9 - Presos

138 23 8
                                    

Nas masmorras do castelo de Regina, Leo tentava se comunicar com as donas das vozes que ouviu, pareciam estar presas ali a bastante tempo:

-Meninas, me poderiam contar como vieram parar aqui? - Perguntou o ferreiro, assustando-as e por isso deram um grito um pouco histérico e ensurdecedor, elas não tinham reparado nele até então.

-Quem é você? - Vociferou Belle para Leo. - O que quer com a gente?

- Sou Leo, um ferreiro qualquer de uma vila qualquer. Não se preocupe, quero apenas conversar, afinal, acho que passaremos um bom tempo aqui juntos, então seria bom ter algo para falar.

- O que Regina iria querer com um ferreiro qualquer? Por que deveríamos te dizer algo? E se for um dos homens dela tentando tirar informações de nós? - Nos últimos meses, Belle havia desenvolvido a coragem para questionar tudo, este hábito ainda lhe era estranho, criados são treinados para não questionar. Entretanto, como sua senhora Aurora passava a maior parte do tempo dormindo, ela teve que tomar as rédeas para tentar ao menos mantê-las vivas.

-Não sou um dos dela - sussurrou Leo tristemente.

Aurora, que havia limitado-se a ouvir durante a discussão, não acreditou no que Leo falou sobre ser um ferreiro qualquer. Sim, ele podia ser um ferreiro, mas não qualquer. Ela lembrou-se daquela voz rouca e cheia de autoridade, mesmo que a tenha ouvido apenas uma vez há muitos anos. Foi quando a princesa não passava de uma criança, era um daqueles poucos momentos que conseguia arrastar seu pai, o Rei Trostsky do Reino Do Outro Lado Do Mar, para fora da sala do trono e levá-lo até o jardim para brincarem um pouco. Estavam se divertindo como não acontecia desde a visita que Frigga fez no ano anterior para anunciar que estava grávida. Mas como todas as coisas boas na vida de Aurora duravam menos que pouco, a tarde com o pai não poderia ser diferente. Aquele homem apareceu sozinho, saído do meio das árvores do bosque ao fundo do jardim e incendiou a calma de Trotsky com o trovão de sua voz. Por mais que já tenha tentado, Aurora nunca conseguiu se lembrar do rosto do homem, lembrava-se apenas da voz e praticamente todas as noites tinha pesadelos onde sua voz pertencia a um ogro horrendo que vinha à sua casa, levava seu pai embora, deixando-a solitária. Sem pai, sem rei, apenas ela e a mãe, totalmente passiva a situação. E agora o homem estava a menos de dois metros. Trancafiado atrás de grades, igual a ela.

-Eu te conheço - disse a voz suave e firme da princesa. - Talvez você não se lembre, mas eu nunca me esqueci do homem que levou meu pai de mim.

-... Você é a garotinha chorona, filha de Tro...

-Não ouse dizer o nome dele. Não aqui - interrompeu Aurora.

- Sinto muito princesa, por nos reencontrarmos nesta situação e... pelo seu pai, ele foi bravo - a voz de Leo era claramente arrependida. - Mas creio que se quisermos sair daqui, teremos de agir juntos, então por favor, me conte como vocês chegaram aqui, para que eu possa tentar descobrir o que Regina quer com vocês.

- Belle, conte a Leo tudo o que precisa saber. Estou com sono - murmurou Aurora, já encolhendo-se para dormir. O tempo ali passava mais rápido quando estava dormindo.

- Tudo bem. Nós viemos do Outro Lado Do Mar em uma viagem em comemoração ao aniversário de minha senhora. Iríamos passar dois meses aqui para passear, conhecer pessoas e um ou dois reinos talvez. Éramos eu, Aurora, mais seis garotas da corte e suas criadas e três escudeiros. Havíamos chegado apenas há uma semana quando nosso acampamento foi invadido por lobos durante a noite. Eles devoraram nosso cavalos e destruíram nossos suprimentos. Quando acordamos pela manhã, não havia restado nada. Então seguimos uma trilha que nos trouxe até aqui, fomos recebidas por Regina e após toda a apresentação formal ela nos ofereceu quartos, comida e água quente. Estava tudo realmente muito bom, até o momento após o jantar, quando já havíamos bebido algum vinho e Regina disse que queria nos mostrar algo esplêndido no subsolo. Ela mentiu e nos trancou aqui, dizendo que só nos deixaria ir se fizermos votos de lealdade à ela. Claro que não aceitamos.

-Onde estão as outras garotas e os escudeiros? - perguntou Leo, já imaginando a resposta.

- Foram todos mortos, um por um.

A meia luz daquele lugar de repente pareceu apenas escurece-lo mais, deixá-lo mais sombrio e frio. Aurora dormia profundamente, como se a morte não estivesse batendo à porta.

- Temos que sair daqui - disse Leo levantando-se do chão e começando a andar de um lado ao outro da minúscula cela. - E temos que fazê-lo o mais rápido possível, antes que sejamos os próximos.


A Magia da MontanhaOnde histórias criam vida. Descubra agora