De pequeno-almoço tomado e cadernos na mão, Sabrina desce rapidamente as escadas do prédio e encontra-se com o dia ameno cá fora. Não pode queixar-se da localização do seu novo lar, discreto e no centro da cidade apresenta todo o conforto de que ela necessita para prosseguir os seus estudos na faculdade. A bolsa que conseguiu ganhar graças à elevada média no secundário e boa classificação nos exames permite-lhe o lugar no curso de Bioquímica e ela está disposta a estudar arduamente para não a perder. Felizmente, o esforço que fez a trabalhar durante o verão dos últimos anos está a ser compensado, pois se não fosse o dinheiro que juntou a servir às mesas no restaurante perto de sua casa nunca conseguiria pagar um apartamento por sua conta e seria obrigada a frequentar a residência universitária, opção que, definitivamente, não era do seu agrado. Envolta em pensamentos leves e que a deixam orgulhosa de tudo o que já conquistou, Sabrina não dá conta do corpo que choca com o seu e os poucos materiais que transporta com o braço ameaçam cair. Num reflexo rápido após o pequeno acidente, a rapariga alcança-os antes que tenham um encontro inesperado com o pavimento calcetado da rua movimentada e uma mão morena aparece no seu campo de visão, juntando-se à sua na reposição dos cadernos no seu lugar anterior. Quando a sua cabeça se eleva, os seus olhos deparam-se com um rosto demasiado bonito para ser real. De pele morena e cabelos tocados da mesma cor, os claros olhos azuis destacam-se na face masculina do rapaz à sua frente e Sabrina sente-se incapaz de quebrar o contacto. A profundidade do seu olhar oceânico parece prender os seus pés ao chão, não que ela se importe de ficar a observá-lo. Ele não parece muito melhor, as suas íris apreciando a delicadeza e simplicidade da rapariga que está a ver pela primeira vez, a forma como os seus longos cabelos castanhos claros, ligeiramente tingidos de cor-de-rosa nas pontas, combinam, de um jeito que chama a atenção, com os seus lábios pequenos e rosados, as sardas quase despercebidas na linha do seu nariz. De um momento para o outro, ambos parecem acordar da pequena visão de sonho que enfrentam e atrapalham-se com as palavras que saem simultaneamente das suas bocas.
-Desculpa... Eu, ham...
-Oh... Desculpa, estava, ham...
De novo, os seus cérebros parece em sintonia, pois param de falar ao mesmo tempo. E antes que permaneçam num vaivém incessante de vocábulos baralhados trocados sem sentido, ele resolve antecipar-se.
-Desculpa, saí completamente à pressa e não me apercebi que estavas aí.
-Não faz mal, eu também estava distraída e não dei conta da tua presença.
A forma como ela sorri quando acaba de falar dá-lhe uma vontade súbita de permanecer na conversa com a rapariga que acabara de conhecer, e então ele lembra-se que ainda não sabe o seu nome.
-William. William Robinson.
-Sabrina Jones. Eu-eu adorava continuar a falar contigo, mas tenho mesmo de ir para a faculdade.
-Ham, sim, claro. Não te quero atrapalhar, eu também tenho de voltar à loja e por isso, ham, bom...
O jeito desajeitado dele é adorável aos olhos de Sabrina e ela não consegue evitar soltar uma pequena gargalhada tímida. Na verdade, ela não pode estar mais envergonhada por estar na presença de alguém tão bonito.
-Vejo-te por aí, William.
Antes que o constrangimento entre os dois aumente, ela despede-se com um sorriso doce e retoma, num passo apressado, o seu caminho para a faculdade. E só consegue pensar na forma como ele prendeu a sua atenção desde o primeiro instante em que os seus olhos se cruzaram.
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Humble
Short Story"Ele é tão puro, ela fascina-o. Um olhar inesperado e cruzam-se no caminho. Autênticos, simples, únicos e sinceros. Eles são felizes por serem humildes." "Humble" por Isabella Riavie, 2015. Todos os direitos reservados.