Eu entro na cabana e fecho a porta com força atrás de mim. A raiva está consumindo minha cabeça, fazendo-a doer pulsivamente. Eu levo os dedos as têmporas e massageio em movimentos circulares enquanto me sento em uma cadeira velha. Porque tudo tem que ser tão devastador em minha vida? Cada passo que dou, cada erro que eu cometo me atingem tao bruscamente que me sinto totalmente sem defesas.
Eu respiro profundamente tentando fazer as lágrimas nao saltarem de meus olhos. Eu tinha que ter aberto a minha boca grande para falar aquela merda, eu tinha. Ah como eu me odeio! Será que eu nunca vou aprender?Ela não gosta de mim, simplesmente isso.
O vento lá fora começa a soprar forte, como se fosse uma manifestação da minha raiva, ele uiva com furor fazendo as folhas das árvores ao redor da cabana assobiarem.
Nao tenho medo de ficar sozinho nessa cabana de madeira, eu sei que todos no acampamento tem companhia agora, mas a solidão as vezes é necessária. Todos estão com seus amigos rindo, brincando, fazendo algazarra. Eu só tive o azar de não ter mais cama em outras cabanas, penso.
A chuva lá fora se mistura com a escuridão, escondendo as estrelas. Eu suspiro e levanto-me para fechar as janelas que batem com o vendaval. Assim como eu, o céu está entristecido, abatido,sinto uma mistura de raiva e tristeza que se mesclam com a vastidão da noite. Conectado, sinto-me íntimamente ligado a natureza hoje, por que eu sei que no fim das contas só ela me entende. Alguém bate na porta interrompendo meus devaneios, sao baques surdos e ligeiros, como se fossem de dedos pequenos. Eu viro o corpo cautelosamente e caminho devagar até ela, a cada passo meu uma tábua range, como um aviso. Suspiro, tomo coragem e abro a porta de supetão.
Marisa está frente a porta. Capuz na cabeça, maos aquecendo os braços e tremendo de frio. Molhada ela sorri para mim e pergunta:
-Posso entrar?- Ela questiona com um meio sorriso. Eu olho por cima de seu ombro para além das outras cabanas ao longe, nenhum dos monitores está nos vendo. Aceno com a cabeça lentamente dizendo que sim.
Ela entra e tira a jaqueta revelando seus braços brancos e euma camisa preta do Nirvana que ela usa por baixo. Eu avanço até a gaveta e tiro uma toalha limpa para ela.
-O que você quer?- Eu pergunto um pouco impaciente.
-Bem eu… Queria te pedir desculpas, e como você falou eu sou uma idiota mesmo-. Ela diz rindo. Um meio sorriso se desprende dos meus labios sem querer, ainda estou de costas, viro lentamente e entrego a toalha. A garota rapidamente se enxuga, começando pelo cabelo.
-Eu também não deveria ter te dito aquilo-. Eu digo com sinceridade. –Verdade é… que voce é a única pessoa que eu nao odeio completamente neste lugar-. Eu digo balançando a cabeça negativamente e olhando para baixo.
-Entao quer dizer que você gosta de mim?- Ela pergunta rapidamente, eu consigo ouvir o seus labios se abrindo em um sorriso. Eu levanto a cabeça assustado.
-Não, não, claro que não!- Eu viro de costas novamente e sigo com o dedo indicador uma gota de água que desliza pela vidro da janela. –Quero dizer, somos amigos não somos?- Eu questiono agradecendo a Deus a chuva que está encobrindo o barulho acelerado do meu coração.
-Ah! sim, somos-. Ela responde de forma monótoma.
Eu me viro de frente para ela para encara-la e fingir que essa situaçao é normal. É normal ter a menina mais linda do mundo sozinha com você, no seu quarto, numa noite de chuva, é normal.
-Eu sei que…- Ela começa a falar mais para imediatamente quando a luz apaga. Tudo se torna trevas. Nenhuma luz, apenas nós dois respirando forte.