Capítulo 10

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~*~

O som incessante da campainha fez Igraine despertar com um susto. Olhou no relógio, mas sua visão estava tão turva que não conseguiu enxergar com precisão. A campainha continuava tocando e ela se levantou aos tropeços.
- Já vou, já vou! Que droga, Nanny! Perdeu as chaves de novo?
Enfezada, Igraine desceu as escadas, segurando-se firme no corrimão. Nanny tinha o hábito dei r á padaria logo cedo alegando que "os melhores pães e doces tinham que ser pegos recém saídos do forno" e quase sempre perdia a chave da porta de algum modo. Uma vez a chave caíra no bueiro, na outra esquecera no balcão da padaria..e teve uma vez que ela conseguiu perder as chaves dentro da própria bolsa.

DIM DOM DIM DOM DIM DOOOOOOOOOOOOOOOM!!

- Caramba, Nanny! Já vou abrir!
Por sorte, a chave estava na fechadura, Igraine a abriu e a claridade que irrompeu da porta a fez fechar os olhos. Tudo o que queria e precisava era voltar para a cama, sem perguntas de Nanny acerca de seu rosto inchado de tanto chorar por causa de...
- ...entra logo.
Nada. Igraine levou a mão no rosto para ir se acostumando com a claridade e ao forçar seus olhos para se abrirem direito, o corpo estremeceu.
Cruello Devil estava parado á sua frente. Ele usava calça e camisa preta, com uma jaqueta branca por cima e segurando a piteira com seus dedos em luvas brancas. Os olhos azuis dele percorreram Igraine de cima á baixo mais de uma vez, mas ele não se mexeu.
Igraine ainda estava sonolenta e zonza demais por ter acordado de súbito para processar a informação de que estava usando apenas calcinha branca e regata semitransparente. A claridade a impedia de manter os olhos abertos e ela demorou alguns segundos para perceber que a pessoa parada na sua porta não era Nanny.
- Mas tu é mesmo uma ordinária!!!
Igraine arregalou os olhos somente á tempo de ver Cruello avançar na sua direção e a empurrar para trás. Com destreza, ele trancou a porta jogou no chão o envelope que segurava e apagou o cigarro na terra do vaso de plantas sob a cômoda.
- O..o..o que...que...vo-vo...
A boca de Igraine foi coberta pela dele em um beijo intenso. Cruello contornou seu corpo com um dos braços e lhe segurou a cabeça para intensificar o beijo. Nos primeiros segundos, ela permaneceu estática mas logo fechou os olhos e se rendeu aos beijos segurando com força a jaqueta que ele usava.
Os lábios de Cruello se afastaram de seus lábios e lhe beijaram o rosto, o pescoço, o nariz e voltaram aos seus lábios. A forma como ele a abraçava era tão intensa que Igraine agarrou-se á ele com força, beijando-o com uma voracidade incontrolável. Seus dedos enveredaram pelos cabelos bem tratados enquanto sentia as mãos ágeis acariciar suas costas e puxar-lhe os cabelos com cuidado. Quando as mãos dele pousaram em seu quadril e os apertaram ela soltou um gemido baixo e seus olhos se encontraram. Não houve palavras, apenas beijos.
Cruello sentiu o corpo da garota reagir ao seu e a ergueu pela cintura, jogando-a sobre o sofá. Igraine sentiu-se zonza e apenas observou ele se livrar da jaqueta e desafrouxar o cinto,aproximando-se dela e a envolvendo em um abraço.
- Oh...Cruello... - ela murmurou puxando os lábios dele para um beijo.
As mãos de Cruello moveram-se ágeis pelo corpo, sentindo a maciez da pele. Ele mordeu o lábio inferior ao apertar as coxas da jovem, subindo pela cintura e tirando a regata sem que Igraine mostrasse resistência. Cruello cessou os beijos e ergueu-se um pouco para vê-la embaixo de si. A sombra de um sorriso passou por seus lábios enquanto a observava praticamente nua. Com os dentes, tirou as luvas que usava e enquanto inclinava-se , ela ergueu o braço para acariciar seu rosto.
Igraine sentia-se zonza e sonolenta á despeito das reações de seu corpo. Cruello parecia rendido ao seu toque enquanto ela acariciava sua face e a garota estremeceu quando os olhos dele a encararam em uma expressão de desejo e satisfação. Como aqueles olhos poderiam ser tão azuis e tão lindos?
Beijaram-se demoradamente e um arrepio percorreu seu corpo quando ele começou a tocar em seus seios primeiro com as mãos e depois com os lábios. Ela gemeu alto e deixou escapar um sorriso. O peso do corpo dele sobre o seu a forma como se moviam era uma explosão de sensações novas que só a faziam desejar mais. Suas mãos forçaram Cruello a retirar a camisa, o que ele logo fez, jogando-a longe.
Ousada, Igraine levou as mãos pelo peito bem definido, explorando-a da forma que dias atrás apenas o fizera com seus olhos.
Os beijos tornaram-se mais intensos e aos poucos Igraine permitia que ele avançasse nas carícias e nas formas de explorar seu corpo. E Cruello adorava aquilo. Adorava a forma como o corpo dela se mexia embaixo do seu, como ela gemia aos seus toques, como a pele dele se arrepiava quando aquelas mãos delicadas o exploravam com timidez. Envolveu Igraine em seus braços, sentindo o quanto ela era macia e como a queria por completo.
- Vem Cruello...- gemeu Igraine, os olhos fechados em prazer. - Cruello...vai, Cruello...
- ...você me quer mesmo..?
Ele sussurrou, os olhos azuis parecendo reluzir ao olhar para ela com o rosto á poucos centímetros de distância. Igraine sentia-se corada e desnorteada, como se aqueles olhos pudessem hipnotizar. Abriu os lábios para murmurar a resposta.
- Aaaaaaaaah!!!!!!!!!
O grito de Cruello doeu os ouvidos e ele rapidamente se afastou de si como se houvesse levado um choque.
- ANIMAL MALDITO! TARADO! DESGRAÇADO!!! NOJENTO!!!!
Igraine sentiu seu peito gelar ao ouvir aquilo dito aos berros e demorou alguns segundos para compreender o que acontecia.
Cruello mantinha-se em choque sem conseguir reagir e olhando enojado e desesperado para sua perna direita. Ali, literalmente grudado em sua canela, estava o pequeno Golias movendo-se com uma vivacidade e concentração indescritíveis.
- TIRA ISSO DA MINHA PERNA! TIRA ESSE MONSTRO ESTUPRADOR DA MINHA PERNA!!!
Aturdida, Igraine levantou-se do sofá, pegando Golias da perna de Cruello.
- Vamos, Golias solte agora! Golias!
- DEPRESSA ANTES QUE ELE JOGUE PORCARIA NA MINHA PERNA! QUE NOJO! QUE NOJO!
Igraine finalmente conseguiu desgrudar Golias que rosnou e se debateu nas mãos dela, obrigando-a a soltá-lo. O chiuhauhua então correu em direção á cozinha enquanto Cruello permanecia estático, os olhos arregalados em um misto de fúria e pavor. Olhou para a perna, assegurando-se que nada de horroroso havia ocorrido. Igraine continuava imóvel enquanto sua mente começava a clarear e ela percebia o que estava acontecendo .

