{Segundo Livro da Trilogia Corações de Zaun.}
Sinopse:
Como uma tempestade que se contorce, cruzando os céus com trovões e escuridão antes de se derramar, Lyria se desfez, despedaçada de suas nuances, assistindo seu mundo se reduzir a nada mais do q...
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Música para Trilha Sonora do Capítulo: Animal_ Aurora.
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Ela me dilacerava. Em mares que rugem do escuro, como explosões tentando atrair os meus olhos. Explosões que pulverizam no ar todo tipo de sentimentos nocivos e perigosos. E eu fico em silêncio, estática, sem pensar em me mover. A minha memória ainda ouve ás pancadas do seu coração, daquele maldito instante congelado no tempo. Isso me magoa. E você não sabe o quanto.
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Vi entrou no apartamento após boas três horas escalando uma montanha de papeladas legais e burocracias para finalmente oficializar a custódia de Lyria. Aquela luta constante para manter Lyria sob sua proteção finalmente havia chegado ao fim e ela se sentia profundamente aliviada.
Ao fechar a porta e tirar os sapatos, Vi notou um detalhe fora do lugar, um par de sapatos masculinos repousava discretamente ao lado da porta de entrada. O ar na casa pareceu subitamente carregado, cada som e cada sombra um sinal de alerta. Vi sentiu o coração apertar e uma pontada de tensão tomou conta dela, aquecendo sua pele em uma onda de inquietação.
Passando silenciosamente pelo corredor, Vi subiu as escadas, os passos pesados, mas cuidadosos, na direção do quarto de Lyria. Ao se aproximar, notou que a porta estava entreaberta e dentro do quarto ecoava o som da água do banheiro, indicando que alguém estava lá.
Ela hesitou na porta, os dedos já se estendendo para fechá-la, dando privacidade a Lyria. Mas então, um som inesperado a fez congelar no lugar.
Ela ouviu, nítido e claro, um som que poderia ter sido abafado pela água, mas não era. Era o som da Assassina. De gemidos, quase choramingando, como se estivesse entregue ao toque de alguém.
Um choque a percorreu dos pés à cabeça, como se um golpe tivesse acertado seu estômago.
Vi se apoiou contra a parede, seus dedos trêmulos se apoiando na superfície, como se fosse a única coisa a mantê-la de pé naquele momento. Seus pensamentos se embaralharam, pulsando entre a incredulidade e a raiva.
Um ciúme feroz se alojou em seu peito, queimando seu corpo inteiro, uma dor misturada com o impulso irracional de abrir aquela porta de uma vez e encarar a cena que, no fundo, sabia que a destruíria.
Seus pensamentos giravam em espiral, era irracional, sabia disso, não tinha o direito de se sentir assim.
A confusão, o ressentimento, o desejo de Lyria por sua própria independência... Vi compreendia tudo isso, mas não conseguia se impedir de sentir seu sangue ferver.
Ela havia traído sua confiança, sim, mas por um bom motivo, uma decisão que, embora errada, havia tomado para o que julgava ser o melhor. E agora... Lyria, parecia estar se entregando a alguém, enquanto ela sacrificava cada pedaço de si mesma para garantir sua segurança.
Cada segundo que passava, cada pequeno som que emergia de dentro daquele banheiro alimentava o turbilhão de emoções dentro dela. Ela não sabia se estava furiosa com Lyria, consigo mesma, ou com aquele homem desconhecido cuja presença ali parecia uma afronta.
Virando as costas para a porta, respirou fundo, reprimindo o impulso de esmurrar algo, de gritar. Sentia como se o chão estivesse desmoronando debaixo de seus pés e a vulnerabilidade que nunca permitia a si mesma se infiltrar agora vazava como sangue jorrando de uma ferida aberta.
Ela desceu as escadas com passos pesados, tentando apagar a imagem que sua mente insistia em pintar, Lyria, entregue aos braços de um homem, em um momento de intimidade que ela jamais imaginara presenciar.
Sentada na sala, os punhos cerrados, ela tentou recuperar o controle de sua respiração, a Assassina deveria estar punindo-a, depois de tudo. Lyria era inteligente, sabia como ferir e se tudo aquilo tivesse sido planejado, com a porta do quarto aberta como se a convidasse para se aproximar, para escutar o que estava acontecendo, então Lyria havia escolhido exatamente a vingança perfeita contra ela.
Cada lembrança, cada segundo que passaram juntas e cada sacrifício que fizera para protegê-la pareciam perder o sentido. O vazio se espalhava dentro dela, ameaçando consumi-la.
Vi permaneceu ali, sentada, os braços apoiados sobre os joelhos enquanto tentava, desesperadamente, manter o controle. Seus pensamentos ainda pulsavam em sua mente, como um martelo incessante, as imagens que ela mesma criava e odiava por não conseguir afastar, corroendo cada pedaço de calma que ainda restava, mas então, com o passar de muitos minutos, o som de passos descendo as escadas ecoou pelo cômodo e ela não precisou olhar para saber que era aquele que estava com Lyria.
Quando levantou o olhar, sentiu o ar ficando pesado e tudo nela parou, como se estivesse presa em um instante de puro desgosto.
Chadwick.
Ele estava ali. Terminando de fechar os últimos botões da camisa encharcada, os fios de cabelo ainda molhados e a pele úmida como prova irrefutável de tudo que Vi já suspeitava, mas que agora desmoronava em uma dor real.
