Novas sensações

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Danny e Oliver passavam horas a fio conversando enquanto o menino aprendia noções de jardinagem. Durante uma dessas conversas, Danny foi surpreendido por uma pergunta do velho jardineiro.

- Há quanto tempo você e aquela garota bonitinha, que antes vivia por aqui, estão juntos?

Danny encarou o jardineiro, que permanecia com os olhos fixos nas mudas que estava aguando, e sentiu o rosto corar.

- Juntos? Luísa e eu? Não... Nós somos apenas bons amigos. Oliver pareceu não ouvir o menino e prosseguiu.

- Sabe Danny, quando tinha a sua idade, também tinha uma namorada. Nós também éramos muito amigos. É uma pena que a vida tenha nos separado. Gostaria muito de ter me casado com ela.

Danny analisou por algum instante o semblante nostálgico do jardineiro.

- E por que não se casou?

O jardineiro permaneceu em silêncio por um tempo.

- Sabe, Danielzinho, fui um idiota. Deixei que ela fosse embora por uma besteira, ou melhor, eu fui embora por uma besteira. Acredite, me arrependo amargamente disso até hoje.

- E por que não vai atrás dela?

- Já não dá mais tempo, meu menino.

O jardineiro encarou Danny com um olhar muito terno.

- Sabe, – Disse Oliver. – você se parece demais com seu pai, mas olhando você assim, de perto, dá para encontrar alguns dos belos traços de sua avó. – Os olhos do velho jardineiro estavam marejados - Sorte que se parece com seu pai apenas por fora e ainda bem que, assim como sua mãe, você também herdou a alma de artista de sua avó.

Ao dizer isso, Oliver pareceu despertar levemente de suas lembranças e saiu cabisbaixo em direção à sua pequena casa aos fundos do jardim. Danny não o seguiu e também não o procurou no dia seguinte, porém passou um bom tempo revirando caixas cheias de coisas antigas que sua mãe guardava no sótão.

Naquela tarde, encontrou inúmeras fotos, a maioria delas já amareladas e amassadas. As imagens mostravam campos lotados de pessoas que faziam piquenique, turmas de amigos que posavam alegres para um retratista qualquer, mas uma em especial chamou a atenção de Danny. Nela estava um casal ainda muito jovem - Pareciam ter a sua idade. – que sorria feliz e se olhavam nos olhos. O menino reconheceu imediatamente a cicatriz no rosto do rapaz e o anel na mão da sorridente mocinha: era o mesmo anel que sua mãe herdara de sua avó, pouco antes de sua morte e que hoje não saía de seu dedo, e aquela cicatriz era a mesma que há décadas habitava o rosto enrugado de John Oliver.

Agora, o pedido desesperado da avó antes de morrer fazia sentido. Provavelmente morrera amando o jardineiro que, até hoje mantinha sobre o aparador da sala um porta retratos com uma foto sua.

- Uau! Jardineiro persistente, não?

A expressão espantada de Luísa ao saber sobre o suposto romance secreto entre a avó de Danny e o jardineiro da família fez com que o menino parasse no meio da rua e quase fosse atropelado.

- Por que tanto espanto, Luísa?

- Que tal atravessarmos a rua primeiro? - Danny correu para a calçada do parque e seguiu em direção à sombra de seu salgueiro de estimação. – Não é espanto.

– Disse ela, já sentada à sob a árvore. – Mas imagine só, deve ter sido uma belíssima história de amor e pense no quanto eles devem ter sofrido, convivendo sempre na mesma casa, sem poderem ficar juntos de fato.

- Não deve ter sido nada fácil mesmo. Luísa levantou de repente.

- Parece que estou até vendo. – Ela disse como se interpretasse um texto para um teste teatral. – Os encontros às escondidas, as trocas de olhares pelos corredores, as juras de amor sob a luz da lua. Na propriedade da sua família na Inglaterra deve haver o nome deles gravado em alguma árvore, como os casais dos filmes fazem!

OBRIGADA PELO CHOCOLATEOnde histórias criam vida. Descubra agora