C H A P T E R 11 C A P I T O L O

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Ele encara a câmera por alguns segundos, respirando fundo, parecendo aflito. O quarto era familiar, escuro, e pela janela era possível ver que ainda era noite.

"São três da madrugada," ele sussurra, mostrando o celular — o wallpaper com nossa foto — que marcava 3:17 AM. "Vou ter que falar baixo, porque você está dormindo."

Ele dá um espaço na gravação, ajustando a câmera para me mostrar: eu mesma, dormindo de bruços, vestindo apenas uma camisa dele e uma peça íntima cinza.

"Particularmente, eu espero que nunca veja isso."

Seonghwa suspira, olhando para mim por alguns segundos. Um sorriso sincero surge em seu rosto antes de ele voltar sua atenção para a câmera.

"Vita mia, se está vendo isso, imagino que algo aconteceu. Agora você sabe..." Sua voz trava por um momento. Ele engole o nó que parecia se formar em sua garganta.

"O vídeo depois desse vai explicar toda essa confusão de verdade. Responder suas perguntas mais específicas." Ele passa a mão pela cabeça, claramente frustrado ou hesitante.

"Eu quero deixar algo claro, antes de qualquer coisa: Ti amo più di ogni altra cosa al mondo" (Te amo mais do que qualquer coisa no mundo).

Senti verdade em suas palavras, mesmo através da tela.

"Não importa quantas mentiras eu contei, quantas verdades eu omiti, mas saiba que, de tudo que falei e senti, a mais verdadeira e pura foi você."

Ele engole seco novamente, os olhos brilhando com algo que parecia pesar em sua alma.

"Eu morreria e mataria por você," disse com firmeza, como uma promessa inquebrável.

"Nunca, em hipótese alguma, pense que não me apaixonei por você."

Um sorriso breve e triste curvou seus lábios antes que ele finalizasse:

"Qualquer um que diga o contrário é um mentiroso... e uma pessoa morta." Me arrepiei, ele falava isso de forma natural, sorrindo - ainda que melancolico - como se fosse comum. 

"Eu sou Park Seonghwa, e essa mensagem é endereçada a Sarah Caccine. Futura senhora Park."

O vídeo se encerrou. Meu coração doeu, como se alguém o tivesse apertado em um punho de ferro. Queria chorar, mas me forcei a manter a compostura. Sem hesitar, passei para o próximo vídeo.

O cenário era completamente diferente. Um apartamento desconhecido, moderno, mas impessoal. Nem um pouco familiar. Seonghwa estava sentado em uma cadeira de madeira escura, perfeitamente alinhada com o ambiente. Sua expressão era cansada, mas havia algo diferente nele: uma frieza que eu não reconhecia.

"Mi trovo in Sicilia in questo momento." (
Estou na Sicília no momento.) Começou, sua voz baixa, porém cortante.
Havia uma precisão quase calculada em suas palavras. Ele parecia mais profissional do que quando dava aula, como se estivesse encenando uma persona impenetrável.

"Rappresento la famiglia Kim." (Represento a família Kim.)

Ele fez uma pausa, limpando a garganta com calma. Seus olhos se moveram rapidamente para algo ou alguém atrás da câmera. O olhar que ele lançou foi afiado, mais do que uma simples observação. Era uma ameaça.

Quando voltou à posição original, ajeitou-se na cadeira com perfeição, cada movimento medido.

"Le cose cambieranno da ora in poi." (As coisas vão mudar a partir de agora.)

Seonghwa ajeitou o cabelo, sua expressão permanecendo impassível, como se nada pudesse penetrar aquela máscara.

"Non pensare nemmeno per un momento che io non veda tutto. I miei occhi sono ovunque, non importa dove ti trovi." (Não pense nem por um momento que eu não vejo tudo. Meus olhos estão em todo lugar, não importa onde você esteja.)

Sua voz não carregava emoção alguma. Ele parecia uma máquina, sua frieza pesando como gelo na sala.

"Non farmi troppe domande, specialmente sul lavoro. Non mentirò, ma non parlerò a meno che non sia assolutamente necessario." (Não me faça muitas perguntas, especialmente sobre o trabalho. Não irei mentir, mas também não irei falar, a menos que seja absolutamente necessário.)

Ele respirou fundo, os olhos fixos na câmera com uma intensidade quase sufocante.

"Sono consigliere e rappresentante della famiglia Kim, una delle principali famiglie di Cosa Nostra." (Sou conselheiro e representante da família Kim, uma das principais famílias da Cosa Nostra.)

Minha respiração ficou presa no peito. Cada palavra era como uma lâmina que cortava, uma confirmação brutal daquilo que eu temia.

Seonghwa permaneceu imóvel por alguns segundos antes de inclinar a cabeça levemente, o gesto quase arrogante em sua sutileza

"Non c'è spazio per la debolezza in questo mondo." (Não há espaço para fraqueza neste mundo.)

Sua expressão não mudou, mas as palavras eram claras como gelo. Ele não estava apenas explicando; estava avisando.

Eu pausei o vídeo, minha mente girando. Cada viagem, cada reunião "urgente" que ele nunca explicava… era isso. Esse era o mundo com o qual ele lidava diariamente.

E esse era o homem que eu amava, por mais que eu quisesse odiá-lo naquele momento.
Fechei o laptop lentamente, minha mente fervilhando com as informações que tinha acabado de processar. Respirei fundo, tentando acalmar a tempestade de emoções que ameaçava me dominar. Mas era inútil.

Seonghwa era conselheiro da máfia. Não qualquer máfia, mas do Cosa Nostra. Durante cinco anos, ele viveu uma vida dupla ao meu lado, me olhando nos olhos e mentindo sobre quem realmente era.

Minha garganta apertou, um nó subindo enquanto a mágoa se tornava insuportável. Como eu pude ser tão cega? Tão ingênua? Cada momento, cada promessa, cada sorriso... agora, tudo parecia contaminado por essa verdade. Eu confiava nele com cada parte de mim, acreditava que ele era meu porto seguro. E, durante todo esse tempo, ele me manipulou, me escondeu a verdade.

Por que ele fez isso? Para me proteger? Ou porque achava que eu era fraca demais para lidar com isso?

Eu apertei os punhos, sentindo a dor nos dedos magros, mas não me importei. Não havia como escapar do peso dessa revelação. Eu não queria fazer parte disso. Não queria esse mundo, essa vida cheia de segredos e mentiras.

Mas o que doía mais não era a máfia, nem os riscos. Era a traição. Ele me privou da escolha. Durante cinco anos, eu amei um homem que nunca existiu completamente, uma versão cuidadosamente construída para que eu não visse a verdade.

As lágrimas ameaçaram vir, mas as segurei. Não porque eu era forte, mas porque a raiva e a mágoa eram mais intensas que o desespero.

Eu sentia como se ele tivesse roubado algo de mim, algo precioso que nunca poderia ser devolvido. E o pior? Mesmo agora, depois de tudo, eu ainda o amava.

Mas o amor não apagava o que ele havia feito. E eu nunca seria capaz de perdoar essa mentira.

Oscuro - Park Seonghwa Where stories live. Discover now