vinte e oito

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Laura

A minha sexta-feira não começa propriamente da melhor maneira – o meu carro decide não pegar, por isso eu vejo-me obrigada a apanhar um uber para chegar a tempo ao trabalho, visto que se apanhasse autocarro ou metro não conseguiria chegar a horas. Ligo ao meu pai no caminho para o trabalho, pedindo-me que ligue ao mecânico da família para ver se consegue arranjar-me o carro – sim, porque continua a ser o meu pai a tratar dessas coisas e eu não me importo absolutamente nada. Envio também mensagem ao Rúben, dizendo que talvez tenhamos de desmarcar os nossos planos para esta tarde, porque não tenho carro e isso torna as deslocações um bocadinho mais complexas. Contudo, ele é rápido a responder que me vai buscar ao trabalho, porque não me vai deixar "baldar" ao treino, e eu acabo por concordar.

Talvez influenciada pelo início caótico de dia, a minha manhã de trabalho não corre como eu gostaria, acabando por surgir pequenos problemas que tenho de resolver com urgência, fazendo-me perder imenso tempo em chamadas e atrasando o trabalho que tinha programado. Paro por volta da uma e meia para comer o almoço que trouxe de casa, mas meia hora depois estou de volta à secretária para continuar a trabalhar.

A tarde corre um pouco melhor, talvez porque me sinto gradualmente mais tranquila. O meu pai já conseguiu que o mecânico me fosse a casa buscar o carro, com ele, e vai tentar resolver o problema o mais rapidamente possível – o que também me deixou mais descansada. Consigo que o trabalho flua melhor e consigo concluir todas as tarefas do dia até à minha hora de saída.

- Isso é que foi dar o litro hoje... - a Tânia comenta, ao ver-me começar a arrumar as coisas.

- A manhã foi bem caótica... Mas a tarde deu para recuperar. – declaro, sorrindo-lhe.

- E se não desse, estava tudo bem. Tens de deixar de te preocupar tanto com o trabalho, Laura. Nem todos os dias têm de ser perfeitos. – o Gonçalo intervém.

- Eu sei... Mas tu também já me conheces o suficiente para saber que eu sou perfecionista. – atiro, soltando uma gargalhada

- Isso só te faz mal, miúda. – ele comenta, rindo-se – Bem, nós também vamos andando, não é? – pergunta para a Tânia.

- Sim, que já fiz a minha parte por hoje. – a morena afirma – Precisas de boleia? Como é que vais para casa?

- Na verdade, não vou para casa. Vou treinar com o Rúben, por isso ele vem-me buscar. – respondo.

- Ai sim? Temos de pôr a conversa em dia, pelos vistos... - a minha colega e amiga pisca-me o olho.

- Não me parece que haja nada para pôr em dia. – corto o assunto rapidamente, preparando-me para sair – Bem, até amanhã! – despeço-me, sem dar tempo à Tânia para insistir no assunto.

Desço até ao rés-do-chão do edifício onde trabalho e depois procuro pelo carro do Rúben, visto ter-me dito que já tinha chegado. Quando o encontro do outro lado da estrada, dirijo-me para lá, atravessando na passadeira e dirigindo-me depois ao carro preto, entrando no lugar do pendura.

- Boa tarde, senhora arquiteta. – ele cumprimenta-me com um grande sorriso e aproximando-se para me deixar um beijo na bochecha. Não é propriamente algo habitual entre nós, mas gostei da forma natural como aconteceu, por isso decido não dizer nada – Como correu esse dia?

- Até correu bem... Depois do começo atribulado, as coisas lá se recompuseram. – respondo – Obrigada por me teres vindo buscar. Não era preciso.

- Não me custou rigorosamente nada, Laura. Tens as tuas coisas ou precisas de passar em casa? – o jogador pergunta-me.

- Acabei por deixar tudo em casa... Não te importas de passarmos lá? – questiono.

