Willian
Quando Elizabeth me disse pela manhã que eu não precisava ficar ali o tempo todo, que ela só precisava descansar e que chamaria caso precisasse de algo, meu instinto foi de recusar. Mas eu sabia que ela estava tentando, à sua maneira, recuperar algum senso de independência. Não queria sufocá-la, mesmo que cada parte de mim desejasse permanecer ao lado dela. Além disso, a verdade era que eu estava negligenciando minhas responsabilidades com o ducado e com a fábrica há semanas. Não podia mais adiar. Então, relutante, concordei. Deixei o quarto e me tranquei no escritório, uma pilha de relatórios do último mês espalhada sobre a mesa. Meus olhos percorriam as palavras, mas minha mente estava longe, constantemente voltando para o andar de cima, para ela. Fui tomado por uma sensação de urgência, como se cada minuto longe dela fosse tempo desperdiçado. Mesmo assim, forcei-me a continuar. Havia muito a fazer. Mas quando a hora do almoço chegou, não hesitei. Abandonei os papéis sem a menor cerimônia e subi até o quarto. Ajudar Elizabeth a comer era algo que eu não queria delegar. Não era apenas um ato de cuidado; era minha maneira de mostrar que estava ao lado dela, que ela podia contar comigo para qualquer coisa, mesmo as mais simples.
Mais tarde, quando o crepúsculo começou a tingir o céu com seus tons alaranjados, ouvi o som das rodas da cadeira sendo trazida até a casa. Não perdi tempo. Subi as escadas apressado, levando-a diretamente para o quarto de Elizabeth. Ao abrir a porta, ela levantou os olhos, e sua expressão passou rapidamente de curiosidade para algo que reconheci como constrangimento. Havia um leve rubor em suas bochechas, e ela desviou o olhar, mordendo o lábio de forma quase imperceptível. Percebi que o orgulho e a vergonha estavam travando uma batalha dentro dela. Ela respirou fundo antes de admitir, quase em um sussurro:
- Eu… não vou conseguir sair da cama sozinha.
A hesitação em sua voz era evidente, e eu vi em seus olhos a luta para aceitar a vulnerabilidade daquela situação. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, aproximei-me e ofereci minha mão.
- Não precisa pedir, Elizabeth. Eu estou aqui.
Vi a hesitação em seus olhos, o constrangimento em cada movimento, mas ela não protestou nem tentou se afastar. Coloquei uma mão em suas costas e outra sob suas pernas, levantando-a com cuidado. O calor de seu corpo contra o meu era ao mesmo tempo uma tortura e um conforto inesperado. Ela estava tão leve, tão frágil, e ainda assim, o simples fato de tê-la nos meus braços fazia algo em meu peito se apertar e, ao mesmo tempo, se expandir. Quando a acomodei na cadeira, notei que ela mantinha os olhos fixos no chão, as bochechas coradas.
- Tudo bem? - perguntei, inclinando-me ligeiramente para encontrar seu olhar.
Ela assentiu, mas não falou nada, e eu não pressionei. Apenas ajeitei os pés dela nos apoios e me certifiquei de que ela estava confortável antes de empurrar a cadeira para fora do quarto.
Enquanto atravessávamos o corredor do terceiro andar, notei como Elizabeth observava tudo ao nosso redor com um olhar que misturava melancolia e algo mais difícil de definir. Era como se cada detalhe fosse ao mesmo tempo familiar e distante, como se ela estivesse se reconectando com um mundo que quase perdeu. Eu queria dizer algo, quebrar o silêncio, mas temi interromper seus pensamentos. Ainda assim, quando chegamos em frente à porta do quarto de Henry, decidi parar.
- Posso? - perguntei, a mão já no puxador.
Elizabeth apenas assentiu. Abri a porta com cuidado, e ali estava ele, nosso pequeno Henry, dormindo profundamente em sua cama. Elizabeth estendeu uma mão trêmula, como se quisesse tocá-lo, mas não o fez. Em vez disso, sinalizou para que eu não o acordasse. Empurrei a cadeira até a beira da cama e me ajoelhei ao lado dela. O rosto sereno de Henry, iluminado pela luz fraca do entardecer, parecia a personificação da paz. Observei enquanto Elizabeth ficava ali, imóvel, os olhos brilhando com uma mistura de amor e tristeza.
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O Duque de Norfolk
RomanceInglaterra, 1820. Elizabeth Nevill sempre sonhou com um amor verdadeiro e acreditava tê-lo encontrado em Philip, o charmoso e alegre irmão mais novo do Duque de Norfolk. No entanto, quando a sociedade impõe pressões que exigem compromisso, Philip re...