Estava atordoado.
Mesmo que com a sensação de estar agora prestes a abrir os olhos e encarar o ceifador, tentou se recompor.
Seus joelhos quase cediam a cada tentativa de se levantar, mas manteram-se firmes, estava inteiramente machucado, e nem tinha mais ideia do que foi sua última visão.
Mas a de agora com certeza era interessante.
Vendo direito, não parecia ser um lugar onde jogariam seu pobre corpo para ter o descanso eterno.
Parecia mais.. uma casa velha e assombrada.
Olhou em volta.
Parou de pé, segurando o braço cheio de sangue.
Engoliu em seco, se isso fosse sua maior preocupação no momento, teria certeza de desmaiar de novo.
Era uma sala. Uma sala de estar enorme.
Quadros emoldurados sinistros e grandes velas antigas pregadas ocupavam os espaços nas paredes em volta.
Parando para reparar, tudo era tematicamente antigo, parecia uma daquelas casas que preparavam no halloween para assombrar as crianças mais curiosas ao luar da meia noite.
Estava claro, mas em uma iluminação de tom roxo mais escuro.
Era uma pegada bem Dark.
Até porque se fosse vermelho, ele duvidaria se estava em um museu das antigas ou um bordel.
- holla bela dama.
- (olá, bela dama.)Jayce nunca gritou tão apavoradamente, virou-se já com uns cinco passos arregados.
- porra! porra! - pôs a mão sobre o peito. - que diabos é isso!?
Até mesmo o outro garoto se assustou de repente.
Mas diferentemente, ficou parado bem posturado, suas mãos estavam para trás, apenas observava a situação, não estava entendendo.
- você é um garoto.
- claro que sou, merda!
Seu coração faltava pouco para sair pela boca, e a respiração frenética fazia tudo parecer mais difícil.
Em um piscar de olhos, aquele estranho já não estava mais em sua frente, tinha sumido repentinamente.
Jayce começou a olhar meio aflito para os lados, cima, baixo.
Aquela sala era enorme, dava quase sua casa inteira, como aquele garoto sumiu tão rápido?
Mas sua garganta travou-se em um nó quando ele apareceu novamente na sua frente, agora tinha uma sombra de uma outra pessoa lá atrás.
Ele agarrou a parede atrás de si, como um gato assustado agarrando suas garras no sofá, agora que não tinha fechado os olhos, deu para ver.
O estranho se teletransportou, sumiu e voltou igual em um anime.
Não tinha como seus olhos aumentarem mais, estava agora estático, sentia que qualquer movimento, por menor que fosse, seria seu fim.
Até sua respiração tinha prendido.
O garoto foi chegando bem perto de seu rosto, e apenas suas pupilas drasticamente minúsculas pelo medo o seguiam.
Ele tinha os olhos ardentemente vermelhos, era um tom forte e atrativo.
Parecia um vampiro.
Mas isso não existia, riu. Apenas em seu subconsciente, estava desestabilizado demais para poder formar um riso em voz alta.
- decapite-o e traga dessa vez a mulher verdadeira, e da Espanha.
- sim senhor.
Essa frase fez um baque no coração de Jayce, puxando rapidamente todo o ar que antes estava preso, empurrou o ser em sua frente e disparou para sabe se lá onde.
Aquela casa, mansão, castelo, não sabe, era imensa.
Seus pensamentos estavam a flor da pele, apavorado demais para se quer organizá-los.
Só sabia de uma coisa.
Precisava se esconder, e entender o que estava acontecendo.
E durante toda a sua maratona, achou um cubículo escuro o bastante para se enfiar e crer que não seria encontrado.
- nossa, mas você corre.
- como..! - subiu o olhar, perigosamente queria encará-lo.
- sou mais rápido.
Durante um pequeno vislumbre de luz que passou, ele pôde ver que aquele sorriso formado na boca alheia era tudo, menos normal.
Balançou a cabeça, jurou que tinha visto presas afiadas ali.
Já estava começando a alucinar.
- eu não preciso de você, porque veio?
- há. - riu sarcasticamente. - acha que eu estaria nesse fim de mundo com um estranho como você, se tivesse tido alguma escolha?
Sua sobrancelha arqueou, demonstrou estar falando com uma criança burra.
Coisa que notou ter estressado a sua companhia meio diferenciada, viu uma veia saltada no pescoço dele.
Por um momento se esqueceu de que não sabia onde estava, com quem estava e com o que teria que lidar.
Apenas se deixou levar pelo seu jeito petulante de ser. Era automático, não conseguia evitar responder uma pergunta idiota e totalmente óbvia assim que fosse terminada.
