Capítulo X

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Narração Melanie

Você respira profundamente procurando apaziguar aquela sensação de medo causada pelo pesadelo da noite anterior. Sorri, pensando o quanto sua vida é perfeita, no marido maravilhoso que parece saber tudo o que você pensa ou pelo menos tenta adivinhar.

Muitas pessoas não escondem a inveja, então sua vida desmorona como no pesadelo, uma consequência. Procure palavras, todavia não existe uma que descreva a sensação ao ver os prédios em chama e saber que ele está ali dentro.

E quando você se vê rodeada das pessoas e ele indo embora, a sensação de perda toma as rédeas de sua vida e você sabe, um dia terá que abandonar as lembranças tristes e aprender a conviver com a saudade.

No início eu procurei o culpado. Culpei o fanatismo religioso, as perturbações mentais daqueles homens que agiram sem um pingo de remorso e até a dominação capitalista. Mas, não adiantou, nada traria Alexander de volta e, realmente, não trouxe.

A demonstração do patriotismo só trouxe mais guerra, dor, matando inocentes, assistir aos noticiários piorava o vazio. O pior é que durante esse tempo não pude esquecer meu desejo por justiça, embora nada pudesse ser como antes, nem mesmo eu.

Abri os olhos quando a caminhonete parou em frente ao meu prédio. Eu não conseguia fitá-lo, meus pensamentos estavam desnorteados e eu temia sua reação, não necessariamente pelo fato de Alexander, isso não era o motivo principal.

 O problema resumia a mim.

Logo a porta da caminhonete se abriu, suspirei limpando as lágrimas antes de aceitar a mão de Derick e sair. Abracei-me devido ao frio, caminhando para o prédio sem esperá-lo. Eu estava sendo covarde, não havia nenhum resquício sobre a Melanie decidida e livre. Sentia-me como a menina que contaria algo tenebroso aos pais.

Passei pela portaria sem cumprimentar Scooter, chamando o elevador, embora o mesmo não quisesse cooperar. Já estava quase desistindo, quando as portas abriram. Derick entrou também, talvez ele imaginasse que eu estivesse com raiva por termos jantado com seus pais. Na verdade, eu havia adorado, era como se pudesse novamente me anexar a outras pessoas que para ele são importantes, fazendo de mim importante em sua vida também.

Minhas mãos tremiam ao tentar encaixar a chave na fechadura. Calma, Melanie, você não irá contar nenhum crime, repetia mentalmente sem acreditar em nenhuma palavra.

— As chaves — Derick pediu.

Assim que a porta se abriu, entrei rápido sem dar atenção a Oce. Sentei-me no sofá, encarando o chão. Imediatamente as lágrimas voltaram a deslizar meu rosto, como tendo a capacidade de aliviar a angustia que eu não sentia há meses.

— Melanie — ele sentou ao meu lado, segurando minha mão, enquanto outra erguia meu queixo, obrigando que eu o fitasse — Eu adoraria entender o que está acontecendo com você — acariciou meu rosto.

— Eu havia completado um ano e meio de casada oficialmente e tínhamos planos de ter filhos. A ideia, na verdade, era minha. Nós estávamos controlados tanto na área financeira como emocional, mas aquele dia estragou tudo — levantei desmanchando o penteado do cabelo — Eu acordei nervosa por ter quase perdido a hora, me arrumei e recebi a ligação da minha mãe. Liguei a TV e, então, vi a notícia sobre o atentado ao WTC. Eu não conseguia raciocinar, tudo parecia irreal. Pietro me encontrou na rua desesperada, eu só queria acabar com a dor, me sufocava;  eu tive esperanças quando o encontraram. Só que ele não pode voltar para casa, Derick.

— Eu sinto muito.

— O pior foi depois, reconstruir a minha vida e esquecer, abdicar de todos os nossos sonhos. Levantar a cabeça e ignorar os olhares de piedade, isso me destruiu. Então, continuei a minha vida empenhada no trabalho, aceitando todos os projetos voluntários, reclusa no meu próprio mundo, eu aceitei o meu destino até você aparecer e mudar tudo.

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