Lyra Voss. É assim que ela se chama. Mas, para mim, ela é apenas mais uma humana tentando sobreviver em um mundo que a quer morta.
O som das minhas botas ecoa nos corredores de pedra enquanto sua imagem persiste em minha mente. Suja. Desnutrida. Olhos opacos, como um poço sem fundo. Ela não é a primeira pessoa que vejo assim. Não será a última.
Mas por que não consigo esquecê-la?
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A sala de Tiberius está à frente, a porta pesada entreaberta. Empurro-a sem cerimônia. Ele adora quando faço isso. Ou não.
Ele está lá, como sempre, atrás de sua mesa de madeira escura. Postura impecável. Olhos de metal que perfuram qualquer máscara que eu tente usar.
“Kyros,” ele diz, sem nem levantar o olhar.
“Chefe,” respondo, jogando-me na cadeira à sua frente e colocando os pés na mesa.
Ele não reage. Mas sei que odeia isso.
“Você tem algo a dizer ou está aqui para testar minha paciência?”
“Ambos,” digo, com um sorriso que sei que o irrita. “Mas vamos começar pelo trabalho.”
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Tiro um tablet do bolso do meu uniforme. As fichas dos novos recrutas estão na tela.
“Dez novos. Todos os típicos: órfãos, desajustados, gente que ninguém notaria se desaparecesse.”
“E a garota?”
Ah, sim. Lyra.
“Ela está péssima,” respondo. “Mal consegue se manter em pé. Honestamente, não acho que ela dure uma semana.”
Tiberius levanta o olhar, e por um momento, sinto o peso de sua atenção como um golpe físico.
“Ela sobreviveu a Asylum.”
“Sim, e daí?” retruco. Sobreviver não é exatamente viver, não é mesmo?
Ele inclina-se para frente, os dedos entrelaçados. Sua presença enche a sala. “O Abismo é para aqueles que desafiam as probabilidades. Humanos que transcendem suas limitações. Talvez Lyra tenha mais a oferecer do que você consegue enxergar.”
Claro, porque estou cego, não é? Aposte na garota com cheiro de esgoto. Isso vai funcionar.
Dou uma risada curta. “Vamos ver onde isso vai dar, chefe.”
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Saio da sala com sua última frase ecoando na minha cabeça.
“Talvez Lyra tenha mais a oferecer.”
Será?
Olho para o corredor à minha frente, mas minha mente está presa nela.
Lyra Voss.
Ela pode ser apenas mais uma.
Ou talvez... apenas talvez... Tiberius esteja certo.
Isso não me deixa confortável.
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Filhos do Abismo
Fantasy-Nem todos os monstros são visíveis; alguns se escondem em cavernas sombrias, outros dentro de nós mesmos. - Lyra Voss passou os últimos quatro anos lutando para sobreviver em Asylum, um lugar onde a esperança é esquecida e os fracos não duram. Quan...
