Capítulo 1 - Frustração

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O som abafado de socos e gritos ecoava pelos corredores da universidade, atraindo a atenção de quem passava. Em meio ao tumulto, um pequeno círculo de estudantes se formou ao redor da confusão, onde estava cercado por pelo menos cinco outros rapazes. Com a respiração pesada e os punhos cerrados, o garoto de jaqueta preta continuava a distribuir golpes na intenção de machucar, sem hesitar. Mesmo em menor número, sua presença parecia intimidar os oponentes, ainda que não pudesse evitar todos os ataques que vinham de diferentes maneiras.

O ambiente estava tenso, carregado de adrenalina e raiva contida. A cada soco que ele desferia, um novo adversário caía ou recuava, mas logo outros dois tomavam o lugar, criando um ciclo de caos que parecia não ter fim. Ele cambaleava, sentia o gosto metálico de sangue na boca, mas os olhos fixos em seus adversários mostravam que desistir não era uma opção.

A comoção rapidamente chamou a atenção da segurança do campus, e antes que a situação piorasse, dois deles surgiram, forçando seu caminho pela multidão e interrompendo a briga. Um deles, com expressão grave e voz firme, segurou o rapaz pelos ombros, separando-o dos outros que ainda tentavam alcançar a sua fúria.

— Qual é o seu nome, garoto? — Disse um dos seguranças, enquanto os outros afastavam os agressores.

Ele respirou fundo, ainda ofegante, limpando o sangue que escorria pelo canto dos lábios, e encarou o segurança com olhos solicitados, sem pressa para responder.

— Isso não vai acabar aqui, você sabe disso, certo? — continuou ele, desta vez em um tom mais sério, como quem já estava habituado a lidar com encrenqueiros.

O silêncio entre os dois durou o que pareceu uma eternidade. O baixo garotou a cabeça por um instante, observando o chão enquanto seu peito subia e descia, o corpo ainda quente pela briga recente. Alguns curiosos se afastaram, cochichando entre si, mas a maioria ainda mantinha os olhos fixos na cena, esperando pela continuação do espetáculo.

— Nome... o nome, garoto. — insistiu o segurança, agora um pouco mais impaciente.

— Santos — respondeu, finalmente, de maneira seca e rouca, sem desviar o olhar quando voltou a encarar o homem à sua frente.

— Certo, Santos... Vamos pra diretoria. — O segurança não parecia surpreso, apenas balançou a cabeça levemente como se já soubesse que isso aconteceria. Com uma mão firme, mas sem agressividade, o guiou pelos corredores, enquanto o outro segurança mantinha os olhos nos outros envolvidos na briga.

Ao atravessar os corredores rumo à diretoria, Santos sentiu os olhares curiosos e julgadores o seguindo, como se cada estudante tivesse algo a dizer sobre ele, embora ninguém tivesse coragem de se manifestar. Em seu rosto, o orgulho ferido se misturava com o cansaço, e mesmo assim havia algo na maneira como ele caminhava, mesmo machucado, algo que os outros impedia de dizer a ele.

Ao chegar à porta da sala do diretor, o segurança deu duas batidas rápidas e abriu a porta sem cerimônia.

O segurança se tirou ao empurrar Santos adentro da sala, apontando para a cadeira à frente da mesa do diretor. O homem sentado à mesa era mais velho, com óculos de aro fino e uma expressão exasperada, como se aquela não fosse a primeira vez que alguém cruzasse sua sala por causa de uma briga.

— Sente-se — disse o diretor sem levantar a cabeça dos papéis à sua frente.

Santos obedeceu, afundando-se na cadeira, ainda sem se preocupar em esconder as marcas da briga, como o olho inchado e os lábios cortados. O diretor respirou fundo, finalmente levantando os olhos.

— Sabe, Santos, já ouvi falar de você. Não é a primeira vez que o seu nome chega até mim. — Ele fechou uma pasta de documentos e apoiou os cotovelos na mesa. — Agora, me conte... o que exatamente aconteceu dessa vez?

Sem TemorOnde histórias criam vida. Descubra agora