— Perfeito — murmuro para mim mesma, batendo as mãos uma na outra para me livrar dos últimos resquícios de poeira. Passei o dia inteiro imersa em uma limpeza que parecia interminável, mas que finalmente dava resultados. O ambiente já começava a parecer habitável, ainda que longe do ideal. Quando terminei, o relógio já marcava pouco mais das quatro da tarde.
— Ai, meu Deus! Eu estou atrasada! — exclamo, percebendo o horário e sentindo a adrenalina me invadir. Com passos apressados, vou em direção ao quarto. A primeira toalha que encontro é arrancada de uma das malas, e sigo direto para o banheiro, tentando não tropeçar no caminho.
Após um banho rápido, mas eficaz o suficiente para me deixar com aquele cheiro fresco de sabonete, caminho até o quarto com a toalha enrolada no corpo. Me seco rapidamente enquanto minha mente já está ocupada, vasculhando ideias para a combinação do dia. A escolha é simples, mas com um toque de estilo: uma calça jeans clara com os clássicos rasgos na altura das coxas, uma blusa sem mangas que deixa os ombros à mostra e, para finalizar, a minha fiel jaqueta de couro.
Paro em frente ao espelho minúsculo e dou uma breve conferida. Beleza nunca foi um problema para mim, e hoje não seria diferente. Com um sorriso discreto, pego meus pertences essenciais, incluindo o capacete, e sigo em direção ao estacionamento. É hora de enfrentar mais um dia em Serenita.
Meus olhos alternam entre o GPS no suporte do guidão e a estrada à minha frente. É meio de semana e o movimento da cidade está intenso; carros e motos circulam em um ritmo apressado, como se todos tivessem uma urgência maior que a minha. O vento bate contra o meu rosto, bagunçando levemente os cachos que escapam das minhas tranças. O som do motor da moto ecoa constante, quase como uma trilha sonora que me acompanha enquanto piloto.
Depois de cerca de quinze minutos percorrendo as ruas da cidade, finalmente estaciono a minha companheira fiel em frente a um lar adotivo. Dou uma breve olhada ao meu redor, analisando o espaço e confirmando o endereço.
— Acho que é aqui... Se estiver errado, a Lorrane me paga — murmuro, retirando o capacete e ajeitando os cabelos enquanto observo a fachada do lugar.
— Disse algo, moça? — A voz grave e curiosa de um senhor me tira dos pensamentos. Ele está parado na calçada, com as mãos nos bolsos e um olhar amistoso que contrasta com os traços marcados de alguém que já viu muito da vida.
— Oh, não, senhor — respondo rapidamente com um sorriso educado. — Mas, gostaria de uma informação.
Ele faz um pequeno aceno com a cabeça, como se pedisse para eu continuar.
— Esse é o Lar Aurora? — pergunto com um tom casual, gesticulando em direção ao portão do local.
— Claro, filha — responde ele, abrindo um sorriso acolhedor. — Você deseja entrar?
Assinto sem hesitar, e ele dá um passo para o lado, indicando que posso seguir em frente.
— Muito obrigada — agradeço com um leve sussurro, e passo por ele em direção à entrada.
Atravesso o portão, meus passos ecoando no pequeno caminho de pedras que leva à porta principal. A fachada do lugar é simples, mas há um cuidado evidente na organização; vasos com flores estão posicionados ao longo do caminho, e o som distante de risadas infantis chega até mim. Inspiro profundamente, sentindo uma leve mistura de nervosismo e expectativa pelo que me espera ali dentro.
Vejo uma mulher de estatura mediana se aproximar. Seus cabelos loiros, bem cuidados têm um brilho saudável, e, apesar da idade que aparenta, é evidente o cuidado que tem consigo mesma. Ela caminha com leveza, carregando uma expressão serena que imediatamente me deixa à vontade.
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Seis meses para amar
RomanceRebeca Andrade nunca cria raízes. Motoqueira de espírito livre, ela traçou sua vida em viagens, mudando de cidade a cada seis meses, como se o tempo fosse um limite inquebrável para qualquer conexão mais profunda. Para ela, relacionamentos são como...