Nova era - Cap.29

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Naquela tarde o Dr. Demétrio mostrou o garotinho já todo formado para a menina. Ela queria muito que Rico pudesse entrar e ver o filho se mexendo e remexendo dentro dela. Quando a menina cogitou a possibilidade dele ir à casa da árvore para auxiliá-la no parto, o jovem senhor sorriu amável.

-E quem vai dizer não ao Curupira?

Ela sorriu pensando que a fama do marido era mesmo de arrepiar. Mas o médico não pareceu aborrecido, apenas pediu que ele mantivesse algumas coisas na casa para uma emergência.

-Emergência?

-Sim. Algumas crianças podem adiantar o nascimento, então peça para ele ter todas essas coisas em abundância e tudo correrá bem.

Clara olhou a lista do médico e concordou. Estava quase lá. Em pouco tempo veria o rostinho do seu reizinho e então teria outras preocupações, mas por enquanto ela estava apreensiva com a dor do parto. Todo mundo dizia que era muito forte.

-Vai doer muito?

O médico riu e foi honesto.

-Muito. Não usamos anestesias em parto natural e sem problemas, apenas em casos extremos. Nossos apadrinhadores agradecem.

Ela sorriu amarela e ele terminou a consulta.

Mais tarde na república Clara ficou pensando sobre o quão doido ia ser colocar o filho pra fora. Ela já tinha visto alguns filmes, mas as cem por cento humanas tinham recursos que os animistas dispensavam. A menina pensou que seria muito bom poder usufruir de algumas dessas coisas evoluídas que tiravam a dor, como a anestesia por exemplo.

Na hora do café da tarde Rico apareceu e perguntou pra ela sobre a visita ao médico.

-Foi boa.

Ele a olhou com receio.

-Está tudo bem com Lekan?

-Sim.

-Parece nervosa.

Os outros garotos também acharam isso, mas respeitaram o silêncio dela. Agora que sabiam que ela tinha ido ao médico ficaram preocupados. O menino falcão a incentivou falar.

-Somos todos seus irmãos aqui. O que está te incomodando?

Joshua chegou próximo da grande mesa e Luara estava com ele. Ela cumprimentou o irmão um pouco receosa e ele apenas mexeu a cabeça de volta.

O mito não estava familiarizado com essa nova irmã, independente e feliz longe dele e da Quimera. Voltou sua atenção à esposa.

-É que nunca tinha pensado no momento do parto e doutor Demétrio disse que vai doer muito.

-Doer?

Rico ficou agitado. E os rapazes riram do casal. Finn era um dos mais velhos e falou descontraído.

-Em que mundo vocês vivem? Nunca viram uma mulher dar a luz?

O Curupira respondeu primeiro.

-Não. Os lendários da minha espécie só conhecem seus filhos aos cinco anos de idade. E meu contato com o mundo humano foi bastante restrito como sabem. Como ia adivinhar que o processo era doloroso?

-Eu já assisti em filmes e tudo o mais...Só que eu vi Lekan hoje, ele está grande e ainda vai crescer mais...como vou conseguir?

-Viu Lekan? Consegue ver como ele é?

-Sim. A imagem não é tão nítida, mas ele está todo perfeitinho.

O mito sorriu imaginando e foi bem nesse momento que Joshua e todos os outros tiveram a certeza que o instinto paternal tinha chegado para Rico. Era nítido pela forma que sua expressão se suavizou e pela maneira que olhou para Clara.

O CURUPIRAOnde histórias criam vida. Descubra agora