Cinco meses depois
ー Oi, mamãe. O papai disse que eu poderia vir ver você. Eu queria contar que fui escolhido para ser o Romeu da peça da escola, e eu e o Chris, meu amigo inglês, estamos concorrendo a ser jogadores de futebol. Eu gosto de futebol, mamãe. O papai disse que a senhora não vai poder ver meu jogo, mas você vai estar lá em pensamento e em amor. Eu trouxe uma flor pra você.
Seokjin deixou a rosa branca perto da lápide. Ele passou o dedinho na sujeira do nome de Hyuna.
Ann Hyuna
Amada amiga, filha e mãe.
Yoongi abriu o guarda chuva quando a chuva ameaçou cair. Seokjin abraçou as pernas de Yoongi, que se inclinou e deixou o vaso de flores perto da rosa.
ー Ela adorou a rosa, Jin.
ー Mesmo?
ー Sim, ela gostou. Que tal... a gente comer alguma coisa agora?
Seokjin sorriu, mostrando um dente faltando na frente, em decorrência da dentição. Yoongi pegou a mãozinha dele e eles foram andando entre as lápides e anjos esculpidos em mármore. A chuva estava cessando, deixando que o sol tomasse seu lugar pela primeira vez em algumas semanas. A neve já havia derretido, havia apenas o velho e bom frio. Para Yoongi, era uma época de renovações.
Assim que chegaram na saída do cemitério, Yoongi viu Jimin encostado no carro, com um copo de café e jornal. Seokjin entrou dentro do automóvel, calado. Quando se sentou, abraçou Tatá e ficou olhando para o nada.
Yoongi acendeu um cigarro.
ー Achei que tinha parado. ー Jimin deu mais goles no café morno, antes de jogar o jornal no lixo. Yoongi encostou-se ao lado dele, vendo que a chuva havia passado de repente.
ー Só fumo um por semana agora. Hayeon não precisa de um pai fumante.
Jimin espiou Seokjin dentro do carro.
ー Como ele está se sentindo?
ー A psicóloga disse que com o tempo ele vai associar melhor a ideia que Hyuna não está mais conosco. Ele vai ficar um pouco fechado e mais melancólico do que o costume, mas vamos melhorar. Ambos.
Jimin passou o braço nos ombros de Yoongi.
ー Sinto saudades dela... e você e o Liang? Alguma melhora?
ー Acho que sexo casual é tudo o que teremos. Liang é muito ocupado com o escritório de arquitetura dele, e eu com meus clientes.
Jimin respirou fundo.
ー Sabe, faz cinco meses que Hyuna se foi, e Taehyung não deu sinal algum de retorno. Acha que ele deve voltar em algum momento?
Yoongi se virou para o amigo.
ー Se ele vier, temos que estar prontos.
ー Nós ou você tem que estar pronto?
Yoongi o encarou, olhos pesados.
ー Precisamente, eu.
Jimin concordou e eles entraram no carro. Yoongi ficou olhando pelo celular, o feed de notícias dos jornais, quando a foto de Taehyung surgiu na tela. A matéria dizendo que Kim Taehyung era o melhor advogado da Ásia fez com que o coração de Yoongi apertasse no peito. Taehyung só tinha aquele título por roubalheira e fraude.
Ele passou o polegar pelo rosto de Taehyung, e então voltou a olhar a janela. A paisagem voltava a ser prédios de concreto e pessoas normais. Assim que pararam no restaurante de Jungkook, viram ele segurar o bebê de oito meses nos braços. Afinal, Mina agora era ativa na vida dos pais.
ー Olhe, papai, a Mina tá aqui. ー Seokjin se soltou do cinto e foi para fora. Yoongi seguiu o filho.
O restaurante de Jungkook havia fechado para reformas. Ele havia aumentado a cozinha e o espaço das mesas. Nesse tempo, Mina chegou. A menininha indiana, de olhos escuros e pele cor de azeite, era a alegria de Hoseok e Jungkook. Hoseok era completamente babão na filha. Hayeon amava a "prima".
Quando entraram no cômodo, viram tudo encoberto por panos e Hayeon sentado na mesa, brincando com um ursinho, sob a supervisão de Namjoon e Hoseok. Assim que viu o Yoongi, ele estendeu os braços.
ー Papa! Papa! Maaima bebê?
Yoongi o puxou para o colo.
ー Mina é, sim, um bebê. Jungkook, porque não larga esse saco de fraldas e nos faz uma comida?
Jungkook mostrou a língua para Yoongi e deixou Mina nos braços de Hoseok, beijando o marido.
ー Tenho cara de Martha Stewart agora? Levanta essa sua bunda gorda e comece a cortar os pimentões.
Yoongi fez uma careta para Mina, que bateu palminhas e sorriu, quase deixando a chupeta cair da boca.
ー Bem, quando essa bosta fica pronta? Sempre está atrasando esse restaurante.
ー Vai ficar pronto em alguns dias. Só falta o acabamento da tinta. Ah, é claro, o seu macho tem que ver se o projeto ficou como na planta baixa.
ー O Taehyung não entende de arquitetura, Jungkook. ー Namjoon fez a piada e logo sentiu a fralda de limpar baba da Mina voar na sua cara.
ー Eu acho que ele estava se referindo ao Liang, Nam. ー Jimin tirou a fralda babada da cara do noivo e sorriu. ー Liang é o novo homem de Min Yoongi.
Seokjin fez careta, enquanto beliscava as tortilhas abandonadas na mesa.
ー Odeio o Liang. Ele é feio.
Yoongi encarou Seokjin, divertido.
ー E quem você prefere?
Seokjin fez bico.
ー Prefiro eu.
A resposta fez todos rirem e Jungkook se deu por vencido e entrou na cozinha junto com Yoongi para preparar comida.
Do outro lado, Taehyung desligava o despertador e andava pela casa. Seu telefone tinha inúmeras chamadas não atendidas de algum número da Coreia. Ele desligou todas. Preferia não saber quem o procurava naquela região.
Tomou um banho longo e mesmo sendo sábado, ele vestiu um terno e foi para o escritório, deixando Beth, uma bela ruiva, dormindo em sua cama.
Assim que chegou no prédio, viu sua secretária no lobby.
ー Senhor Kim, tem uma mulher no andar que quer ver o senhor urgentemente. Ela se recusa a sair de lá até que tenha falado com o senhor.
ー E de onde essa louca é?
A secretária foi andando ao lado dele, paciente.
ー Ela alega ter vindo de Seul. São negócios de suma importância, senhor. Disse que interessa ao senhor.
ー Esse pessoal de Seul me liga faz cinco meses. Odeio ligações que não falam logo tudo. Vou me livrar dela.
Eles subiram para o andar do escritório de Taehyung, onde uma pequena mulher loira e de olhos castanhos, esperava Taehyung com uma pasta enorme.
Assim que viu o Kim, ela se levantou com seu terninho, elegante e fina.
ー Por favor, Senhor Kim. É um assunto importante.