Bip bip, bip bip. O relógio acaba de bater 00:00h quando Arthur volta a realidade. Ele já está a horas na frente de seu computador vendo suas fotos salvas. A cada imagem nova que surgia na tela, um turbilhão de sentimentos e lembranças invadem sua mente.
Click, uma nova imagem aparece na tela. A fotografia foi tirada em uma festa eletrônica, cuja as luzes e lasers refletem na roupa de um casal. Um rapaz de cabelo curto e roupa social esta abraçado com uma menina loira de aspecto delicado. Assim que os olhos de Arthur passam pela foto, ele afunda em sua memória, se perdendo no tempo e voltando para aquele momento.
O sol esta se pondo quando Will, seu melhor amigo de balada, chega à sua casa para lhe buscar. Arthur havia escolhido uma camisa polo e uma calça jeans nova para ir à festa, enquanto Will está vestido de uma forma meio desleixada, uma regata cavada, bermuda e tênis.
— Sério que você vai sair tão arrumado? — Diz Will assim que Arthur entra em seu carro conversível. Will é filho de um cirurgião famoso na área pediatra, então dinheiro nunca faltou para sua família. Ano passado, quando completou 16 anos, seu pai lhe deu este carro como um presente, por ser um "ótimo filho".
— Cala a boca. — Arthur diz rindo olhando o sol se esconder atrás do telhado de uma casa.
— Vamos logo então, sei que discutir com você não adianta. — Will da partida e eles avançam. Após alguns minutos cruzando as ruas do bairro de Arthur, os dois chegam a avenida principal, enquanto o vento balança seu cabelo curto e moreno.
Quando chegam no clube onde acontece a festa, é possível ouvir a música eletrônica ensurdecedora. Por serem conhecidos por todos, principalmente Arthur — o mais popular do colégio —, nem precisam de convites ou ingressos, entrando com facilidade. Logo na entrada, um grupo de rapazes cumprimentam os dois e Will permanece com eles. Arthur continua andando pelo local, na direção do bar, acenando e falando com seus conhecidos. Assim que chega ao bar, ele pede ao barman uma bebida com bastante vodka e espera por ela distraído.
Uma mão leve e delicada cobre os olhos de Arthur e no mesmo momento ele sente um beijo em sua orelha acompanhado com uma voz feminina suave.
— Adivinhe quem é?.
Sem dizer nada, Arthur gira seu corpo dando um selinho na menina que estava atrás dele. Ele sabe que é Elizabeth, sua namorada de longa data. Após afastar um pouco seu corpo do dela, ele analisa cada detalhe de seu rosto, mesmo já os conhecendo perfeitamente. Liza é uma garota linda, cujo o cabelo loiro cai de uma forma única em seus ombros; possui olhos verdes e um sorriso que encanta Arthur.
— Como você sempre acerta? — Liza diz quase gritando, devido a música alta.
— Eu sempre acerto quando a questão é sobre você. — Arthur diz sorrindo. O barman lhe entrega a bebida que havia pedido. Ele da um gole e fica segurando o copo.
— Não sei como consegue ser tão fofo, Arthur. — Ela diz sorrindo para o namorado. — Antes de eu te puxar para a pista de dança, quero tirar uma foto com você. Antes de eu ficar acabada, é claro. — Liza tem a fama de dançar muito em todas as festa que vai.
— Vamos então. — Arthur deixa sua bebida em cima do balcão, enquanto Elizabeth pega seu celular e pede para um amigo tirar a foto.
Ela passa um braço atrás de Arthur, abraçando-o. Os dois sorriem e o flash é disparado. As luzes da festa piscam de um modo alucinante e a música eletrônica continua no volume máximo. Elizabeth pega a mão de Arthur e o leva para a pista de dança.
Após algum tempo dançando e bebendo com Elizabeth, Arthur sente uma leve tontura, junto com uma vontade intensa de vomitar. A música e o pessoal dançando ao seu redor não o ajuda a melhorar.
— Liza, não estou me sentindo bem... Vou para casa. Ainda está cedo, se divirta. — A menina tenta ir para fora do clube com ele, porém Arthur insiste para que ela fique e curta a festa. Afinal, não é justo priva-la de algo por causa dele.
Ao sair do clube, seu relógio de pulso marca 20:43. Ele senta no chão, embaixo da marquise de uma casa que fica em frente ao local, esperando a tontura passar para ligar para alguém vir lhe buscar.
A lua cheia se destaca no céu sem estrelas. Arthur fica a observando enquanto a brisa suave de novembro bate em seu rosto.