          

- Claro que não, se não nem tinha perguntado. – ele revira os olhos – Temos tempo, sem stress.

- Obrigada. – sorrio-lhe, agradecendo uma vez mais – E o teu dia, como correu?

- Só tivemos treino de manhã, depois de almoço estivemos a ter reunião com o mister para preparar o próximo jogo. – o benfiquista responde-me.

- Como tem corrido? Como te sentes a nível físico? – pergunto.

- Sinceramente, sinto-me melhor a cada dia que passa. Estou a voltar à minha forma física anterior, sinto-me novamente mais ágil em campo e com menos medo de estragar tudo. Ainda continuo a ir à fisioterapia duas vezes por semana, mas já faço os treinos todos com o resto da equipa. Estou feliz por as coisas se estarem a endireitar. – o moreno sorri-me.

- E eu estou feliz por te ver mais motivado e animado. – adiciono – Tenho a certeza de que vai correr tudo muito bem.

- Obrigado. Espero que sim.

Chegamos razoavelmente rápido a minha casa e, visto que já tinha deixado tudo preparado, apenas preciso de subir, pegar no meu saco de desporto e voltar a descer. Entro novamente no carro do Rúben e depois seguimos até ao seu apartamento. É a primeira vez que vou estar no seu apartamento e, embora não tenha pensado muito no assunto até ao momento, agora sinto que isto é um novo marco na nossa amizade – o voltarmos a fazer parte do espaço pessoal um do outro.

Sinto-me cada vez mais confortável perto do Rúben e sinto-me mesmo feliz por lhe ter dado esta segunda oportunidade, porque funcionamos realmente bem como amigos e eu percebo, agora, que ele me faz falta ao longo de todos estes anos. Sempre nos entendemos bem, as coisas eram simples entre nós e agrada-me que, apesar de tudo o que mudou, isso se mantenha igual.

O prédio onde fica o apartamento do Rúben é bastante moderno e obviamente mais elegante que o meu. Ele estaciona o seu carro na garagem e subimos de elevador até ao quinto piso, onde fica o seu apartamento. Ele explica-me que comprou o apartamento há algum tempo, mesmo antes de saber que regressaria ao Benfica, para poder ter um espaço próprio quando está em Lisboa. Tal como o edifício, o apartamento é moderno e elegante, com uma decoração simples e minimalista, mas com toques pessoais e intimistas.

- Neste momento, tenho inveja do teu apartamento. – admito com uma gargalhada – É incrível.

- Obrigado. Meio que foi uma compra impulsiva, porque assim que o vi decidi que iria comprar, até porque o vendedor me disse que havia muita gente interessada e era o último do prédio por vender. Não pensei duas vezes. – o moreno confessa – Os meus pais quase me mataram quando perceberam que dei uma pequena fortuna por ele, mas senti que esta podia ser a minha casa efetivamente e, honestamente, prefiro gastar o meu dinheiro neste tipo de coisas do que em roupa ou assim. – ele encolhe os ombros.

- Eu acho que há situações em que apenas sentimos que é certo. – declaro – Diz-me onde posso trocar de roupa, por favor. – peço.

- Ali na casa de banho, anda, eu mostro-te onde é.

Sigo-o pelos corredores do apartamento, percebendo que tem, pelo menos, dois quartos e uma terceira divisão que o Rúben me indica como sendo o pequeno ginásio que construiu. A cozinha e a sala ficam em open space e a casa de banho também é bastante grande, quando comparada com a minha. Troco rapidamente a roupa do dia pela minha roupa de treino, prendendo o cabelo num rabo de cavalo bem preso e saindo depois para me juntar ao Rúben no seu mini-ginásio.

Apesar de não ser um espaço muito grande, tem uma passadeira, uma bicicleta e vários conjuntos de pesos, o essencial para um treino razoável.

- Preparada? – o moreno pergunta-me, também ele já com a sua roupa de treino.

Pontos Nos Is | Rúben DiasWhere stories live. Discover now