Sob a chuva

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O som vinha de perto. Passos leves, apressados, acompanhados pelo farfalhar da vegetação molhada. Hazel e eu permanecíamos imóveis, nossos olhares atentos ao movimento entre os arbustos. Ela segurava sua espada firme, e eu, apesar de também estar alerta, não sentia uma ameaça real. Havia algo diferente naquele som, como se não carregasse intenção de ataque, mas sim de fuga.

— Você ouviu isso? — Hazel murmurou, tentando identificar a origem.

Antes que eu pudesse responder, algo surgiu da vegetação.

Parei imediatamente, minha mão indo para o cabo da adaga por reflexo. Hazel também parou, mas seu instinto era mais barulhento: puxou a espada, o som metálico ecoando na quietude do lugar.

— Pode abaixar isso, ou vai assustá-lo ainda mais — murmurei, sem olhar para ela.

Antes que Hazel pudesse retrucar, algo emergiu da vegetação. A princípio, parecia uma sombra movendo-se com cuidado. Então, a luz filtrada pelas árvores revelou um pequeno animal de pelos densos, cinzentos com manchas brancas que pareciam estrelas. Seus olhos grandes e amarelos me encaravam com uma mistura de medo e curiosidade. Era uma criatura única, algo que eu jamais havia visto tão de perto.

— Mas o que é isso? — Hazel sussurrou, e eu ouvi o desconforto em sua voz.

A pequena criatura soltou um rosnado baixo, mas seus pelos eriçados e os tremores leves indicavam que estava mais assustada do que agressiva. Dei um passo lento para frente, abaixando minha postura.

— Ei… tudo bem… — falei em um tom calmo, tentando passar segurança.

A criatura hesitou, farejando o ar, e então deu um passo em minha direção. Hazel, por outro lado, deu um passo para trás, empunhando a espada.

— Você vai mesmo tocar nisso? Parece uma praga! — ela murmurou, com desdém, mas eu a ignorei.

— Ele está assustado, não agressivo. Você devia aprender a diferença.

Aproximei minha mão devagar. Ele farejou meus dedos e, para minha surpresa, soltou um som baixo, quase um ronronar. Sua cauda longa e levemente brilhante oscilava como uma chama calma ao vento. O pequeno ser parecia relaxar perto de mim, mas quando olhou para Hazel, seu rosnado voltou.

— Eu acho que ele não gosta de você — falei, sorrindo de leve.

— Ótimo. O sentimento é mútuo. — Hazel cruzou os braços, embainhando a espada.

A criatura, porém, me olhava como se quisesse dizer algo. Sua cauda tremulava, e seus olhos pareciam implorar por ajuda. Ele estava fugindo de algo, isso era óbvio. A floresta estava tensa, como se ela própria tivesse algo a temer.

— Um Myrun… — sussurrei, finalmente reconhecendo o pequeno animal. Lendas diziam que eram criaturas ligadas à floresta, dóceis, mas raramente vistas. — O que te trouxe aqui, hein? — perguntei suavemente, acariciando seus pelos.

Hazel bufou atrás de mim.

— Perfeito, agora temos um rato assustado na nossa jornada.

O Myrun virou a cabeça para ela e rosnou novamente, arrancando um riso contido de mim.

— Ele definitivamente não gostou de você. — Continuei acariciando a criatura, sentindo a conexão crescer. Era como se ele tivesse escolhido ficar comigo, mas seu corpo ainda tremia levemente.

Algo havia assustado esse pequeno animal, algo grande o suficiente para fazê-lo abandonar seu esconderijo. E, de repente, enquanto observava, percebi que eu também estava começando a sentir medo do que poderia estar por vir.

Riachos A Noite Where stories live. Discover now