O vento frio soprava forte naquela manhã, chicoteando as ondas contra o casco do drakkar. Diana estava ajoelhada no chão do convés, suas mãos pequenas e delicadas tentando limpar uma panela de ferro que parecia nunca ficar livre de sujeira. O aroma salgado do mar misturava-se ao cheiro de madeira molhada e óleo de peixe, tornando o ambiente pesado e claustrofóbico.
Seus olhos verdes estavam semicerrados contra o vento, e seus cabelos ruivos, ainda úmidos pela maresia, caíam em pesadas ondas sobre seus ombros. A roupa que Ragnar lhe permitira usar - um vestido simples e grosseiro feito de lã - era quente, mas apertado demais, destacando suas curvas e atraindo olhares indesejados.
Apenas a presença de Ragnar impedia que aqueles olhares se transformassem em algo mais. No entanto, sua proteção era mais uma imposição de domínio do que um gesto de cuidado.
"Mais rápido, garota!" a voz grave de Ragnar soou acima do som do mar, um trovão que fez Diana estremecer.
"Sim, senhor," ela respondeu imediatamente, a voz baixa e hesitante, enquanto suas mãos se moviam mais rápido.
Ragnar, de pé perto do mastro principal, a observava com uma expressão indecifrável. Ele havia ordenado que ela limpasse todos os utensílios do navio naquela manhã, uma tarefa que parecia desnecessária, mas ele não ligava. Era sua maneira de lembrar a ela - e a si mesmo - que ela era uma escrava, uma propriedade, nada mais.
"Você trabalha como uma criança mimada," ele comentou, aproximando-se dela. Sua sombra, imensa, cobriu Diana completamente.
"Desculpe, senhor," ela murmurou, sem ousar erguer os olhos.
"Levante-se," Ragnar ordenou, cruzando os braços.
Diana hesitou por um momento, mas fez o que lhe foi mandado. Quando ficou de pé, ela era quase uma cabeça menor do que ele, sua figura pequena contrastando com a presença imponente de Ragnar. Ele olhou para ela, analisando cada detalhe - os olhos grandes e inocentes, a pele pálida como porcelana, os cabelos ruivos brilhando sob a luz cinzenta do dia.
"Você entende por que está aqui?" ele perguntou, inclinando-se levemente para que seus olhos azuis penetrantes ficassem ao nível dos dela.
Diana engoliu em seco, sentindo o peso de sua proximidade.
"Eu... estou aqui para servi-lo, senhor."A resposta parecia satisfazê-lo, mas ele não demonstrou. Em vez disso, ele ergueu a mão, segurando uma mecha do cabelo dela entre os dedos.
"Esses cabelos. Nunca vi algo assim. Tão vermelhos quanto o fogo. Tão macios..."Ela ficou completamente imóvel, o coração disparado, enquanto ele examinava a mecha como se fosse um troféu.
"Mas fogo queima," ele continuou, sua voz baixa e sombria. "E eu não quero ser queimado por uma escrava."
"Eu... eu nunca faria mal ao senhor," Diana respondeu rapidamente, a voz tremendo.
Ragnar riu, um som áspero e sem humor.
"Não? Você acha que tem escolha?" Ele soltou a mecha de cabelo com brutalidade e deu um passo para trás, ainda a encarando. "Se eu mandar você pular no mar agora, você vai hesitar?"Ela arregalou os olhos, assustada.
"Eu... eu faria o que o senhor mandasse." Claro que ela não pularia no mar, mas diria qualquer coisa que ele quisesse ouvir."Bom," ele disse, satisfeito. "É melhor você lembrar disso."
Quando o drakkar finalmente atracou na pequena vila nórdica, Diana sentiu seu coração apertar. A vila era cercada por montanhas imponentes e o som do vento que soprava entre as árvores era quase tão ameaçador quanto os olhares que ela recebia.
YOU ARE READING
Viking
RomanceNo século IX, em meio a uma Europa em conflito, Viking narra a cativante história de Diana, uma jovem camponesa francesa, cuja vida como serva dos nobres ingleses é marcada por desafios e humilhações. Durante uma viagem pelo mar do Norte, um terrív...