A janela aberta possibilita que o ar frio invada meus poros, e todo o quarto também, meus olhos estão fechados e a voz de Kurt Cobain entra pelos meus tímpanos, meus braços estão abertos, como se eu estivesse pronta para decolar.
Me pergunto o que se passava na cabeça de Kurt, ele estava cheio de mais ou vazio demais? Suas músicas dão a impressão de que existia um mundo, desconhecido até mesmo por ele, dentro do seu peito. Algumas pessoas acham que suas músicas não têm nenhum sentido, já outras acham que ele tinha tanta coisa para nos falar, para colocar para fora, que misturava tudo e formava uma bagunça nas letras. Eu faço parte dessas outras pessoas. Não acho que ele misturava tudo de propósito, para nós não entendermos, Kurt era assim. Ele tinha uma vida bagunçada e também era bagunçado. Cada verso está no local correto, exatamente onde deveria estar, resta ao seus ouvintes compreenderem as suas mensagens controvérsias. Acho que esse era exatamente o charme de Kurt, todas as pessoas ao seu redor, família, amigos e a mídia, achavam que sabia tudo sobre ele, mas estavam enganados.
O outro lado da minha cama afunda, um corpo se deita junto a mim e eu não preciso abrir meus olhos, ou me assustar, pois sei exatamente quem é. Seu cheiro amadeirado, misturado com seu chiclete de menta, entra pelas minhas narinas e me faz querer abraça-lo, roçar meu nariz em seu pescoço, e talvez, sentir seus lábios. Eu sabia que ele viria, sabia que o "Nos vemos mais tarde" significava alguma coisa. E eu estava certa, lá estava ele.
- Não sabia que gostava de Nirvana.
Sua voz em forma de sussurro corta o som da música, e soa tão mais áspera que o normal que me faz tremer.
- Eu amo o Kurt. - falo ainda de olhos fechados.
- Mais um item para a lista.
Franzo o cenho e abro os olhos para encara-lo
- Que lista?
- Das coisas menos estranhas em você. - Ele dá de ombros.
- Idiota. - murmuro enquanto soco seu braço.
É quase inevitável não sentir vontade de sorrir ao fitar suas órbitas verdes. Volto meu olhar para o teto, mesmo com a pintura gasta é possível ver as estrelas brancas coladas ali.
- Esse era o quarto da minha mãe - a frase simplesmente sai da minha boca como um suspiro, como se fosse normal.
Eu nunca falo sobre minha mãe com ninguém - nem sobre nada que aconteceu -, mas eu não me sinto estranha ao falar esse detalhe para Harry e isso me assusta.
- E onde ela está agora? - ele pergunta depois de alguns instantes.
Sua pergunta me abala, como se ele soubesse do meu passado, especificamente daquela noite. Mas não é possível, ele não sabe, e seus olhos o entregam, é apenas curiosidade ou talvez ele queira me desvendar, mas nem eu sou capaz de fazer isso. Minha garganta dói, como se um choro estivesse entalado nela, meu peito arde e as palavras imploram para sair, mas não posso deixar que elas saíam pois se eu o fizer, estarei derrubando as ruínas da minha alma novamente. E eu não quero que isso aconteça, de novo.
Por fim eu apenas murmuro:
- Em algum lugar.
E como se Kurt talvez quisesse retribuir todas as noites que passei acordada escutando In Útero, o som de On A Plain toca no meu pequeno som. E agora é Harry que se encontra com os olhos fechados. Faço o mesmo. Presto atenção em cada verso, mesmo que já o tenha feito outras vezes, tento desvendar o que todas aquelas expressões significam, até o último refrão ser tocado.
Mais uma mensagem especial antes de ir
E depois terei terminado e poderei ir para casa
Amo a mim mesmo mais do que você
Sei que está errado, então o que devo fazer?
Estou em um avião
Não posso reclamar
Estou em um avião
Não posso reclamar
Estou em um avião
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Hey, Angel [hs]
Teen FictionÁs vezes, a alegria é descoberta nos lugares mais sombrios, e o amor também. Angel e Harry vão encontrar o improvável, o impossível, o que eles nem achavam que fosse possível de encontrar. Os olhos verdes dele despertarão nela a esperança, e o sorr...