Eu simplesmente odeio Murphy e sua maldita lei de que, se existe uma possibilidade de algo dar errado, dará. Quais as chances de Amanda aparecer na minha casa em plena segunda-feira para falar de trabalho? Nenhuma! Ela odiava trabalhar. Tenho certeza de que ela só aceitou o serviço no escritório para não ficar o dia inteiro naquele mausoléu onde nossa família mora. Já falei mil vezes que ela precisa se mudar, mas Amanda insiste em ficar naquela casa horrível e com os fantasmas vivos sugadores de alma que vivem lá com ela. Vulgo, os Farias.
Quando ela chegou, achei que as coisas com Stella ficariam muito ruins. Mas, felizmente, minha prima foi incrivelmente simpática e até fiquei impressionada. Não me lembrava de que ela ainda sabia ser uma pessoa amigável.
Enquanto buscava o processo que Amanda precisava, percebi que as duas conversam. Quando voltei, escutei minha prima dizer:
— Mas você precisa contar a verdade pra ela.
— Contar a verdade para quem? — perguntei, tentando parecer casual, mas sem conseguir disfarçar minha curiosidade. E o clima na sala já não parecia o mesmo.
— Ah, a gente estava falando da Isa. Um problema delas no trabalho, mas nada demais — Amanda me deu um sorriso forçado enquanto Stella desviava o olhar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eu já vou, só vim buscar o processo. Boa noite para vocês. Não façam nada que eu não faria.
Amanda se despediu e saiu como um furacão.
— Eu também preciso ir. Já está tarde — Stella disse em seguida, mas parecia sem ter muita certeza das próprias palavras.
— Não! Está tarde! — falei, confusa, sentindo que ela escapava de mim. Alguma coisa estava diferente.
— Foi o que eu acabei de dizer — Stella falou, com um sorriso divertido que iluminou seu rosto por um momento.
Ela parecia estar brincando com a minha falta de jeito, mas alguma coisa me dizia que ela estava fugindo. Outra vez.
— Fica, dorme aqui — falei, sem pensar.
Stella suspirou, e por um momento, pensei que ela fosse aceitar. Meu coração acelerou com aquela possibilidade. Como seria acordar ao lado dela? Eu precisava descobrir!
— Eu não posso — sua voz era suave, mas cansada. — Estou sem carro e tenho aula amanhã cedinho. Minha vida está uma loucura. E eu preciso checar a Letícia. Ela sempre me espera para dormir quando estou de folga.
— Eu vou te levar então. Só um minuto, vou buscar minha chave.
— Não precisa! Eu moro do outro lado da cidade.
— Stella, eu não vou te deixar ir sozinha a essa hora — rebati, firme.
Ela me olhou, surpresa, e seus olhos tinham um brilho diferente que eu não consegui decifrar. Era uma espécie de admiração? Resistência? Gratidão? Eram muitas coisas. Ela era muita coisa.
— Você não precisa fazer isso — Stella repetiu, assim que voltei com a chave.
— Eu quero.
— Tudo bem, vamos — após um suspiro, Stella me estendeu a mão, a puxei e a beijei outra vez antes de entrarmos no carro.
A viagem até a casa de Stella foi quase silenciosa. Eu podia sentir que ela queria dizer algo, mas toda vez que eu olhava para ela, ela desviava o olhar para a janela, como se os sinais vermelhos que eu parava fossem muito interessantes.
— É a casa da esquina — Stella apontou quando entramos na sua rua. — Obrigada por me trazer, Luna. E... pela noite. Foi incrível.
Ela virou o rosto para mim e seus olhos estavam com aquele brilho escuro de dor que tanto mexiam comigo.
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Due
RomanceStella é uma jovem sem muito tempo para sonhos e que leva uma vida dupla: durante o dia, ela é uma estudante dedicada, e à noite, brilha como Estrela, uma sedutora dançarina. Em meio à sua rotina agitada, Stella conhece Ayla Luna, uma advogada de s...