O Trato

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Eu e Bia nos entreolhamos. Pelo visto, ele era "lerdo assim", de fato. Eu não estava aguentando, me torturava o fato de ter que ficar mais tempo ali, naquelas circunstâncias. Resolvi falar.

-Bom. Sabe aquilo que o Ricardo disse ontem...? Sobre você e Bia...

Felps pareceu relaxar. Ele até sorriu.

-Ah, já entendi. Não pensem que eu considerei alguma coisa que aquele idiota disse. O cara viaja. Mas não precisam ficar esclarecendo, está tudo bem, eu não cheguei a entender mal. Ainda somos amigos do mesmo jeito, ok, Bia?

Oowh. Essa doeu. Ele não considerou nada, nada que Ricardo disse. Eu não sabia se ficava com vergonha por ela ou a encarava, seu rosto provavelmente estava mais vermelho que o meu.

Felipe riu mais.

-Gente, que é isso! Eu sei qual é a desses caras, eles gostam de zoar. Não precisam ficar com vergonha, pensando que eu entendi errado ou tive alguma impressão falsa sobre o que ele disse. Estamos resolvidos? Já podemos voltar?

-Bom... A gente pensou se você podia nos ajudar. Com o Jack.-eu disse, e no mesmo momento, Bia arregalou os olhos e pôs o dedo indicador na frente dos lábios, para eu parar de falar.

Felipe desfez seu sorriso brincalhão.

-Ah. Qual das duas está afim dele?

Eu olhei para a bia, que olhou de volta com aquela cara de santa, de "não fui eu".

-É essa daí.-eu disse apontando a Bianca, que já não sabia onde enfiar a cara.

Felps fez uma cara de safado. Céus, se o sorriso dele já era lindo, a cara de safado dele era de morrer.

-Hummm, dona Bianca. Certo. Como posso ajudar vocês?

-Você e Jack se falam? Tente saber o que ele sente por ela.

-Genteeee!!! Parem!!! Eu estou aqui! Não falem essas coisas melosas de cupido comigo por perto!

Eu e Felps desatamos a rir. A cara de Bia estava hilária. Paramos depois de muitos segundos.

-E como eu tenho que fazer isso? Vou chegar e perguntar do nada, tipo " e aí, bro, tá afim da Bianca, ou ela não é pro teu bico, parca?"

Ele fez uma voz engraçada quando imitou sua possível forma de perguntar ao Jack se ele gostava de Bia.

-Ai, muito informal! Mande ele comprar um buquê de flores e ir de terno se apresentar aos pais dela como o namorado responsável e com boas intenções!

-Ui ui ui!

Felipe levantou as mãozinhas imitando um gay. Eu ri muito. Bianca já estava no chão, com a cabeça enfiada entre os joelhos.

-Enfim, o que eu ganho com isso?- Lipe perguntou, quando enfim, paramos de rir.

- Ganha como assim? Tem que ganhar alguma coisa, é? Não pode nos fazer esse favor por gentileza?

-Não, aqui se faz, aqui se paga. Aceito dinheiro mesmo.

-Que cruel! Não vamos te pagar.

-Sorvete?

-Sorvete tá caro.

-Bala?

-Só se for daquelas de 10 centavos.

Ele fez um biquinho.

-Que mãos de vaca. Okay, faço de graça mesmo.

Dei um gritinho e o abracei. Acho que fui rápido demais, por que ele me olhou estranho depois disso.

Estávamos escondidos debaixo da rampa, para ninguém nos ver e nos denúnciar à diretora. Afinal, estávamos matando aula, algo nada certo. Se meus pais soubessem, eu ficaria de castigo sem dúvida.

Eu estava ouvindo música no volume maximo quando ouvi o Felps me perguntar algo.

-E você, Mell? Gosta de alguém?

Pensei bem no que responder.

-Tem que prometer que não vai contar pra ninguém.

-Tá. Relaxe.

-Gui.

-Ah. O carinha que tem o cabelo melhor que o meu.-ele disse em tom de inveja.

Eu ri.

-Você ouviu essa conversa? Então você só enrola mesmo. Que mané minecraft, o objetivo era nos fazer de idiota, né?

-Talvez.

Ri mais uma vez.

-Ah! Adoro essa música!

-Qual?

-Bright, do Echosmith.

Ele pegou o outro fone e o colocou no ouvido. Depois de uns segundos, o retirou e disse com cara de nojo:

-Que deprimente. Como consegue ouvir isso?

-Sei lá. Eu gosto.

-Tsc. Péssimo gosto.

Fechei os olhos e aproveitei o resto da música. Quando o sinal do horário tocou, tive que acordar a Bia, que dormia no meu colo. Felipe subiu prontamente, e eu e uma Bianca sonolenta, logo atrás.

Todas as aulas se passaram. O sinal tocou, mas ficamos mais alguns minutos, pois a professora de literatura disse toda imponente que "ainda não terminei, quem quiser, a porta está aberta".

Quando saímos, me despedi da Bia e do Felps, antes de descer. Fiquei esperando o meu pai. Estava tentando pegar algum sinal de internet, movendo meu celular para cima, para os lados, como uma retardada. Ouvi uma voz atrás de mim, uma voz que eu bem conhecia.

-Tá querendo sinal de Wi-fi, Mell? Pega o da gráfica aqui do lado-disse o Caio, que parou de andar só pra dizer isso.

-Ah. Valeu.

-Sobre aquilo, foi mal. Percebi que você e o Felipe se gostam, né? Até mataram aula hoje. E aí?

Ele fez uma cara de safado. O que eu ia dizer?

Os 26 Planos da Minha AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora