Meus olhos se abriram pesadamente, minha visão estava turva , embaçada por alguma coisa que havia em meus olhos. Algo liquido e pegajoso, passei as mãos pelo meu corpo e percebi que estava encharcado por aquilo. O cheiro era horrível , algo rançoso e pútrido impregnava todo o lugar. Não conseguia ver nada , o lugar era escuro. Eu não fazia ideia de onde estaria , o desespero tomou conta de mim. Eu queria gritar , mas não pude , quando tentava minha garganta doía horrores, e quando engolia saliva, parecia estar engolindo vidro. Aos poucos tateei a parede atrás de mim em busca de algo para me dar apoio. Mas a parede era lisa e escorregadia, assim como o chão e tudo ali. Engatinhando comecei percorrer o local as cegas. E tudo se resumia a quatro paredes sem nenhuma saída. Minha cabeça doía muito, em ponto bem acima do meu olho esquerdo. Eu não me lembrava de nada, nem porque estaria naquele lugar tão estranho. Sabia que me chamava Teodoro, que tinha 15 anos, que tinha uma família, que tinha uma casa , um quarto, que era uma pessoa normal. Mas aquilo ali não era algo normal. Será que eu merecia estar ali ? O que será que teria feito para fazerem isso comigo? Quem poderia ter feito aquilo comigo? Minha cabeça ia explodir de tanta duvidas e perguntas. Depois de horas ali , comecei a perder as esperanças, que tinha sido deixado ali para morrer. A fome já estava me invadindo com uma dor terrível. Estava fraco, e com sede. Então me entreguei a todo aquele pesadelo, fechei meus olhos e pedi pra que aquilo acabasse logo, queria morrer de uma vez. Se tivesse uma arma não pensaria duas vezes atiraria em minha cabeça. Mas eu não tinha, teria que aguentar a dor , a fome , o medo até a morte chegar. Meus pensamentos se perderam , o silencio naquele lugar era como uma canção de ninar para a morte. Já estava caindo em um abismo de sono em que eu sabia que não iria mas acordar, quando algo aconteceu.
O lugar se mexeu. Para baixo, rapidamente , e um barulho de algo sendo arrastado perfurou o ar, me tirando daquele transe. Abri meus olhos, mas não conseguia ver nada, estava muito fraco para mover a cabeça e procurar por algo. Então continuei olhando para frente e para baixo. E de repente o chão clareou como uma lâmpada fluorescente. A luz doeu em meus olhos , então fechei-os . Mas continuava doendo impedindo de abri-los. De pouquinho fui acostumando-os, ate abrir um lado dos olhos de leve , e percebi que não só o chão estava claro. As paredes e o teto também estavam. Olhei vagamente procurando focar minha visão em algo, tentando entender o que estava acontecendo. E percebi que tudo se tratava de vidro. Era uma caixa de vidro. Estava erguida em algum local acima. E lá embaixo coisas se moviam.Pessoas? Talvez. Sim pessoas sem duvidas. Quando minha visão ao normal, pude enxergar coisas horríveis. Pessoas andavam de um lado para o outro. Eram muitas , mas não eram pessoas normais. Eram criaturas horríveis que perambulavam feitos zumbis olhavam para o alto e estendiam os bracos.. Seus olhos estavam arregalados, abriam as bocas como se estivessem com fome. Estavam ensanguentadas. O mas estranho era que eles estavam de roupas, como se algum dia já tivessem sido pessoas. Era a criatura mas horrível que eu já tinha visto em minha vida. O que estava acontecendo?, só podia ser um sonho. Ou melhor um pesadelo. Eu estava coberto por uma gosma verde. Olhei para os lados e vi outra coisa que me deixou mas abalado ainda. Eu não estava sozinho. Para todos os lados que se olhava , dezenas de caixas parecidas com a minha estavam enfileiradas, erguidas por alguma espécie de guindaste. Homens e mulheres se encontravam nelas. Alguns gritavam , ou pelo menos tentavam. A caixa a minha direita continha uma menino pequeno que pela tamanho parecia ter uns 5 anos. Meus olhos se encheram de lagrimas ao perceber que ele estava deitado, não se mexia, seu peito não se mexia, ele não mas respirava. Não tinha aguentado. Quem poderia ter feito aquilo? Porque ? Era cruel demais para ser verdade.
As caixas começaram a se mover para a direita em linha reta. Apanhei todas as forças que me restavam e tentei me sentar. E continuei observando. Minha barriga doía de tanta fome, meus dentes batiam uns nos outros de medo e pavor. A frente as caixas sumiam em alguma coisa preta que não dava pra identificar. As criaturas abaixo seguiam as caixas correndo abrindo as bocas grunhindo algo que dali de dentro eu não conseguia ouvir. E finalmente a minha caixa se aproximou da coisa preta. E sumiu na escuridão. Continuava se mexendo para algum lugar , até parar de vez. De algum lugar uma voz feminina e suave pairou no ar:
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Querida Darling
Science FictionApós acordar sem memória em uma caixa de vidro Teodoro se encontra em uma cidade de vidro chamada Darling. Em buscas de respostas Téo se envolve em várias situações com os moradores que estão presos na cidade de vidro. Lá fora o caos estar instalado...