Conhece a dor da perda? Eu não só conheço como estou no primeiro estágio a tão falada e temida "negação".
Fumo meu cigarro enquanto encaro a fotografia da única pessoa que realmente importava para mim, aquele que foi tirada de mim, por uma maldita doença que o destruiu de dentro pra fora.
Respiro fundo antes de deixar a fotografia cair no chão e apagar o cigarro.
Me afundo na banheira, deixando os meus pensamentos me levarem ao dia da morte da minha mãe.
Era outono quando aconteceu uma das maiores tragédias que já presenciei, minha mãe pressa em uma cama dura de hospital, com um longo cano presso a sua boca, e agulhas perfurando sua pele, a mesma pele que a uma hora atrás estava em volta de uma possa de sangue, o seu próprio sangue, mamãe estava inconsciente, sua pele cada vez mais azul, o que me fez lembro da vez em que mamãe brigou comigo por ter pisado na lata de tinta azul e ter deixando a impressão dos meus pezinhos no carpete da sala, tivemos sorte do homem mau não ter voltado para casa aquele dia.
Estava fazendo carinho no rosto inchado e machucado da mamãe quando escuto passos de pessoas no corredor do quarto da mamãe, me escondo atrás da porta quando vejo a sombra por de baixo da porta. Pode ser o homem mau, não quero que ele machuque mais a mamãe, dou um sobressalto quando a porta se abre e uma mulher alta entra acompanhada por outra baixinha e loira.
- aqui está ela... - murmura a mulher alta.
- cadê a criança senhorita Lirit? - pergunta a baixinha com um tom de voz frio e calculista.
- ela... ela estava aqui senhora, eu juro, ela...
- basta - retruca a baixinha - está criança passou por algo horrível, a senhorita e seus colegas deveriam saber a ela pensaria em fugir, ela está assustada, apavorada, não deveriam deixa lá aqui com a mãe sozinha.
- eu sinto muito senhora...
- não quero desculpas, quero que encontre a criança e a entregue para mim.
- sim senhora.
O que está mulher quer comigo?
- ela vai voltar... vai voltar por ela - murmura a baixinha apontando para mamãe.
Saio às escondidas do quarto e corro até a saída, me escondendo de todos que usavam roupas brancas ou azuis claras, não quero que eles me levem para aquela mulher, atravesso a rua é me escondo atrás de uma árvore.
Me sento lá e tento acalmar meu coração, que parece querer sair do meu peito.
É quando eu o vejo pela primeira vez, em meio as folhas secas caindo ao seu redor, ele estava incrivelmente horrível com aquele sobretudo laranja, faço uma cara feia para ele, com a intenção de fazer- ló parar de me encarar. Me surpreendo quando ele abra um sorrisão revelando a falta de um dos seus dentinhos, ele caminha em minha direção, me fazendo encolher.
- oi - murmura, não respondo, o que o faz sentar ao meu lado.
- meu nome é Paul, e o seu?
- Maia.
- é um lindo nome Maia - observo enquanto ele meche em um tipo de caixinha preta com detalhe branco.
- sabe o que é isso Maia?
- não.
- isso é uma máquina fotográfica, ela tira fotos sabe, usamos para guardar momentos únicos pelos quais queremos lembrar pra sempre, eu costumo olhar para essas fotos quando estou triste, elas me ajudam a ficar feliz.
- como? - será que com isso eu poderia guardar meus momentos com a mamãe, e faze lá feliz?
- assim olha - Paul passa um dos bracinhos curtos pelo meu pescoço deixando nossas bochechas grudadas uma na outra, e estica o outro bracinho na nossa frente com a maquina em sua mão. Tudo que escuto é um click e um pedaço de papel saindo de dentro da máquina - agora é só esperar a imagem aparecer.
Ele é louco, é impossível isso acontecer... não acredito, abro a boca ao ver o pedaço de papel ganhando cores.
- viu? Isso se chama fotografia - diz Paul me entregando a tal "fotografia".
Enquanto observo o papel em branco criando vida, e revelando uma menininha de olhos mel e cabelos bagunçados ao seu lado um menininho com o cabelo bem penteado e olhos verdes, sorrio com a mágica que essa caixinha pode fazer, e Paul aproveita para tira outra foto minha.
- PAUL - chama uma mulher acariciando seu barrigão de grávida.
- é a minha mamãe, tenho que ir Maia, mas gostaria de levar a sua foto se for possível? - concordo com a cabeça o que o faz abrir um sorrisão - obrigado Maia, aqui... fica com a minha máquina, assim não se esquecerá de mim.
- obrigada Paul.
- de nada Maia... e Maia, gostei muito de você - gostou de mim? Por que? - até mais.
- até - sussurro.
Entrei correndo até o quarto de hospital em que minha mamãe estava, queria mostrar para ela o que eu ganhei. Mas isso jamais aconteceria, era tarde de mais para ela, para nós.
Encontro meu tio no corredor com os olhos vermelhos segurando uma das mãozinhas da minha prima, ele está conversando com a mulher baixinha, e quando me vê cai de joelhos no chão e me chama para um abraço apertado.
Preciso de ar, mas não quero mais respirar, não quero mais viver nesse mundo egoísta e mesquinho, Paul costumava dizer que eu tornava esse mundo um lugar melhor, mas ele levou essa parte de mim junto com ele, e agora sou tem podre quanto as pessoas que nele vive.
Após um tempo de baixo da água começo e reparar nos meus batimentos cardíacos, a adrenalina se espalhando por minhas veias, e o som suave da água, não aguento mais, mas não posso levantar, não faz sentido, é como se eu já estivesse morta, mas meu corpo ainda está aqui. A uma parte de mim, uma bem pequena que ainda quer lutar contra tudo isso, mas não tenho mais minha âncora, ele se foi e eu vou com ele.
- Maia abra essa porta agora - mesmo dentro água posso ouvir a voz enjoada da minha prima - abra agora ou eu vou contar pro meu pai - perfeito só mais uns minutos e me livro de toda essa merda, mas quando fecho os meus olhos posso ver o rosto triste de Paul, posso até senti lo me abraçando, sentir seu perfume.
Me levanto de presa jogando metade da água pra fora.
Não consigo fazer isso, algo me prende, ele me prendeu aqui, estou fardada a viver nesse mundo sem Paul.
Me levanto, e continuo ignorando os gritos estéricos de Melina, olho no espelho e não reconheço a pessoa que está refletida nele, pele branca de mais, olhos fundos cheios de olheira, graças as noites de insônia, mas não é isso que me apavora, e sim Paul atrás de mim, eu o vejo mas sei que não está ali, ou será que está? Estou ficando maluca.
Me cubro com a toalha, e abro a porta do banheiro, passo pela minha prima que insiste em demostrar a sua frustração, continuo a ignorando e caminho em direção ao meu quarto, deito na cama e sinto meu corpo dolorido, pesando sobre o colchão, sinto minha respiração irregular, e meus olhos pesados implorando por descanso, mas tenho medo de fecha lós...
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Segunda Chance
RandomMaia é uma garota cheia de vida mas ao perder a pessoa mais importante para ela, sua vida vira de cabeça para baixo, ela se vê obrigada a encarar os problemas do passado e a dor do luto. Agora Maia tem uma segunda chance, será que ela irá fazer as...