- eu não vou te pedir desculpas! - esbarvejou, mesmo que com medo.
Estava se segurando para não implorar por sua vida, aquele cara parecia sinistro. Até mais que o porteiro de sua escola.
E olha que esse era aparentemente da sua mesma altura.
Os olhos vermelhos escarlate, bem brilhosos.. relaxaram, e suas sobrancelhas levantaram, parecia surpreso sem muita demonstração.
Tilintou os dedos na bochecha.
- você é arrogante assim?
Jayce virou o rosto, estava vermelho de raiva, e se fosse uma pessoa completamente mais normal que isso que estava em sua frente, partiria para cima na primeira oportunidade.
Seu queixo foi redirecionado para a frente pelos dedos alheios.
Não dava nem para vê-lo se movendo, era uma coisa sobrenatural.
Sobrenatural..
- o que caralhos você é!? - bateu em sua mão, afastando-a.
- ou você está se fazendo, ou é burro mesmo. - levantou. - é bem óbvio.
Dessa vez a veia que saltou foi da testa de Jayce.
A língua dele era tão incisiva quanto a sua, deveria tomar cuidado. Caso contrário os dois ficariam se agredindo verbalmente até depois de mortos. Bom.. isso se já não estivesse e aquilo tudo fosse só um delírio de sua mente.
Já entrou em discussões iguais com Riley, não foi a melhor das experiências.
No final quase se mataram na porrada no meio do corredor.
- que piada, vai me dizer que vampiros existem agora?
- bem.. você está na frente de um.
- a sua estética é totalmente diferente da de um vampiro.
- só porque tenho cabelo branco? quanta generalização vocês humanos colocam sobre a gente. - revirou os olhos.
Por um momento, sentiu-se falando com uma cópia exata de si mesmo. E isso não lhe agradava.
Era insuportável e sabia disso, e por isso não tinha irmãos, quem em sã consciência aguentaria mais um dele solto pelo mundo?
Mas agora, estava perante alguém com a mesma afiação verbal que a sua.
Talvez fosse um sinal para tratar os outros melhor.
Nunca era tão tarde para uma mudança de comportamento, principalmente se fosse de boa vontade.
Bufou, afastando os pensamentos.
A quem ele queria enganar, se brincar voltaria para a escola no dia seguinte pior do que hoje.
Isso se conseguisse sair de lá!
- eu devo estar ficando louco, isso não existe.
- ei, humano patético.
Sua atenção foi tomada, mas estava com uma onda de raiva absurda.
Estava se torturando psicologicamente depois de ver o quão insuportável era ser tratado desse jeito.
- o que.. você quer.. inferno. - disse falsamente sorridente entre os dentes.
A cena que viu, qualquer garota acharia fofo e cavalheiro, com certeza se apaixonariam de imediato.
Mas ele fez foi se assustar e ficar três vezes mais desconfiado.
Porque aquele vampiro cretino estava estendendo a mão para ele? Pretendia puxá-lo para cima, matando-o com uma só mordida?
Tipo, daquelas que o Drácula tem para sugar o sangue dos humanos?
Desvencilhou as ideias de sua mente avoada com uma leve chcoalhada, estava pensando demais. Era bom parar de ver filmes de monstros por um tempo.
Não aceitou a ajuda, invés disso mostrou o dedo do meio para ele e se levantou sozinho.
- me sequestra, age feito um cavalo, e quer me oferecer ajuda? Vá se foder.
- que boca suja.
- morra, porra.
- eu sou imortal.
- finja que está morto então.
Em segundos, seu pescoço foi tomado pelas dedos magros e incrivelmente macios do jovem vampiro.
Estava novamente perto demais.
Ele não sabia suas intenções, estava nervoso, lógico. Mas estava totalmente emputecido também.
Agarrou o colarinho da jaqueta dele, apertando fortemente.
Estavam em pé de guerra, um com a intenção de arrebentar o outro o quão depressa possível.
- senhor mason, desculpa interromper. - apareceu a mesma sombra de antes. - a vossa alteza deseja sua presença no quarto dela, de imediato.
Mesmo com faíscas nos olhos enquanto encarava seu novo fazedor de companhia, o largou em segundos, empurrando-o para trás.
Arrumou suas vestes e saiu como um príncipe metido.
- o que devo fazer com ele?
- algeme e o jogue em qualquer quarto de hóspedes.
Ele se sentiu uma vagabunda ouvindo aquilo.
Estava farto daquele garoto e nem o conhecia. Na verdade..
Mason.
Tinha escutado, não era um nome ruim, talvez até elogiaria mentalmente se não fosse pelo portador dele.
(....)