A Verdade Oculta

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Na manhã seguinte, Lara acordou com uma sensação de inquietude que não conseguia dissipar. Ela sabia que a conversa com Arthur seria decisiva. Havia algo no comportamento dele nos últimos dias que a deixava nervosa e curiosa ao mesmo tempo. Ele havia sido mais direto, mais impositivo. Como se tivesse decidido que era hora de desmascarar a fachada que estavam construindo juntos.

Ela se arrumou rapidamente e, ao entrar no carro, olhou para o espelho retrovisor, tentando se preparar mentalmente para o que estava por vir. A estranha combinação de raiva e atração que sentia por Arthur estava se tornando mais difícil de controlar, e ela sabia que isso precisava ser resolvido antes que as coisas saíssem ainda mais do controle.

Quando chegou ao escritório da Cavalcante Construtora, o prédio parecia ainda mais imponente do que o habitual. O elevador subiu até o andar onde o escritório de Arthur ficava, e, quando as portas se abriram, Lara deu um passo hesitante. Arthur estava atrás de sua mesa, olhando um relatório. Ele parecia completamente imerso no trabalho, mas, ao notar sua presença, levantou os olhos e fez um gesto com a mão, convidando-a a entrar.

— Sente-se, Lara — disse ele com sua voz firme e calma, mas havia algo nela que indicava que ele estava esperando por algo mais.

Ela se sentou, mantendo uma postura de controle, mas seu estômago estava revirado. Arthur observou-a por um momento antes de falar.

— Quero ser claro com você — começou ele, sem rodeios. — O que temos feito aqui é muito mais do que uma colaboração profissional. Eu sei que você sente isso. Você está começando a ver o que está em jogo.

Lara o encarou, tentando esconder a apreensão.

— Está em jogo um projeto, Arthur. Um projeto que, aliás, depende da nossa capacidade de trabalhar juntos. Não de… — Ela fez uma pausa, evitando usar as palavras que estavam em sua mente. — Não de sermos mais do que isso.

Arthur a observou com um olhar penetrante, como se estivesse tentando ler sua mente.

— Você mente muito bem, Lara — disse ele, finalmente quebrando o silêncio. — Mas eu sei que você também sente algo além do profissional. Não somos diferentes, você e eu. E isso… — ele fez uma pausa, como se ponderasse suas palavras. — Isso vai complicar as coisas para nós.

Lara sentiu seu corpo tenso. Ela não sabia como responder. A última coisa que queria era admitir que ele estava certo. Mas, no fundo, sabia que estava em um jogo perigoso.

— Eu não estou jogando, Arthur — respondeu ela, tentando manter a calma. — Eu estou aqui pelo projeto, e só por isso.

Arthur se aproximou da mesa e cruzou os braços, inclinando-se para frente. Seu olhar estava agora mais intenso, quase desafiador.

— Você se engana, Lara. A cada passo que damos, você vai perceber que isso vai além de um simples projeto. Esse projeto é apenas o começo. As pessoas, o trabalho, o sucesso… e até mesmo as emoções. Tudo isso está interligado.

Lara tentou manter a voz firme, mas algo dentro de si a fazia querer ceder, querer ouvir o que ele tinha a dizer. Mas ela se forçou a desviar os olhos.

— O que está dizendo, Arthur? Que estamos em um jogo que não podemos controlar?

Arthur sorriu de maneira enigmática. Ele sabia que a estava desafiando, sabia que ela não queria admitir que ele tinha razão. Ele se aproximou ainda mais, de modo que os dois estavam quase face a face.

— A vida é um jogo, Lara. E no final, você vai ter que escolher se quer continuar jogando comigo ou se quer sair da partida.

Lara sentiu um nó na garganta. Não era apenas o projeto que estava em jogo, mas algo muito mais profundo. Algo que ela não queria explorar, mas que estava ali, inevitavelmente. Algo entre ela e Arthur.

De repente, ela se levantou, irritada consigo mesma por ceder ao que estava acontecendo. Não podia deixar que isso se transformasse em algo mais. Não podia se permitir se envolver emocionalmente com alguém como ele.

— Isso não está funcionando, Arthur. Não da forma como você está tentando manipular as coisas. Eu estou aqui para o trabalho, e é isso que importa. Não vou deixar que isso vá além disso.

Arthur a observou com um olhar mais suave, quase triste, como se já soubesse o que ela diria. Ele deu um passo atrás e ficou em silêncio por um momento, antes de falar novamente.

— Eu nunca disse que seria fácil, Lara. Mas eu não vou desistir. E você também não.

Lara sentiu uma mistura de frustração e confusão. Ele estava certo. Ela não poderia simplesmente abandonar o projeto agora. Mas também não poderia ignorar o que estava acontecendo entre eles. Algo estava se formando, algo que ela não sabia como controlar.

Ela respirou fundo, tentando se acalmar.

— Não vai ser fácil para nenhum de nós — disse ela, finalmente. — Mas precisamos manter o foco no que realmente importa.

Arthur assentiu, mas seu olhar ainda estava carregado de algo que Lara não conseguia decifrar. Ele sabia que ela não estava sendo completamente honesta consigo mesma.

— Então, vamos seguir com o trabalho — disse ele, voltando à sua postura habitual. — Mas lembre-se, Lara, que a linha entre o profissional e o pessoal nunca foi tão tênue. E você vai ter que aprender a lidar com isso, como eu.

Lara sentiu um calafrio. Ele estava certo. Havia algo muito mais complexo entre eles, e ela não sabia até onde isso poderia levá-la.

Quando ela saiu do escritório, seus pensamentos estavam mais confusos do que nunca. O que começava como uma simples parceria profissional estava se tornando algo mais denso e enigmático, e Lara sabia que, a partir daquele momento, nada seria mais simples.

Entre Contratos e Coração ⚪Volume 2⚪Onde histórias criam vida. Descubra agora