Castelo de areia

Parte 10

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O show da noite passada tinha sido incrível, a sensação de liberdade de estar no palco o fazia sentir-se vivo e não era segredo para os mais próximos (sua irmã e Chimon) que esta tinha sido a sua salvação nos últimos dois anos.

Frequentemente ele se questionava sobre as oportunidades que perdeu ficando trancado em seu quarto, sendo que poderia estar vivenciando tudo isso há muito mais tempo.

Ele achava curioso que, depois da sua mudança de estilo de vida, as pessoas que antes diziam que ele deveria viver mais, agora insistiam em pedir para que ele diminuísse o ritmo. Parecia que nada estava bom para elas e ficava cada dia mais cansativo tentar agradar a todos.

Não importava, ele não iria pensar sobre isso.

A única coisa em que ele pensava e se sentia grato era pelo reconhecimento que sua banda recebia: os shows eram feitos em lugares maiores e o público cantava e dançava a noite toda. E se esta parte já era boa, ao terminar as apresentações era ainda melhor, mesmo que por vezes ele não se lembrasse muito bem do que acontecia.

Na noite passada, duas garotas com rostos familiares ficaram ao lado do palco (Pran não sabia dizer se eram conhecidas da faculdade ou dos bares onde tocava, o fato era que elas não pareciam estranhas) e foi quase automático sorrir para elas.

Assim que terminou a última música, ele as encontrou no camarim. As duas estavam lá? Talvez sim. Ele não lembrava ao certo, mas acreditava que tinha beijado pelo menos uma delas.

Tinha sido bom? Beijar essas garotas tinha sido bom?

Não importava, ele não iria pensar sobre isso.

Ele acordou na sua cama em seu dormitório e, embora não soubesse como tinha chegado lá e muito menos onde tinha jogado sua camiseta, ele se sentiu feliz por ainda estar usando a calça do show. Ele verificou seu celular, levantou, tomou um banho e se arrastou para a aula.

Ele não se arrependia do que tinha feito na noite anterior e tentava enfrentar tanto a ressaca quanto o cansaço por ter dormido menos de duas horas antes da aula.

Em outras circunstâncias, Pran desligaria o despertador e continuaria dormindo, mas a Aula de Fotografia era a sua preferida e ele decidiu que iria encarar a dor de cabeça que quase o impedia de  manter os olhos abertos e iria para faculdade.

Se ele não se lembrava muito bem do que tinha acontecido, isto era um sinal de que a noite tinha sido boa, certo? Provavelmente Chimon o tinha carregado para casa, afinal ele sempre estava lá para ajudá-lo e impedi-lo de fazer bobagens.

Pran riu e seu estômago se agitou de um jeito azedo, por isso ele deitou o rosto na palma da mão, deixando o cotovelo apoiado na mesa, e se forçou a acreditar que tudo iria ficar bem se não fizesse movimentos bruscos.

Apesar da sua indisposição, ele sorriu e cumprimentou por educação a garota que sentou ao seu lado.

Antes as pessoas o ignoravam ou olhavam com desdém, agora era um pouco mais comum receber olhares de admiração e flerte. Tanto antes quanto agora, ele ignorava essas interações. Mesmo assim, a garota insistia em manter o olhar fixo nele e ele se esforçava para manter um sorriso cortês.

“Você foi incrível ontem!” Ela sussurrou depois de alguns minutos e colocou o cabelo atrás da orelha.

“Que bom que você gostou!” Pran falou tentando manter o que quer que estivesse dentro do seu estômago quieto ali “Você estava no show?”

Assim que terminou sua pergunta, ele soube que algo estava errado porque a garota o encarou por alguns segundos, suas bochechas ficaram vermelhas, depois ela piscou algumas vezes, mantendo a boca aberta como se não acreditasse no que tinha ouvido e não soubesse o que responder.