A clareira estava silenciosa após o término da luta. As sombras haviam sido repelidas, mas o ar ainda carregava o peso da batalha. Elyra e Sylwen estavam exaustas, tentando recuperar o fôlego, enquanto Kaoru simplesmente virava as costas, embainhando sua espada com um movimento brusco.
“Bom trabalho, pessoal,” ele disse, sua voz carregada de sarcasmo. “Pelo menos desta vez vocês não foram um total peso morto.”
Sylwen estreitou os olhos, mas Elyra apenas suspirou, cansada demais para responder. Kaoru começou a caminhar para longe, sua capa ondulando atrás dele.
“Eu volto para casa. Talvez vocês devessem fazer o mesmo. Ou, sei lá, fiquem aqui debatendo estratégias inúteis. Boa sorte com isso.”
Ele desapareceu na direção das árvores, mas Sylwen não conseguiu se conter. Apertando o Coração Selvagem contra o peito, ela deu um passo à frente, decidida.
“Elyra,” disse Sylwen, “vá descansar. Eu preciso resolver algo.”
Elyra tentou protestar, mas Sylwen já havia começado a seguir Kaoru pela floresta.
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Confronto na Floresta
Sylwen encontrou Kaoru alguns minutos depois, andando por um caminho estreito. Ele parecia estar mergulhado em pensamentos, mas, ao ouvi-la se aproximar, parou e se virou com um olhar impaciente.
“Você me seguiu? Que surpresa,” ele disse, cruzando os braços. “O que foi agora? Precisa de uma explicação sobre como usar seu próprio artefato?”
Sylwen ignorou o tom ácido dele, sua voz firme. “Nós precisamos conversar, Kaoru.”
“Se for para me agradecer pela luta, não precisa. Eu já sei que fui incrível.”
“Isso não tem nada a ver com a luta,” Sylwen respondeu, aproximando-se mais. “Quero falar sobre você. Sobre o que aconteceu com seu pai.”
A expressão de Kaoru mudou imediatamente. Seus olhos endureceram, e ele deu um passo para trás, como se as palavras dela fossem uma lâmina.
“Não se atreva,” ele disse, sua voz baixa e cheia de ameaça.
Sylwen cruzou os braços, encarando-o. “Você sempre age como se fosse o único que perdeu algo. Como se ninguém pudesse entender sua dor. Mas todos nós carregamos algo, Kaoru. Você não é o único com feridas.”
“Você não sabe nada sobre mim,” ele rebateu, suas palavras cortantes como aço.
“Então me explique!” Sylwen insistiu. “Por que você insiste em nos afastar? Por que trata todo mundo como se fossem seus inimigos? Eu vi como sua irmã falou sobre seu pai. Eu sei que a perda dele te marcou, mas isso não justifica você tratar todo mundo assim.”
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A Explosão de Kaoru
Kaoru apertou os punhos, seu corpo tenso como um arco prestes a disparar. “Você acha que entende? Acha que é simples assim? Meu pai não morreu em uma luta qualquer. Ele morreu tentando proteger alguém que o traiu. Ele morreu acreditando em um ideal estúpido, e nós ficamos sozinhos por isso!”
Sylwen hesitou, mas não recuou. “Acha que guardar essa raiva vai trazer ele de volta? Que afastar todos vai mudar o que aconteceu?”
Kaoru deu um passo à frente, seu rosto agora próximo ao dela. “Você não entende nada, Sylwen! Você tem um povo, um lar, uma família inteira para te apoiar! Eu não tenho nada disso. Tudo o que me sobrou foi uma promessa quebrada e a máscara dele para me lembrar de que confiar em alguém é um erro.”
Sylwen sentiu as palavras dele como um golpe. Por um momento, ela não soube o que dizer.
“Você fala como se fosse a única pessoa que perdeu algo,” ela murmurou, a voz mais suave. “Mas sabe o que é pior? Você está deixando essa dor te consumir, Kaoru. Está deixando o passado decidir quem você é.”
Kaoru ficou em silêncio por um momento, mas seus olhos ainda brilhavam com raiva. “E o que você quer que eu faça, Sylwen? Que simplesmente esqueça? Que confie cegamente em uma ninfa e uma fada como se nada tivesse acontecido?”
“Não quero que esqueça,” ela respondeu. “Quero que veja que não está sozinho. Eu e Elyra estamos aqui, mesmo que você não queira admitir. Não estamos contra você, Kaoru. Estamos do seu lado.”
Kaoru desviou o olhar, respirando fundo para tentar conter a torrente de emoções. Ele não respondeu, apenas virou as costas novamente.
“Você pode fingir que não ouviu, mas sabe que é verdade,” Sylwen disse, enquanto ele se afastava.
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A Solidão de Kaoru
Quando Kaoru chegou ao seu destino, uma clareira isolada, ele caiu de joelhos. Segurou a máscara de seu pai com força, como se ela pudesse responder às perguntas que martelavam sua mente.
“Por que você me deixou, pai?” ele murmurou. “Por que confiou em alguém que acabou com tudo?”
O brilho da máscara parecia responder de maneira silenciosa, refletindo a luz da lua que agora iluminava a clareira. E Kaoru, pela primeira vez em anos, deixou que as lágrimas caíssem sem resistir.
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Silva Eternis: Os Guardiões e a Máscara das Almas
FantasyEm uma floresta mágica dividida em reinos de seres místicos, como yokais, fadas e ninfas, um perigo antigo desperta, ameaçando o equilíbrio da natureza. Escolhidos pela própria floresta, três guardiões improváveis - Kaoru, um yokai marcado pelo pass...