"Cruello...Cruello...não era um sonho...ele está aqui...eu e ele...nós estávamos...isso é bom demais para ser verd...não, péra."


- Porque você não tranca esses animais ?! - resmungou Cruello colocando uma almofada encima de si. - É um absurdo toda vez esses bichos no caminho!
Ele suspirou enfezado e então parou, olhando para Igraine. Ela estava parada, usando apenas calcinha, os cabelos desalinhados e a pele alva um pouco avermelhada aonde ele apertara com um pouco de força. Porém, seu semblante, embora corado, era taciturno. Cruello recostou-se no sofá, segurando-lhe o pulso com um sorriso provocador.
- Venha cá. Vamos continuar.
- ...não.
- Ora, deixe disso vamos..
- TIRA A MÃO DE MIM!
Ela se afastou, ofegante. Cruello arqueou as sobrancelhas e percebeu que o rosto dela, embora corado, estava repleto de raiva. Mas os seios dela eram maiores do que imaginava.
- Você pensa que eu sou o quê?! Uma vadia qualquer? Uma garota para você usar e jogar fora?! Para agarrar quando bem entende?!
- Mas do que...
- Ficou lá transando com uma vadia rica ontem á noite toda e vem logo cedo tentar fazer o mesmo comigo?! Eu não sou esse tipo de garota com a qual você está acostumado, senhor Devil!
- De onde você tirou que eu...e cubra esses peitos ou eu vou perder o controle!
Ao perceber a forma como estava, Igraine corou e se apressou a pegar a regata sobre o sofá colocando-a á frente de si. Nisso, Cruello a puxou para seu colo.
- Nyah! O que..o que...
Ele a beijou com vontade, mas rapidamente ela se desvencilhou e lhe deu um tapa no rosto. Não foi forte, tampouco deixaria marcas, pois mesmo coberta de raiva, ela não tinha coragem de machucá-lo. Mas foi o suficiente para Cruello empurrá-la para longe de si indignado.
- Qual é o teu problema?!
- ..e-eu...
- Mas que diabos! O que está havendo com você?
- Comigo?! É tudo culpa sua!
- Minha culpa?! Eu não estou fazendo nada que você não queira!
- Você..você...estava me agarrando!
- Você retribuiu! Eu sei que você me quer Igraine! Eu também te quero, vamos acabar com essa enrolação de uma vez!
- AS COISAS NÃO SÃO DESSE JEITO! - gritou ela. - Eu não quero que você me toque mais!
- Mas até agora há pouco você...
- Eu não estava em são consciência! Havia acabado de acordar e achei que era um sonho como da outra vez!
- ...ui...costuma ter sonhos eróticos comigo, ordinária?
- Isso não é piada! Porque você nunca leva a sério as coisas exceto quando são suas?! E eu como fico?!
- Você está muito estressada, isso é falta de sexo! Vamos dar um jeito!
- NÃO É ASSIM QUE AS COISAS FUNCIONAM! Eu gosto de você e não é justo que...
- Todos gostam de mim, lógico que você não seria uma excessão.
- Seu...seu...canalha!! Insensúvel! Insuportável!
- Ae, pode ir parando de me ofender! - rosnou Cruello ao perceber que as preliminares haviam acabado. - Diz logo o que está querendo comigo! Não sou vidente e sou um homem muito ocupado e requisitado! Não tenho tempo para ficar decifrando suas meras crises! O que você quer, afinal? Vamos, fala!
Ele já havia se colocado de pé, ambas mãos na cintura. Igraine tinha que admitir que era uma bela visão e como gostaria que ele fosse seu como estava sendo minutos atrás mas...durante a noite ele pertencera á outra pessoa.
Aquilo era demais para suportar.
- ...vai embora, Cruello. Me esqueça!
- Não sem respostas. É impossível que uma mulher, ainda mais uma mulher como você, não queira me ter ao seu lado! É algo que não faz sentido!
- Seu...seu....absurdo! Metido! Como pode se achar tão especial assim?!
- Bem... - ele riu. - A votação é quase sempre unânime...
- Então vai lá! Fique com seu bando de bajuladores! Com seus contatos do facebook que curtem suas fotos! Com aquela enchente de mulheres e homens afeminados te querendo! Com o bando de puxa-sacos da sua empresa! Com..com mulheres fáceis que passam á noite na sua cama e ficam atendendo o seu celular enquanto você está tomando banho!
