Gone With the Sin - HIM

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Para uma tarde particularmente nublada como aquela, havia um certo ar de mistério e melancolia pairando, como se um filtro cinzento fosse adicionado ao ambiente. Era de dias assim que Gomez gostava.

Um bom passeio no cemitério do centro da cidade era ideal. Não que estivesse enjoado do cemitério particular de sua família, mas cemitérios públicos sempre tinham novas histórias a serem contadas nas lápides recém postas.

Com a brisa fria, cabelos negros brilhosos voavam.

Sua pele tão branca, ele tinha certeza que a amava.

Suas mãos frias como gelo ele beijou com o calor da paixão.

As rosas que ela deixou para seu parente falecido, as lágrimas que derramou sobre a pedra esculpida do túmulo. Gomez as enchugou e as amou.

Ela era linda, e ele sentia-se despedaçar de amor por ela.

Mortícia seu nome. Mortícia pálida dos lábios vermelho vinho. Seu cheiro o arrepiava, o deixava louco como um cão do inferno.

Quem a via de longe imaginava que ela havia sido levada com o pecado, como um espectro perturbado que assombra durante tardes cinzas e frias como aquela, mas ele sabia que ela estava ali. Ele tinha certeza daquilo.

Mortícia sorriu para ele com seus lábios vermelho vinho. Seu beijo era doce tal qual. Mas seu toque continuava frio e gélido tal qual a brisa.

Gomez a convidou para visitar a mansão, e de muito bom grado ela aceitou. A questão ali, era que, ao cruzar o arco da saída do cemitério, Gomez notou que estava desacompanhado. Olhando para trás, nada mais se via além das lápides e das folhas das árvores balançando com o vento. A confusão instalou-se em sua mente, mas bastou que olhasse para a sala de velórios e notasse o caixão preto lustroso que ali jazia. E tal qual jazia o caixão no apoio, jazia o corpo imóvel de Mortícia. Parentes choravam e conversavam baixo. Lamentavam a perda prematura, acariciavam-lhe a face rígida do sono da morte.

O batom vermelho vinho ainda estava ali.

Seu toque permanecia ainda mais frio do que antes.

O cheiro de formol e éter provocava arrepios na espinha de Gomez.

Seu espectro chorou ao ver Gomez partir. Ele amou suas lágrimas.

Ainda assim, ela era linda.

Ela se foi com o pecado.

E Gomez despedaçou-se para que pudesse cessar as lágrimas dela e as suas próprias.

Não era justo. Mas ele não precisaria estar vivo para alcançar o amor de sua vida.

Ambos se foram com o pecado. Ambos os toques eram frios como gelo. Ambos pálidos sem o líquido carmesim vital.

Conduzindo-a numa dança sem música por entre as lápides daquele cemitério, Gomez achou Mortícia linda. Ela era tudo para ele, e ele para ela. Não foi necessário que palavras fossem trocadas.

Playlist Gomez e MortíciaOnde histórias criam vida. Descubra agora