Entre o Palco e a Escuridão

O preço da Escolha

O silêncio na sala de jantar parecia um peso impossível de carregar. Elena sentia como se a respiração estivesse presa em sua garganta, como se o ar ao seu redor tivesse se tornado espesso e denso, tornando cada movimento mais difícil. Alessio a observava atentamente, seus olhos fixos nela, esperando por uma resposta.

Ela sabia o que ele queria. Ele estava oferecendo a ela um futuro no qual o controle, o poder, e o luxo eram a norma. Tudo o que ela tinha que fazer era aceitar a proposta dele. Mas o preço disso parecia tão alto, tão além do que ela podia compreender.

Ela olhou para o prato diante de si, sem realmente ver. As palavras de Alessio ressoavam em sua mente como um eco distante, uma canção sombria que ela não podia ignorar. O que ele estava oferecendo parecia impossível de recusar, mas ela sabia que algo dentro de si ainda se rebelava contra a ideia de perder sua própria identidade, de ser engolida pelo mundo dele.

- Eu não sou como você, Alessio. Eu não quero esse mundo - ela disse finalmente, quebrando o silêncio. Sua voz estava mais firme do que ela imaginava, mas seu coração ainda batia com força, cheio de medo e dúvida.

Alessio inclinou-se para frente, estudando-a com uma expressão que parecia tanto intrigada quanto desafiadora.

- Eu sei que você não é como eu. Isso é o que me fascina em você. Mas, Elena, o mundo não é feito de escolhas fáceis. O que você está sendo convidada a fazer não é apenas uma questão de dinheiro ou poder. É sobre o controle. O controle da sua vida, do seu destino. Você quer ser uma bailarina para sempre? Ou quer mais?

Ela sentiu o peso das palavras dele. A verdade cruel estava ali, evidente. Ele não estava apenas tentando atraí-la para seu mundo. Ele queria que ela se entregasse a ele completamente, que se tornasse uma parte de sua existência, de sua história. Ela teria que se deixar moldar, abandonar as partes de si mesma que a tornavam quem ela era.

- Eu não posso ser quem você quer que eu seja - ela respondeu, a dor em sua voz agora mais clara. - Não sou você. Eu sou... eu sou Elena. Eu não quero ser uma peça no seu jogo.

Alessio levantou-se, seu olhar não mais amigável, mas implacável. Ele caminhou até a janela, olhando para a cidade iluminada, mas o silêncio entre eles era ainda mais pesado agora.

- Então você prefere a ilusão de liberdade? Acha que pode escapar de tudo isso, de tudo o que está acontecendo? - ele perguntou, sua voz baixa, mas carregada de uma raiva contida. - Você acha que está escolhendo viver uma vida tranquila, sem riscos, sem perigo, mas está apenas se enganando. O perigo está em todos os lugares, Elena. Até nos momentos mais simples da sua vida. Você sabia disso desde o momento que nasceu.

Ela não sabia como responder. Alessio estava certo em muitas coisas. O mundo em que vivia, o mundo de seu pai, sempre teve algo de sombrio, algo que ela sempre tentou ignorar. Mas ela nunca imaginou que seria atraída para ele, que teria que escolher entre seguir seu próprio caminho ou se submeter ao destino que ele parecia traçar para ela.

- Eu não quero o seu mundo, Alessio. Não importa o quanto você me tente. Não importa o que você me ofereça - ela disse com firmeza, tentando se levantar da cadeira, embora seu corpo parecesse pesar uma tonelada.

Alessio se virou para ela, seus olhos ardendo com uma intensidade que a fez hesitar por um momento.

- Você não tem escolha, Elena. Não mais. Você já entrou nesse jogo, e agora está no meu campo. E no meu campo, as regras são minhas.

Ele se aproximou dela, e, por um momento, Elena pensou em recuar, mas algo em seu olhar a fez permanecer onde estava. Ele estava tão perto agora, que ela podia sentir o calor do corpo dele, a tensão na sua presença. E algo mais - uma raiva disfarçada de desejo, uma necessidade que ele não sabia como controlar.

- Eu não sou um homem fácil de se afastar, Elena - ele murmurou, a voz baixa, como se fosse uma ameaça, mas também uma promessa.

Ela olhou para ele, sentindo a luta interna dentro de si crescer ainda mais. Ela sabia que Alessio não a deixaria ir facilmente, mas também sabia que não poderia perder a si mesma. Não poderia se perder no labirinto de seu poder, nas sombras que ele trazia com ele.

- Eu não vou me perder no seu mundo, Alessio - ela disse, as palavras saindo mais suavemente do que ela imaginava. - Eu não posso.

Ele a observou por um momento, sem falar nada, e então, de repente, sua expressão se suavizou, e ele deu um passo atrás. O ar parecia se mover entre eles, uma tensão que os envolvia.

- Você pensa que pode escapar disso, Elena, mas a verdade é que você já está aqui. E eu vou te mostrar que, quando se entra no meu mundo, não há como voltar atrás.

Ela engoliu em seco, o peso das palavras dele se fixando em sua mente. Alessio estava certo, de alguma forma. Ela já estava envolvida. E o que quer que acontecesse a seguir, ela não poderia mais fugir.

- Então, o que você vai fazer agora? - ela perguntou, olhando-o com intensidade.

Alessio olhou-a, e pela primeira vez, Elena viu algo mais suave em seus olhos - uma mistura de respeito e algo que ela não conseguia definir.

- Eu vou te dar tempo, Elena. Mas não me faça esperar muito.

Ele se virou e se afastou, deixando-a sozinha em meio a um mar de sentimentos conflitantes. Ela sabia que havia algo mais em jogo agora, algo que ia além de qualquer escolha simples. Seu destino já estava entrelaçado com o dele, e ela começava a perceber que, ao tomar uma decisão, poderia estar selando seu futuro para sempre.

Ela se perguntou, pela última vez, se realmente tinha controle sobre sua própria vida.