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— Onde estamos?

—Na minha cabine. Achei que seria mais confortável comermos aqui, já que talvez ficasse desconfortável com o barulho do refeitório.

Pensei que aquilo era ridículo, mas estava muito concentrada em não lamber alguma parte aleatória do corpo dele. O que tinha naquele cheiro? Será que Desi se sentia assim o tempo todo?

Ele puxou a cadeira em frente a uma pequena mesa para que eu me sentasse. Podia ver uma janela que dava vista para a proa do navio. O mar exibia ondas perfeitas para a navegação.

Dois homens chegaram com pratos de macarrão com camarões e uma garrafa de vinho. Eles partiram em seguida, nos deixando sozinhos.

Sebastião tentou sair da minha cabeça em direção à mesa, mas o coloquei no chão. Em seguida, peguei dois camarões e coloquei um em cada garrinha de Sebastião.

Quando olhei para cima, Cody me observava sorrindo.

— Você é muito interessante.

Fiquei um pouco envergonhada, sem saber se aquilo era um elogio ou não, então mudei de assunto.

— Então, como funciona essa substância que utiliza para continuar jovem?

— Ah, isso se chama quintessência. É retirada de algumas minas e, além de poder te dar a vida eterna, proporciona poderes especiais.

— Uau, parece quase milagroso.

— Sim, a família que fabrica ficou muito rica.

— Imagino, é um monopólio, então?

— Não exatamente, mas eles têm a tecnologia para produzir e são os melhores.

— Entendi.

— Mas ainda podemos adoecer ou morrer envenenados, sufocados ou de qualquer outra coisa que aconteceria com um humano comum. Apenas paramos de envelhecer.

— Já é um feito impressionante.

— Sim, realmente.

Incrível, mas parecia muito antinatural. Como um produto alquímico poderia parar o ciclo da vida?

A comida estava deliciosa, e o vinho também. Cody tinha um rosto quase fofo, um pouco infantil, como se tivesse acabado de sair da adolescência. A falta de barba só aumentava essa sensação. Pensar que esse homem possuía quase 60 anos era difícil de acreditar. Será que as pessoas se sentiam assim perto de mim?

— Mas o que está fazendo por aqui, em vez de participar da guerra com Cristália?

Ele pareceu um pouco desconfortável ao me ouvir falar sobre a invasão de seu país ao meu. A guerra externa não era uma grande preocupação para mim, ou para qualquer um dos eternos.

Além das três grandes cidades, vivíamos completamente espalhados, apenas nos nossos núcleos familiares. Não formávamos outras cidades há milênios. Tínhamos nossa cidade estudantil, onde as crianças e os universitários estudavam, a cidade militar e a capital.

A terceira, por mais incrível que pareça, era a menor. Era considerada uma cidade apenas por abrigar o castelo do rei. Não deveria ter mais de três mil pessoas. Já a militar e a estudantil deviam ter cerca de dez mil cada, contando os elfos, fadas, vampiros e quaisquer outras raças que morassem lá.

Minha raça não se incomodaria com os humanos invadindo até que a guerra civil terminasse ou eles tentassem entrar em nossas cidades. Nesse caso, seriam completamente dizimados. Mas ouvi dizer que os pridanianos evitavam as regiões ao redor das três cidades. Realmente covardes.

— Bem, fui ordenado a manter o controle sobre as outras áreas e vim investigar o caso do monstro nesta ilha.

— Que tipo de monstro é?

— Bem, na verdade é um serial killer. As pessoas de fora inventaram essa história de monstro.

— Nossa. Mas como vocês sabem que é a mesma pessoa causando os assassinatos?

— Todos os cadáveres têm um papel com uma nota musical presa aos corpos.

Estremeci um pouco. Esperava que isso fosse feito depois de mortos.

— Já identificaram algum padrão? Serial killers normalmente têm padrões nos assassinatos.

— A única coisa em comum é que são pessoas com capacidade produtiva. Nenhum idoso ou criança. Todos aparentemente saudáveis.

Franzi o cenho. Parecia pouco para identificar quem eram essas pessoas.

— E todos eram turistas.

Isso me fez arregalar os olhos. Não sabia mais se era uma boa ideia ir até lá. Mas não ficaríamos hospedados nem mesmo por 24 horas. Seria apenas o tempo de abastecer para eu teletransportar todos. Nada deveria dar errado em apenas um dia no meio de uma cidade movimentada.

— Entendi.

— Por isso, tome cuidado.

Ele segurou minha mão. Olhei para baixo e o cheiro pareceu ficar mais forte. Provavelmente vinha dessa quintessência que ele tomava. Isso não fazia muito sentido. Nós éramos os seres mais antigos, a segunda criação da deusa, logo após a criação do próprio planeta.

A única coisa que nos dava essa sensação era o poder divino, quando algo muito próximo das deusas nos tocava. Isso significava que essa substância vinha de alguma coisa primordial. Imagino que não devesse ser explorada.

Fiz uma careta ao pensar nisso. Esse é um problema que os eternos se interessariam. Só me preocupo que, quando a guerra civil finalmente acabar, a exploração desse produto já tenha feito um estrago muito grande.

— Senhorita Isarosa?

Saí do meu mundinho interior e foquei na conversa.

— Quão difundida é essa quintessência?

— Em Pridânia, todos os que possuem dinheiro compram. Em outros países, nem tanto.

Balancei a cabeça, concordando. Cody ainda segurava minha mão, mas eu não tinha vontade de soltá-la. Pensando bem, isso poderia ser uma droga extremamente viciante para minha raça. Precisava pensar em meios de tornar esse assunto importante o mais rápido possível.

Terminamos de comer, e Cody se levantou. Saiu do cômodo e voltou em seguida. Um homem retirou os pratos e trouxe bolo e café. O doce estava bonito, as frutas pareciam frescas, algo difícil de fazer em um navio.

A sobremesa estava ótima, e finalmente estávamos conversando amenidades. O capitão era bem interessante.

— Então, o que está fazendo aqui, quase em Pridânia? Viajando com humanos, ainda por cima. Eu entenderia a companhia se fossem apenas o anão e o vampiro.

— Acabamos nos encontrando no caminho e  por estarmos indo para o mesmo lugar, acabou sendo cômodo tê-los por perto.

Ouvi vários clac clacs, e quando olhei para baixo, meu caranguejo esticava as garrinhas em minha direção. Meu coração amoleceu. Abaixei-me novamente e o peguei, colocando-o como chapéu.

Sebastião começou a andar pela minha cabeça, e senti meu cabelo ficando bagunçado. Olhei para cima e vi que o crustáceo havia fechado os olhos.

Bônus:

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