- Está com ciúmes?
- E-eu...eu não estou com ciúmes! Estou é revoltada com a sua atitude! Você é um canalha! Como pode fazer isso comigo?! Você não tem caráter? Me iludindo assim e me traindo logo em seguida?
- ...do que está falando?
- Não se faça de inocente, seu cínico! Não adianta mentir! Eu descobri, tá? Eu não quero ser apenas uma garota tola e comum que você vai usar e jogar fora! Isso não é justo! Eu tenho sonhos e sentimentos! Quem era aquela vadia que estava na sua casa ontem?!
- Era... mas o que diabos você está querendo saber da minha vida, garota? Que te importa com quem eu estou ou deixo de estar? Além do mais você nem sabe o que eu estava fazen...
- ENTÃO É ISSO?! Você realmente tem outra?! Quantas mais? Por que?
Cruello desviou á tempo da almofada que Igraine lançara em sua direção.
- Ficou maluca sua..ei!
Igraine lançara uma cesta que estava sob a mesa.
- Posso saber o ...
A segunda almofada por pouco não atingiu seu rosto e, por instinto, Cruello a pegou e lançou sobre Igraine.
- O que pensa que está querendo fazer me jogando coisas?!
- Não é óbvio seu canalha?! - rosnou ela pegando a cesta de revistas e lançando uma revista por vez. - Quero acabar com a sua cara!
- Vai sonhando sua maluca! Demente! Não ouse prejudicar o meu rosto! É um bem muito valioso!
- Aaaah como eu odeio sua soberba! Canalha, cachorro! Vadio! Cafajeste! Bicha enrustida!
- Eeeeepa!!!! Fala direito comigo que não sou seus ativistas, não!
A cada revista lançada por Igraine, Cruello rebatia com a almofada. Ele só precisou agir quando ela, ao ver que não tinha mais revistas e nem a cesta para lançar, pegou um vaso que estava sobre o aparador. Cruello lançou a almofada contra Igraine, que revidou jogando o vaso. Assim que este se espatifou no chão, Cruello em posse de um porta-cds e um livro, começou o contra-ataque.
- Está lançando coisas sobre mim?! Isso é agressão contra a mulher!!! Seu..seu...machista!
- Você que começou a me agredir, só estou me defendendo!
- Eu tenho nojo de você! - gritou Igraine ao lançar a última almofada que tinha perto de si. - Passa a noite toda com outra e depois aparece aqui parecendo me desejar por gostar de mim! Como pode ter tamanha coragem e falta de caráter de fazer isso?! Nós estamos juntos e...
- Ei, ei ei!! Podem ir calando a boca! Quem você acha que é para ficar querendo que eu lhe dê satisfações da minha vida pessoal?
- ...mas..mas eu,,eu gosto de você...
- Nós estamos ficando, não temos qualquer compromisso sério e você já vem querendo monitorar minha vida? Ainda mais agindo como uma mulher surtada e ciumenta? Ficou maluca?
- Eu...eu...pensei que...
- Pensou errado! Exigindo um monte de coisa para mim? Eu sou um homem livre, faço o que eu quiser, não tenho que ficar dando satisfações e sendo acusado de absurdos! Você é uma chata! EU NÃO TENHO QUALQUER COMPROMISSO COM VOCÊ E NEM QUERO TER!
Silêncio. Aquelas palavras e a forma como ele a encarou fizeram a raiva de Igraine desaparecer. Ela sentia como se uma faca fosse fincada em seu coração. Aquilo doía mais do que poderia acreditar. Sentiu as lágrimas invadirem seus olhos e baixou a cabeça.
- Pra mim já chega! Cansei de você e sua atitudes infantis! Nunca sei o que você está querendo ou pensando e toda essa brincadeira já deu!
Cruello colocou-se de pé e vestiu a camisa que havia jogado em um canto.
- Tome aqui seus exames que foram parar na minha casa. - resmungou ele jogando o envelope no sofá. - Não sei porque me dei ao trabalho de vir aqui. Até um dia, Igraine.
Cruello já estava com a jaqueta em mãos quando olhou-a uma última vez.
Ela chorava. Em silêncio, com uma das mãos sobre o peito, ela lutava consigo mesmo para segurar as lágrimas, mas era em vão. Seus olhos se encontraram e ela abaixou a cabeça, triste e envergonhada.
Igraine caiu em prantos ao ouvir a porta ser fechada com força.

