as mãos até a cabeça, segurando-a como se assim ele contivesse os pensamentos tumultuosos que confundiam a sua razão. A melhor forma de tirar a questão à limpo a história toda seria indo atrás de Maria. Ponto final. Por sorte ainda era dia lá fora, um belo domingo ainda lhe restava, talvez conseguisse achar onde Maria morava por meio do bom e velho pitaco com os fofoqueiros de plantão da comunidade. Vestido de preto dos pés às cabeças, ainda com seu uniforme de pároco, ele passou no banheiro para realinhar os cabelos volumosos no clássico topete que gostava se usar, alinhou a clérgima no pescoço, se encarou profundamente no espelho enquanto dava uma rápida escovada nos dentes para refrescar o hálito seco.
Murmurou para si mesmo:
— Você só vai descansar quando souber de toda a verdade, Charlie.Saiu num impulso, obstinado com o que poderia encontrar por aqueles sinuosos caminhos.
✟
O portãozinho branco de metal foi aberto pela mulher de meia-idade, cabelos grisalhos curtos, vestido modesto no corpo magro, um cardigã rosa-escuro de lã cobrindo-lhe os ombros. Um sorriso amistoso fazia com que as linhas de expressão acentuaram no seu rosto, sua voz era um tom de surpresa:
— Padre Charlie! Há quanto tempo meu filho! Entra, entra — gesticulou para que ele entrasse na pequena varanda da sua casa: — a que devo a sua visita nessas horas de um domingo?
— Tava de passagem pelo bairro, então resolvi parar aqui para tomar aquele cafezinho que só a senhora sabe fazer... Se não for pedir muito!
— Que nada! Você sempre será muito bem-vindo na nossa casa Padre! — A mulher respondeu sorridente, colocando uma mão gentil no seu ombro, o guiando pelo caminho de pedrinhas até a porta da sua casa aberta: — E você chegou na hora! Acabei de passar o café!
— Eu farejei a quilômetros! — Brincou o homem tentando manter o bom-humor, mascarando as dúvidas se Maria estaria ali.A sala da casa dos pais de Maria continuava a mesma coisa pelas vagas memórias do homem: pequena, tipicamente familiar, tinha uma parede repleta de quadros pendurados com fotos da família – entre os rostos, o inconfundível semblante de Maria, desde quando era uma bebe até adulta, estava espalhada pelos cantos, misturados entre fotos de seus tios e avós. Um raque enorme com uma televisão grande, cheio de quinquilharias desde estátuas decorativas, até aparelhos de vídeos ultrapassados juntavam poeira, dois sofás com um pano azul e almofadas feitas com retalhos de malha, o mesmo padrão dos tapetes ovalados davam uma mistura de cores vibrantes, contrastando com o azul-claro e o piso de cerâmica bege do cômodo. Pelo corredor podia ver a cozinha do outro lado através do arco.
Charlie conhecia cada cômodo dali: no corredor pequeno, à direita ficava o quarto de Maria, consideravelmente grande, com uma cama de casal e móveis de madeira que eram de uma tia dela, antigos porém intactos. Lembrava até do cheirinho de maciez e flores que sua roupa de cama tinha. Já no canto esquerdo, a porta do meio era para o banheiro simples com vaso sanitário e pia em cerâmica branca e uma banheira com um chuveiro feita de ladrilhos verdes. O último quarto era dos pais dela. Na cozinha havia uma porta que dava para os fundos da casa: um pedaço quadrado onde ficava o varal, uma cabaninha que servia de casinha dos acúmulos, e uma pequena horta que sua mãe cultivava. A casa tinha aquele mesmo cheirinho que ele sentiu na última vez que esteve ali: café coado na hora, amaciante suave e desinfetante de capim-limão. Sorriu nostálgico. Nem se ele quisesse, ele conseguiria reproduzir exatamente aquele cheirinho de casa de família que Maria tinha quando vinha aos seus braços diretamente da casa dela.
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𝕺𝖗𝖆çã𝖔. (Padre Charlie Mayhew ✟ SHORT-FIC | EM ANDAMENTO)
Romance✞ 𝕻𝖆𝖉𝖗𝖊 𝕮𝖍𝖆𝖗𝖑𝖎𝖊 𝕸𝖆𝖞𝖍𝖊𝖜 vive um conflito interno ao se apaixonar por Maria, uma mulher que, apesar de ser sua perdição, também representa a sua salvação. Entre momentos de prazer e dor, a relação deles desafia os votos e as responsa...