Quando seu relógio marca 21:04, ele se recupera e procura seu celular, porém não o encontra. Depois de procurar nos bolsos da calça, Arthur solta um risada nervosa imaginando que esqueceu o aparelho com sua namorada, Elizabeth, ou com seu amigo, Will. Sem mais opções, ele se levanta com calma e caminha de volta ao clube.
Ao entrar mais uma vez na festa, ele cruza a pista de dança procurando Will ou Liza. As luzes e lasers atrapalham sua busca, deixando sua visão prejudicada. Arthur caminha olhando para os lados, observando o rosto de cada pessoa presente. Chegando ao bar, ele encontra o grupo de rapazes com quem Will estava conversando no início da festa. Quando se aproximou, um dos rapazes — um garoto de estatura mediana e cabelos loiros — da um sorriso malicioso para ele. Arthur não entende o motivo do sorriso, talvez ele esteja alterado por causa da bebida.
— Pessoal, alguém viu o Will por ai? — Arthur pergunta.
— E AI ARTHUR! TRANQUILÃO?! — Um rapaz de cabelo vermelho que estava junto com a turma grita a Arthur. — Eu vi... Vi ontem, eu acho. — Arthur o observa dá uma risada. Ele claramente estava bêbado e fedendo a álcool.
— Beleza, Eric. — Arthur diz para o ruivo sem muita paciência e se dirige para o restante do pessoal. — Alguém viu?
— Eu o vi saindo da festa há alguns minutos. Ele disse que ia para os fundos do clube. — O menino loiro responde. Arthur o conhece. Seu nome é Hugo e é da mesma turma de Will, sendo um ano mais velho que Arthur.
— Ok, valeu Hugo! Tamo junto. — Arthur dá as costas para a turma e caminha em direção a saída. De canto de olho, ele olha para o bar e vê Hugo rindo com os amigos.
Arthur sai do salão onde está ocorrendo a festa e anda em silêncio pros fundos do clube. Seus passos são abafados pelo eco da música agitada do salão.
O que Hugo chamou de fundos do clube estava mais para um galpão vazio. O local é mal iluminado e pequeno comparado ao salão onde está ocorrendo a festa. Assim que Arthur entra no galpão, ele avista uma silhueta de um casal se beijando. Ele identificou na hora que era Will com uma menina, por causa de sua camiseta regata e bermuda. O casal não percebe sua presença, devido a música alta vinda do salão.
Arthur não queria atrapalhar a pegação do amigo, mas precisava do seu celular ou de um outro emprestado.
— Cof, cof... Licença, mas poderia roubar o meu amigo por um minuto? — Arthur fala rindo, porém a risada é interrompida quando o casal se separa.
A menina que estava com Will não era uma qualquer. Não era uma garota qualquer de uma festa qualquer. Era Elizabeth.
Ela sai dos braços de Will, que permanece imóvel com um semblante de perturbado e corre em direção a Arthur.
— Arthur, não é isso que você está pensando. — Ela grita tentando se explicar de uma forma desesperada. — Não aconteceu nada de mais... Nós só...
— Dois anos... — Arthur diz sem esboçar alguma reação. Will vem em sua direção com as mãos nos bolsos da bermuda. Mesmo tentando esconde-las, dava para ver nitidamente o quanto ele tremia.
— Olha Arthur, deixe a gente explicar. — Porém, Will não teve a oportunidade de continuar falando, o soco de Arthur alcançou sua face antes. Will cai no chão colocando uma das mãos no nariz que sangra.
— Arthur, não precisa disso! Para de ser babaca. — Liza diz correndo em direção ao garoto caído. No chão, Will se senta com ajuda de Elizabeth.
— Não precisa disso? Vocês dois mereciam algo pior! — Arthur diz olhando para eles. O que Arthur sente nesse momento é uma mescla entre raiva, decepção e ódio. — Nunca pensei que passaria por isso. Meu próprio amigo! — Arthur começa a xingar os dois de diversos nomes.
Bip bip. O relógio do seu quarto apita mais uma vez, tirando-o de seu devaneio. Ele solta um suspiro olhando a foto na tela do computador. Com alguns cliques do mouse, ele a exclui e desliga o aparelho. Já são 00:30. Ele precisa ir dormir, porque mais tarde ele irá embora. Mais tarde ele largará sua vida falsa de pessoas mesquinhas para morar com sua mãe, em uma cidade do interior. Mais tarde, Portal Branco receberá Arthur Hurley.