39 | afraid.

952 203 371
                                    

Abro os olhos lentamente, aos poucos o cenário branco com alguns móveis se tornando presente. Há uma música no fundo, algo clássico, com muito piano e violino ecoando pelo cômodo que identifico ser uma sala; móveis planejados, escuros, luzes fortes, uma televisão e um sofá. Na cômoda, há quadros de crianças, crianças de Nicolas Baker.

Filho da puta.

Começo a me mexer desesperadamente, sentindo minha garganta seca demais para dizer algo, o corpo trêmulo. Sinto algo apertando meus pulsos e devagar, olho para baixo, encontrando um laço vermelho forte – grosso e bem apertado – algo que me machuca a cada movimento brusco. Instintivamente, puxo os braços, não conseguindo me mexer o suficiente. Estou muito fraca.

Desço meu olhar até minhas coxas e, com a respiração acelerada, minhas mãos trêmulas tentam alcançar a barra do vestido, apesar do laço limitar os movimentos. Mesmo assim, consigo levantá-lo com cautela. Meu peito desce e sobe rapidamente, enquanto meus olhos buscam qualquer vestígio de... Violência. Marcas. Que seja.

Mas não há nada.

Um alívio momentâneo me invade e uma lágrima solitária escapa dos meus olhos, deslizando pelas bochechas e caindo com tudo no tecido de cetim. Não estou segura. Não estou nem sequer perto disso.

— Finalmente acordou.

A voz dele é como um choque elétrico, fria e controlada. Sinto meu corpo congelar antes de subir o olhar até seu rosto, coberto por uma empatia inexistente e narcisismo. Ele se aproxima em passos curtos e automaticamente recuo, me encolhendo sob o sofá aos poucos.

— O que você fez comigo? — pergunto fracamente, engolindo seco.

— Você estava descontrolada, babe. — se aproximou, sentando-se ao meu lado com os cotovelos apoiados nos joelhos. — Eu precisava fazer algo antes que você me machucasse, ou pior, se machucasse. Não sou um cara mau, okay?

Me machucasse? — junto as sobrancelhas. — Você acertou um soco no meu rosto, me trouxe para cá contra minha vontade e agora está me prendendo... Isso é loucura.

Ele suspirou, afastando uma mecha de cabelo do meu rosto e colocando atrás da minha orelha. Meus lábios tremem, desejando gritar o mais alto possível, mesmo que isso significasse levar outro soco.

— Loucura? Não. — negou, a voz cheia de sarcasmo. — Isso é cuidado, entende? Proteção. Algo que costumo fazer com todas minhas alunas.

Todas minhas alunas? Então teve outras? Quantas? Ele as tocou? Machucou? O maior diretor de Nova York, que dirigiu tantas peças, uma inspiração para caras como Ryan... Eu deveria ter percebido, porra Alyssa. Você é culpada por isso. Ninguém é tão doce e educado se em troca não receber algo.

— Não quero sua proteção.

— Não seja tão teimosa, babe. — deslizou o polegar pelo meu queixo. — Você é linda, talentosa e acima de tudo, jovem. Sabe quantos caras matariam para dormir um dia ao seu lado? August, Jeremy, eu... E claro, a sua ex, Billie.

Ouvir o nome de Billie depois do que aconteceu faz cada pelinho dos meus braços se levantarem. Não há palavras para descrever o quanto sinto sua falta, mesmo depois de todas as merdas que ela fez. Uma parte minha só quer deitar em seus braços e chorar bem baixinho, porque agora, tudo que eu consigo sentir é medo.

dopamina | billie eilish Onde histórias criam vida. Descubra agora