Quando o quente e o frio se misturam, ocasiona um choque térmico. Então, o que mais poderia acontecer no encontro de duas almas tão diferentes?
De um lado há Alice, uma menina doce e ingênua, tem seus princípios e segue o caminho de Deus no evangelh...
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៚ Alice Trindade
A festa finalmente começou a esvaziar, mas a energia ainda estava lá, como uma onda prestes a quebrar. Satan, como sempre, tinha o dom de prolongar as coisas, e agora ele estava com um sorriso travesso, como se já tivesse algo em mente.
— Vamos brincar de Eu nunca — ele anunciou, animado — A casa ainda tá cheia de energia, e a gente não vai dormir tão cedo não.
Eu arqueei uma sobrancelha. Não sei o que ele queria, mas qualquer coisa que envolvesse o nome "Satan" já era sinônimo de algo imprevisível. O que ele estava planejando dessa vez?
Todos começaram a se reunir de novo, formando um círculo. Gabriela, sempre disposta a embarcar nas loucuras, foi a primeira a rir e a se acomodar. Eu me vi numa posição difícil. Sabe quando você sente que não tem escolha, mas não quer admitir que tem medo do que vai acontecer? Pois é, esse era o meu estado atual.
Satan se acomodou no centro do círculo, com um copo na mão, e deu a primeira ordem.
— Cada um da roda fala uma coisa por vez. Quem já tiver feito, bebe — explicou — E não é pra molhar o bico, é beber de verdade.
Não queria brincar, mas não queria amarelar agora. Então meus pés continuaram petrificados naquele chão.
A galera foi se acomodando, e logo o círculo estava formado. Eu não sabia se estava mais curiosa ou preocupada com o que viria a seguir. Satan, com aquele sorriso irreverente, parecia se divertir com a minha hesitação, como se estivesse esperando alguma reação minha.
— Eu começo — disse Satan, sem perder tempo. Ele pegou sua garrafinha e sorriu, como se já tivesse planejado aquilo há dias. — Eu nunca fui expulso de casa. — essa foi a primeira da rodada, um tanto quanto específica. Gabriela e Satanás sorriram pra mim, e nenhum deles beberam, nem mesmo Gv.
Observei as poucas pessoas que derramaram o líquido alcoólico pela garganta, a maioria mulheres, e então, mesmo contragosto, virei aquilo de uma vez, fazendo uma careta pelo gosto terrível que se instalou na minha boca.
Ao lado de Satanás estava um dos caras do morro, que parecia animado pela sua vez naquele joguinho.
— Eu nunca fiz sexo à três — nossa, pelo visto, algumas pessoas ali estavam destinadas a levar o jogo pro pior lado possível, porque ouvi burburinhos e comemorações quando sua frase foi dita, comentários como "isso que é jogo de verdade" foram disparados, e então, muitas pessoas beberam.
Gabriela deu um sorriso sem graça mas não bebeu, Satanás bebeu contentemente e então, meus olhos buscaram Guilherme, que também bebeu e manteu sua expressão despreocupada, como se não fosse nada demais.
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Talvez porque não seja, pensei. Nem todos nasceram com o espírito de velha conservadora como eu, não é?
— Eu nunca mandei ou recebi nudes — foi a próxima pergunta. Novamente, não bebi. Mas todos ali beberam, sem exceção. O que me fez quase afundar de vergonha.
— Eu nunca tive pensamentos eróticos com alguém dessa roda — uma outra pergunta soou, e essa me atingiu diretamente, arrepiando todos os pelinhos do meu corpo e fazendo, por um momento, minhas bochechas esquentarem mais que o normal.
Apertei o copo de vodka barata que estava nas minhas mãos e rolei os olhos por cada um ali, decidindo se deveria beber ou trapacear e, fingir que nunca havia tido pensamentos com um Gv usando e abusando de cada parte do meu corpo, mesmo que isso seja dolorosamente errado.
Cada um ali parecia entretido nas próprias risadas e bebidas, então aproveitei o momento para beber de uma vez, confiante de que ninguém veria. Mas assim que senti o fervor do álcool passando por minha garganta e chegando ao meu estômago, senti outro tipo de coisa queimando minha pele. E sabia perfeitamente o que era.
Pelo canto do olho, meus olhos teimosos o encontraram e lá estava ele, segurando sua expressão séria e me fazendo formigar apenas com o seu olhar pesado, perigoso e cheio de luxúria sobre mim.
— Eu nunca transei em público — a voz de um homem me fez tirar os olhos de Gv e voltar as pessoas que jogavam. Dessa vez nem todos beberam.
— Calma aí, pessoal, joguem perguntas mais acessíveis a nossa madre tereza — Satan disse, finalmente me notando ali — Ela não bebeu nem um pouquinho. Vamos lá, eu faço essa — me preparei psicologicamente ao que iria ouvir nos próximos segundos — Eu nunca...
— Não pule a minha vez! — Gabi gritou, pois agora era a vez dela. Ela sequer sabia, mas havia acabado de me salvar — Eu nunca fui a um baile do morro — ela sorriu para mim num gesto cúmplice e bebeu, assim como todas as pessoas ali. Assim como eu.
A seguir, a pergunta era de Cibely. A garota sorriu maliciosamente antes de jogar:
— Eu nunca gravei um amador — seus olhos estavam em Gv quando ela passou a língua pela borda do copo num gesto sedutor e bebeu. Não consegui evitar olhar para ele, que estava a uma distância de duas pessoas depois de mim. Ele que parecia impassível, não me olhou ao encarar o líquido do seu próprio copo e beber também.
Lembrei das palavras hostis de Cibely quando me encurralou antes do início da festa, como se tivesse tão ansiosa para fazer aquilo que mal conseguiu esperar um pouco. Ela desabafou sobre sua intimidade e de Guilherme comigo como se eu tivesse perguntado alguma coisa. Lembro da sensação horrível que tomou meu estômago quando ela jogou que passou a noite transando com ele e gozou quatro vezes. Pelo amor de Deus.
O pior foi saber que se ela estava com ele, ele havia ido atrás dela depois do que fizemos. E claro, fazia todo sentido. Ele precisava dar um jeito na própria ereção já que eu não era capaz de fazer isso. E eu o odiava por isso, por me fazer sentir daquela forma. Foi uma atitude suja e escrota, até mesmo para ele.
Senti meus ombros enrijecerem e tirei minha atenção de quem não merecia um segundo do meu tempo.
Mas que merda de jogo.
— Eu nunca fiz algo que me arrependi — finalmente estava lá, uma pergunta cabível para mim, que me dava a oportunidade de virar toda aquela vodka de uma vez. E foi isso que fiz.