Emma mal havia se acomodado em sua mesa quando Renata, a coordenadora da equipe, jogou uma pilha de relatórios na frente dela.
– Preciso que você revise e reformule isso para a apresentação de amanhã – disse, sem sequer levantar os olhos do celular.Emma olhou para os documentos. Eram gráficos, propostas, e um conceito vago para uma nova campanha publicitária de realidade aumentada. "É só o primeiro dia. Eles estão testando minha resistência", pensou, tentando manter o foco.
– Alguma orientação específica? – perguntou Emma.
Renata riu.
– Sim. Impressione o chefe. Ele odeia qualquer coisa que pareça medíocre.A palavra "odeia" soou mais alta do que deveria. Emma se forçou a engolir o desconforto e começou a trabalhar.
Enquanto ajustava detalhes e rabiscava novas ideias, sentia o peso do ambiente ao redor. Os colegas falavam em tons baixos, mas com uma tensão constante. Não era só a exigência do trabalho; era a figura de Leonardo Moretti que pairava como uma nuvem carregada sobre todos.
Às 14h, quando finalmente sentiu que o material estava coeso, Renata se aproximou com um sorriso quase cruel.
– Leve isso para o Leonardo. Ele quer revisar antes da reunião de amanhã.Emma hesitou.
– Agora?Renata arqueou a sobrancelha.
– Ou prefere entregar algo pela metade? Boa sorte.Emma pegou o notebook e os documentos. Apesar do nervosismo, ela não podia deixar transparecer. A sala de Leonardo ficava no final do corredor, com portas de vidro que não ofereciam nenhuma privacidade.
Ela bateu levemente, e a voz grave veio de dentro:
– Entre.Ao abrir a porta, Leonardo estava em pé, encostado na mesa, com uma expressão que parecia eternamente descontentada.
– É o material da campanha? – perguntou sem saudá-la, já estendendo a mão.Emma entregou o notebook e esperou enquanto ele se sentava para analisar. O silêncio na sala era opressor, interrompido apenas pelo som das teclas que Leonardo pressionava enquanto fazia anotações.
Então ele bufou, inclinando-se para trás na cadeira e cruzando os braços.
– Isso aqui é um desastre.Emma franziu o cenho.
– Como assim?Leonardo girou o notebook para ela, apontando para a tela.
– Esse conceito é genérico. Esses gráficos não dizem nada. E isso... – ele apontou para uma frase que Emma havia reformulado – ...é o tipo de clichê que eu esperaria de um estagiário.O sangue subiu ao rosto dela.
– Eu ajustei com base no que foi entregue. O material inicial estava incompleto.– E você achou que a solução para algo incompleto era entregar algo pior? – retrucou ele, arqueando uma sobrancelha.
Emma abriu a boca para responder, mas ele levantou uma mão, interrompendo-a.
– Olha, Torres, vou ser direto. Não tenho tempo para erros e, francamente, para amadores. Aqui não é um lugar para quem acha que vai improvisar e se dar bem.Aquilo foi demais. Emma sentiu o sangue ferver.
– Eu fiz o melhor que pude com o material que me deram, senhor Moretti. Se estava aquém do esperado, talvez o problema esteja no briefing inicial.Leonardo inclinou-se para a frente, estreitando os olhos como se estivesse avaliando se deveria demiti-la naquele instante.
– Interessante. Você prefere culpar os outros no seu primeiro dia. Uma estratégia ousada.Emma mordeu a língua para não responder. Ela sabia que qualquer palavra errada ali poderia ser fatal.
Leonardo suspirou, claramente irritado.
– Refaça isso. Tudo. Quero algo digno do nome desta empresa. E se eu tiver que perder meu tempo revisando novamente, nem se dê o trabalho de voltar amanhã.Ele empurrou o notebook de volta para ela e voltou a focar em seus próprios papéis, como se ela já tivesse desaparecido.
Emma saiu da sala com o coração disparado, alternando entre raiva e humilhação. No corredor, Alice estava parada, como se tivesse assistido à cena de longe.
– Você está bem? – perguntou, em um tom que parecia conter mais curiosidade do que preocupação.– Perfeito. Melhor impossível – respondeu Emma, com sarcasmo.
Alice deu um sorriso de canto.
– Ele é assim com todos no começo. Não leve para o lado pessoal.Emma olhou para ela com ceticismo.
– Isso parece o lema da empresa.Alice deu de ombros.
– É porque funciona. Agora volte para sua mesa antes que ele resolva te chamar de novo.De volta ao setor de criação, Renata olhou para Emma com expectativa.
– E aí?– Ele odiou – respondeu Emma, seca.
Renata riu, como se aquilo fosse esperado.
– Bem, pelo menos ele não te mandou embora. Já é um avanço.Emma respirou fundo e abriu o notebook. Se Leonardo achava que ela ia desistir, ele estava muito enganado. Se havia uma coisa que ela odiava mais do que arrogância, era perder.
Na sala ao lado, Leonardo olhava pela janela, os pensamentos longe do trabalho. A nova funcionária era irritante, sem dúvida. Havia algo na forma como ela não cedia que o incomodava profundamente.
Ainda assim, ele sabia reconhecer potencial. Mesmo por trás dos erros, havia lampejos de algo interessante. Mas Leonardo não era do tipo que elogiava cedo. Ele queria ver até onde Emma Torres estava disposta a ir.
E, até agora, ela parecia disposta a ir longe.
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Entre ódio e Desejo
FanfictionEmma Torres está ansiosa para começar seu novo emprego na prestigiada M&R Corp, mas o que parecia ser o início de uma grande oportunidade rapidamente se transforma em um campo de batalha. Desde o primeiro encontro com Leonardo Moretti, o CEO implacá...