Capítulo 34: A Confusão Crescendo

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Richard.

Os dias seguintes foram uma mistura de tensão e inquietação. Nayala continuava me rondando, e não era mais só a presença dela que me incomodava. Era o jeito como ela olhava pra mim, como se estivesse tentando decifrar algo que eu estava fazendo de tudo pra esconder. Aquele olhar dela, firme e curioso, só me deixava mais ansioso.

Na favela, todo mundo sabia das coisas, mas, até aquele momento, ninguém sabia o suficiente sobre mim pra me ameaçar. E Nayala, com aquela memória que não parava de voltar, era um risco. Eu sabia que ela não ia desistir fácil. Se algo me fazia sentir medo, era a ideia dela descobrir quem eu realmente era, e o que eu tinha feito.

Rafa, como sempre, tava por perto, tentando me distrair. Ela parecia perceber que algo estava errado, mas não sabia exatamente o quê.

— Aí, Surf, tu tá na bad, né? Tá ligado que não vai rolar assim, né? Vai fundo com a mina, ou então, larga de mão de vez. Não fica nesse lenga-lenga, não.

Eu não sabia como responder. Não era bem sobre a Nayala, mas sobre tudo o que ela representava. Ela tava começando a colocar as peças do quebra-cabeça juntas. E eu não tinha mais controle. A história que eu tentava deixar pra trás tava voltando, e não tinha mais como esconder.

Quando, finalmente, vi Nayala de novo, foi no canto da favela. Ela tava sozinha, sentada num banco, com os olhos perdidos, como se estivesse esperando algo. Vi ela se levantar e olhar em minha direção assim que me aproximei.

— Oi... — Ela me cumprimentou com um sorriso fraco, como se estivesse indecisa.

Eu parei à distância, ainda tentando entender o que fazer.

— O que cê quer, Nayala?

Ela respirou fundo, como se tivesse se preparando pra algo importante.

— Eu… eu sei que você sabe de algo. Algo que pode me ajudar a entender o que aconteceu com a minha cabeça. Desde aquele dia no baile, parece que minha mente tá tentando voltar a uma memória que não consigo alcançar. Tem alguma coisa que você não tá me contando.

Eu olhei pra ela, o coração batendo forte. Estava começando a perceber que, mesmo sem querer, Nayala já tinha ultrapassado aquela linha invisível que eu tentava manter entre nós.

— Cê tá maluca, Nayala. Não sei do que tá falando.

Mas eu sabia que estava mentindo. E, no fundo, sabia que ela também sabia disso.

— Não sou maluca, Surf. Eu sinto que te conheço. Sinto que algo na minha cabeça está me dizendo que tudo isso já aconteceu antes. Não sei como, mas sei que você tem algo a ver com isso.

Havia um silêncio tenso, e naquele momento, as palavras pareciam mais pesadas do que qualquer bala que poderia ser disparada nas vielas da favela.

Ela deu um passo à frente, quase implorando por respostas. Seus olhos estavam cheios de uma mistura de desconfiança e dor. Eu sabia o que isso significava. Ela ia continuar atrás da verdade, mesmo que eu tentasse escondê-la.

— Se você não me disser a verdade, eu mesma vou descobrir. Não vou parar até entender o que tá acontecendo.

Eu só podia respirar fundo e me preparar para o que estava por vir. A minha vida inteira, a mentira que eu construí, tava começando a se desmoronar, e a última coisa que eu queria era colocar Nayala no meio dessa bagunça. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não conseguiria impedir o destino.

— Tudo bem, Nayala. Mas tem que entender que nem tudo que você quer saber é algo bom. Às vezes, é melhor deixar o passado onde ele tá.

Ela olhou pra mim por um momento longo, com os olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando ver além da minha fachada. E, de repente, ela se virou e foi embora, deixando no ar uma sensação estranha de que a verdade estava mais perto do que eu queria.

Eu não sabia o que o futuro me reservava, mas sabia que a presença dela significava que as coisas estavam prestes a mudar.

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