Lauren estava amarrada numa cama estreita de estrutura de aço. Tinha as mãos presas com tiras de couro de um lado e outro da cama.
Já havia muito tempo que abandonara qualquer tentativa de se soltar. Estava acordada, mas mantinha os olhos fechados. Quando os abria, achava-se no escuro, e a única fonte de claridade visível era um fino clarão acima da porta.
Parte de sua consciência espreitava o barulho de passos avisando que ele estava vindo. Sabia que já anoitecera, mas não tinha a menor ideia de que horas eram, só sentia que estava ficando tarde para uma de suas visitas.
Assinalou mentalmente mais um dia.
Era seu quadragésimo terceiro dia de cativeiro.O ar da sala era abafado e quente. Vestia uma camisola simples de tecido liso, embolada debaixo de seu corpo.
Deslocando o quadril o pouco que dava, conseguiu segurar o tecido entre o indicador e o dedo médio e puxar a camisola para o lado, centímetro por centímetro. Tentou com a outra mão, mas a camisola continuava a formando pregas sob suas costas. O colchão era cheio de calombos e desconfortavel. O absoluto isolamento a que estava submetida aumentava tremendamente as mínimas sensações, que numa situação normal ela teria ignorado.
Se havia um sentimento dominando sua mente, era talvez o da raiva.
Por outro lado, era torturada por seus próprios pensamentos, que, apesar de todas suas tentativas em contrario, transformavam-se em desagradáveis fantasias sobre o que iria acontecer com ela.
Detestava aquele estado de vulnerabilidade forçada.
Por mais que tentasse em se concentrar em algum tema que a ajudasse a passar o tempo e abstrair aquela situação, a angústia estava presente.
Descobrira que o melhor jeito de manter a angústia afastada era fantasiar sobre uma coisa mais forte que seus pensamentos, mas sua mente sempre se voltava para o fogo.
Quando fechava os olhos, mentalizava o cheiro de gasolina.
Sua mãe. Ela estava sentada num carro com o vidro lateral abaixado, totalmente amarrada. Ele estava sorrindo de uma maneira doentia, e como se fosse a coisa mais prazerosa que fizera na vida, jogou a gasolina pelo vidro aberto e riscou o fósforo.Era questão de segundos. As chamas surgiram instantaneamente. Ela se contorcia de dor e ele ouvia seus gritos de terror e aflição.
(...)
Devia ter caído no sono, pois não o escutou chegar, mas despertou completamente quando a porta se abriu. A claridade da abertura a cegou.
Então ele veio.
Era alto e um pouco acima do peso, tinha cabelos escuros e raspados do lado. Cheirava a loção pós-barba.
Passou a detestar seu cheiro.
Ele ficou em silêncio ao pé da cama e contemplou-a demoradamente.
Ela só via uma silhueta na contraluz. De repente ele falou. Sua voz era grave e clara e ele acentuava cada palavra com afetação.
Detestava a sua voz.
Ele disse que queria lhe dar os parabéns, já que era o dia de seu aniversário. A voz não era nem desagradável nem irônica. Era calma. Ela percebeu que ele sorria.
Ela o detestava.
Ele se aproximou e contornou a cama até ficar junto de sua cabeça, pôs as costas da sua mão em sua testa e deslizou os dedos pela raiz do seu cabelo, num gesto que decerto pretendia ser amigável. Era o seu presente de aniversário.
Ela detestava que a tocasse.
Estava falando com ela. Lauren viu sua boca se mexer mas não deixou entrar o som da voz dele.
Não queria ouvir. Não queria responder. Ouviu quando ele ergueu a voz. Uma ponta de irritação, por ser ignorado, se introduzira nas palavras. Ele falava e falava. Ao fim de vários minutos, calou-se. Ela ignorou seu olhar. Então ele deu de ombros, contornou a cama pela cabeceira e ajustou as correias de couro. Apertou a correia e inclinou-se sobre ela.
Lauren se virou de repente para o lado esquerdo, afastando-se dele o quanto pode e tanto quanto as correias permitiam. Dobrou uma perna e deu um ponta-pé. Mirou na coxa e atingiu-o com a ponta do pé, mas ele esperava por isso e se esquivou, o golpe foi bem leve, apenas perceptível. Ela fez uma nova tentativa, só que ele já estava fora do alcance.
Ela deixou cair as pernas sobre a cama.
O lençol tinha escorregado e se amontoara no chão. Ela sentiu que a camisola subira bem acima dos quadris. Não gostava disso. Não podia cobrir sua nudez.
Ele ficou um bom tempo parado sem dizer nada. Depois, contornou a cama e colocou a tira dos pés. Ela tentou encolher as pernas, mas ele agarrou seu tornozelo e com a outra mão empurrou com força o joelho, perdendo seu pé com a correia de couro. Foi para o outro lado da cama e amarrou o outro pé.Lauren agora estava totalmente a sua mercê.
Ele juntou o lençol e a cobriu. Contemplou-a em silêncio por uns dois minutos. No escuro, ela podia sentir sua excitação, embora ele disfarçase ou, pelo menos, tentasse. Sabia que ele queria estender a mão e toca-la.
Depois ele deu meia-volta, saiu e fechou a porta atrás de si. Ela escutou quando ele deu a volta na chave, gesto um tanto exagerado já que ela não tinha a menor possibilidade de sair.
Permaneceu imóvel vários minutos e olhou para o fino raio de luz acima da porta. Então se mexeu e tentou sentir se as correias estavam apertadas.
Podia erguer um pouco os joelhos. Permaneceu deitada, olhos fixos no nada.
Fechou os olhos e se deixou levar por mais uma de suas fantasias de vingança.
Então um sorriso totalmente desprovido de alegria surgiu em seu rosto.
Aquela era a noite de seus dezesseis anos.
×××
Então, eu tive a ideia dessa fic lendo o Prólogo de um livro que eu tinha visto na biblioteca. Esse Prólogo é totalmente inspirado no Prólogo do livro.
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Fire Girl ➸Camren
FanfictionDepois de presenciar a morte da mãe e ser prisioneira do assassino da mesma, Lauren consegue escapar e encontra três garotas que a abrigam e uma que tira completamente sua paciência. A vida da morena melhora, mas não por muito tempo. *Essa fanfic é...