"Porque eu tive que gostar de você? Eu sou uma idiota! Uma idiota! Maldito Cruello! "

Sentada no tapete, ela chorou, debruçada no sofá. O vira-latas Furacão se aproximou da dona receoso, e a tocou com o focinho.
Ela encarou o cachorro, que a fitava com os grandes olhos pretos preocupados.
- Eu sou uma tola Furacão... - ela murmurou. - Me deixei apaixonar por um homem daqueles. Fui uma tonta iludida por pensar que ele gostaria de mim...quem iria querer ficar com uma mulher boba e simplória como eu? Nunca que Cruello Devil iria gostar!
O cachorro ganiu baixinho, preocupado.
- Me deixei sozinha...eu vou ficar bem...eu tenho...de ficar...afinal...o que uma garota boba como eu posso querer exigir algo de Cruello Devil?
Furacão obervou a dona sem compreender. Foi até um cestinha e voltou com uma bolinha de borracha na boca. Ele começou a fazer graça com o objeto, saltitando para lá e pra cá e abanando a cauda á fim de diminuir a tristeza da dona.
Mas isso fez apenas Igraine aumentar o choro.

" Eu sou tão patética! Chorando por um homem que sequer tem alguma consideração por mim! Que me enganou, que me fez ser tonta o suficiente para me iludir acreditando viver um conto de fadas mais tonto ainda! Sou tão estúpida que até meu cachorro está tentando me consolar! Bem feito sua boba! Aprenda de uma vez que ele nunca iria querer ter algo sério com você! Só queria pegar para passar o tempo! E eu quase cedi...eu quase cedi porque...não, não! Só tem um homem que eu vou gostar pelo resto da minha vida! E NÃO SERÁ VOCÊ, Cruello!"

The Cruel BeautyOnde histórias criam vida. Descubra agora